Hanahaki - Nezumi x Shion

Visitas (in)esperadas

- Nezumi, abra a joça dessa porta!

As pancadas ensurdecedoras faziam Nezumi se perguntar se eles não arrombariam a porta, mais cedo ou mais tarde. 

- Você acha que eu fui dura demais com ele da última vez? – soou a voz da garota, um pouco mais baixo, recebendo múrmuros em resposta. – Ah fale sério, é Nezumi! Ele normalmente aguenta.

Sussurros discordantes se seguiram e Rato, cansado do dramalhão, destrancou a fechadura.

- Mas o que é que foi agora?

Após o segundo de surpresa, Rikiga e Inukashi se aprumaram, e o mais alto deles pigarreou.

- Viemos ver o que você tinha. E não adianta dizer que não tem nada, porque alguma coisa está acontecendo.

Rato suspirou, ignorando a recente urgência de se sentar. Odiava a fadiga e tudo que vinha com ela: a dificuldade no trabalho, em voltar para casa a pé, até mesmo falar, em dias piores. Também odiava a coceira na garganta e, acima de tudo, odiava o fato de ter sacos e mais sacos de lixo lotados de pétalas de flores ensanguentadas.

Elas não acabavam nunca.

- Eu não estou tão bem assim – tentou, na expectativa de encurtar o diálogo – Mas vou melhorar. Não precisam se preocupar.

Rato sabia que não ia melhorar. Mas eles também não precisavam saber disso também.

Tentou fechar a porta, mas Inukashi segurou, avaliando-o cuidadosamente antes de perguntar.

- Então você está doente. Sabe o que é, exatamente?

Nezumi focou as unhas má cortadas, tentando arrancar uma cutícula que se sobressaía.

- Uhum.

- E?

Apesar de tudo, ele ainda era capaz de lançar seu clássico sorriso de escárnio.

- O que te faz pensar que eu te contaria?

- Seu estúpido! – disse ela, entrando como um furacão pela casa, os olhos procurando freneticamente por alguma pista.

Nezumi permaneceu encostado contra o batente, refletindo se havia deixado alguma. Em seguida, lançou um olhar de esgueira para Rikiga, que continha uma expressão perplexa: ele parecia quase... inconformado.

- Você é tão novo! Tem a idade de Shion. - Rato sentiu um arrepio na coluna ao escutar o nome – Como poderia ter algum problema de saúde? Ainda mais um que o deixasse magro dessa forma, com mais olheiras que minha mãe!

- Sempre cheio de elogios – murmurou Nezumi, dando de ombros e se desviando propositalmente do assunto.

Sabia que estava péssimo: bastava uma conferida no espelho para notar, mas não é como se realmente pudesse fazer alguma coisa quanto aquilo, e isso era o que mais o irava: a impotência em relação a enfermidade. Seu corpo havia decidido matá-lo de amor sem aviso prévio, deixando como única opção abdicar de todos aqueles sentimentos, para sempre, de forma natural – que havia se mostrado impossível – ou cirúrgica – algo que ele ainda não sabia se estava disposto a se submeter.

Sendo assim, ele continuava na mesma, tendo consciência de que, a cada novo dia, se encontrava um pouco pior do que no anterior.

- Planeta Terra chamando Nezumi?

O garoto piscou ao notar Inukashi em sua frente.

- Oi?

- Nós vamos te levar em um médico – respondeu Rikiga, por ela – O que quer que você tenha, acha que consegue lidar sozinho, mas está claramente errado.