Capítulo 2

28 3 0
                                    

  Mais uma semana se passou. E decidi voltar a descer ao jardim.. levando comigo água, comida e um livro para ler, um caderno para anotar..
  Desci a colina, que agora parecia maior, porém mais fácil de descer.. e o jardim continuava belo, ao balançar dos ventos.. Me sentei no pomar, e comecei a ler.. sentia que tinha alguém me olhando. Ao me virar, pude ver, na janela, olhos azuis.. que me olharam rápido, e saíram.
  Sorri. Finalmente tinha algo a pensar sobre aquele jardineiro secreto.. olhos azuis.. belos olhos.. antes de me despedir escrevi, agradecendo por cultivar tão bem as flores daquele jardim, e coloquei o papel por debaixo da porta, que foi puxado para dentro..
Dias depois, resolvi voltar no jardim, com as mesmas coisas que levei antes.. e estava cada vez mais fácil de chegar, e um pouco mais difícil de ir em bora.. quando cheguei ao jardim pude ver novamente aqueles olhos azuis, sobre a janela.. e agora, o rapaz se posicionava sobre a porta, e me olhava sério, e apenas isso, me olhava.. ignorei. Não conseguia falar, e ele também não havia dito uma única palavra.
  Horas depois me levantei, querendo ir para casa. Foi quando ouvi a voz do rapaz.

- Voltará amanhã? - me perguntou.
- Desejas que eu volte? - respondi, sorrindo.
- Olho para este pomar todos os dias.. mas você eu nunca tinha visto.. e ainda não pude admira-la com detalhes.. - respondeu, ainda me encarando sério.

  Sorri.

- Então, voltarei, sim. - E me retirei, sem mais e nem menos.

  No dia seguinte pude perceber que a chaminé estava com as nuvens mais fracas.. mas ignorei. Continuei descendo a colina, para encontrar o belo jardineiro. Quando cheguei bati a porta, e ele abriu.
  Pude ver de relance sua pequena casa, uma cama, uma escrivaninha e uma margarida.. em sua janela. Não trocamos palavras, apenas singelos sorrisos. Me sentei novamente ao pomar, mas dessa vez ele me acompanhou, e apenas me olhava. Foi quando decidi perguntar.

- Quando cuidas destas flores? Não te vejo aqui de dia..
- Ao dia, cuido da minha margarida. E as noites, cuido de meu jardim..
- Sua margarida?
- Sim.
- Qual margarida? Não vi nenhuma nesse jardim..
- É porque ela é única. Existe apenas uma como ela, e eu a cultivei, por ser única, eu a amo, acima do amor que sinto pelas flores do jardim..

Eu ri. Achei graça de alguém amar uma flor, e o perguntei.

- Como pode alguém, amar uma flor?
- Determinada flor é, em primeiro lugar, uma renúncia a todas as outras flores. E, no entanto, só com esta condição é bela..

E então pude entender, aquela margarida era seu tesouro sagrado, escondido do jardim. E então me recordei do que falará, achei graça ao lembrar de outro filósofo.. que disse

"A noite abre as flores em segredo e deixa que o dia receba os agradecimentos"

  Continuamos ali, apenas sentados, continuei lendo meu livro. O Pequeno Príncipe. E ele continuava me olhando, até que decidi ir para casa..

O Jardim FloridoOnde histórias criam vida. Descubra agora