Verde vivo e azul céu

Deus está morto e a vida imita a arte

N/A: Essa história é um pouco diferente do que eu costumo escrever, mas explorar um lado mais subjetivo da escrita me agradou bastante. Por ser uma songfic, cada capítulo tem uma música que conta um trecho da história. A música do capítulo é "Gods and monsters" da Lana Del Rey.

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Em uma terra de deuses e monstros

Eu era um anjo

Vivendo no jardim do mal

Castiel havia caído. Não uma simples queda. As portas do paraíso haviam se aberto e fora jogado de lá. Asas arrancadas. Deixado somente com a mais completa desesperança.

Fechou os olhos e bebericou o café amargo e quente. De repente, ele não tinha ninguém, não tinha nada. Precisava de mais açúcar, mas ignorou esse fato. Poucas coisas naquele momento eram boas e haviam muito menos coisas que fossem melhores que o verde dos olhos de Dean.

Ferrada, assustada
Fazendo qualquer coisa que eu precisasse
Brilhando como um farol ardente

O que Dean acharia daquilo quando descobrisse? Era tolo de sua parte querer que o Winchester iluminasse seus dias mais sombrios? Ele não tinha certeza. As suas maiores verdades haviam desaparecido. Mas lá estava, o mesmo carro, o mesmo sorriso e a mesma dor no olhar. Era dele, mesmo que não soubessem ainda.

Então Castiel ainda cultivaria um último suspiro de fé.

Você tem aquele remédio que eu preciso
Fama, licor, amor
Me dê isto devagar
Envolva suas mãos na minha cintura
Envolva suavemente
Eu e Deus, nós não nos damos bem

Até que finalmente aconteceu. No carro, o ar parecia mais quente, inebriante. Era devagar, lento. E as mãos de Dean finalmente seguravam sua cintura, o melhor remédio para todas as suas dores.

Talvez cair não fosse tão ruim. Talvez pudesse aposentar suas asas por mais daquilo. Os lábios de seu amado seriam os únicos dignos de sua devoção.

Que se foda, sim, me dê isso
Isso é o paraíso
O que eu realmente quero
É a inocência perdida

Cas se lembra como conheceu o paraíso: verde. Nu. Puro. Completo. Só ele e Dean, na mesma cama, com os dedos entrelaçados e a chuva caindo lá fora, igual ao dia em que se beijaram pela primeira vez. Aquilo era certo, ele tinha certeza.

E era suficiente, não era?

Em uma terra de deuses e monstros
Eu era um anjo
Querendo ser fodida com força

Em nenhum momento Castiel pergunta, ou questiona. Tem tudo que precisa ali, não tem? De que importa se quando saem na rua suas mãos não podem se tocar, não porque tem alguém olhando torto, mas porque Dean prefere assim. Está tudo bem, não está? Ele tem O loiro ali, tão na sua cama quanto em sua vida.

Tem as mãos do Winchester o segurando com força, as respirações se misturando. "Quem precisa de asas?". Ele tem isso.

Como uma fã anônima fingindo
Ser uma cantora de verdade
A vida imita a arte

"Aonde você vai?" Cas finalmente pergunta, mas a resposta não é a que ele quer ouvir. A vida imita a arte. Amara é uma deusa, então Castiel está em segundo plano de novo. Mas ele é um anjo, ele aguenta, tudo por seu protegido. Ele sabe que Dean é o melhor dentre todos.

É só uma farsa, só por um tempo. Se colocar aquela música alto o suficiente, consegue misturar sua voz com a dela, e com a dele. Então não precisa pensar em algo para falar quando o caçador volta em silêncio.

Você tem aquele remédio que eu preciso
Narcótico, injete-o
Bem direto no coração, por favor
Eu não quero saber o que é bom para mim
Deus está morto, eu disse
Meu amor, por mim tudo bem

Passou. Castiel respira aliviado, até tudo se repetir. Amor, aquele remédio. Cura, envolve. Mais fundo dessa vez, até não sentir quando acontecer de volta. Não importa o que Dean fez, Castiel o tem ali.

O moreno não se importa, ele sabe que vai doer mais do que pode suportar se encarar a situação como ela é. Vale a pena, o Winchester vale a pena. É seu anjo, sabe que o caçador precisa dele. Ele precisa de Dean. Precisa de algo para se apoiar. As asas foram quebradas, cortadas e arrancadas a muito tempo, então, tudo é verde, ou tudo é cinza.

Ele escolhe verde. Sempre escolhe. Mesmo que por pouco tempo, porque a ampulheta está fazendo o tempo se esgotar.

Se eu ficar um pouco mais bonita

Posso ser sua amada?

Você me diz"A vida não é tão difícil"

Então Castiel percebe que, dessa vez, precisa ele mesmo se atirar do paraíso. A primeira vez doeu, mas, quando ele parou de contar, doeu bem mais.

"Se eu ficar, você segura a minha mão?" perguntou com a última esperança se estilhaçando. Não precisava ser tão difícil, não seria difícil ficar como foi partir. Quando o verde desviou o olhar para dar vida a outro mundo, ele teve que encarar o cinza. Estava na hora de mudar.