Prefácio

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Natal, Brasil, setembro de 2015

Bati os saltos da sandália no linóleo da clínica. Nada de cor nas paredes. Quatro paredes pequenas e apertadas, com cheiro de desinfetante enjoativo. Puramente claustrofóbico. A secretária não conversava - na verdade, a única coisa que fazia é olhar diretamente para o monitor do computador.

Há um ano eu frequentava este local para ser analisada por um psiquiatra metido a besta. Eu não sou louca, ou muito menos desorientada, mas infelizmente era isso que meu pai pensava. Ele achava que eu precisava de tratamento para recuperar-me da morte de minha mãe, dois anos antes. De algum modo ele conseguia fazer com que eu viesse, mesmo sendo eu uma adulta já feita.

O doutor, oh meu Deus, o doutor é um pé no saco. Fazia o estilo galã latino, pretencioso e bosal. Lindo de morrer, tinha de admitir, nunca tendo aceitado meus convites para tomar um café ou sair para dançar. Depois de várias tentativas eu havia cansado, e a única coisa que fazia com que eu tivesse disposição para vir até aqui não existia mais. Não que o caso fosse paixão, somente uma aventura para meus dias tediosos.

Sendo sincera, Dr. Bennett era um caso meu antigo, dos tempos de faculdade. Ele caíra aos meus encantos durante alguns meses, entrentanto, sem motivo algum aparente, terminara comigo. Eu ainda guardava certo ressentimento.

Tive uma reação desgostosa ao saber que o doutor que me atenderia seria ele, até vê-lo e perceber como o tempo fora generoso com Bennett.

Seu rosto passara a ser mais anguloso, a barba por fazer moldava-lhe os lábios vermelhos e o queixo. Sua pele morena contrastava com seus olhos cor de esmeralda. O corpo ganhara músculos, mesmo que magros, e seus braços, tronco e pernas pareciam firmes e ótimos para se acariciar. Sua primeira impressão ao me ver após tantos anos deixara-me um tanto satisfeita - aparentava ter gostado do que via diante de seus olhos.

A secretária pediu para que eu entrasse. Levantei-me e caminhei pelo corredor, sem fazer cerimônia ao empurrar a porta da sala do doutor.

Senti seus olhos seguindo-me até meu local de costume, o divã. Dobrei as pernas e o encarei.

- Bom dia, Bennett.

- Bom dia - tentou disfarçar a olhada rápida nas minhas pernas expostas pelo vestido curto.

- Pare de olhar para minhas pernas, onde está seu profissionalismo?

- Acho que está imaginando coisas, Amanda. - Respondeu informalmente, lembrando-me de nossos dias de amizade na faculdade. Teoricamente, a ética seria não poder atender pacientes próximos a ele para que isso não influenciasse no diagnóstico, mas Bennett não pareceu se importar em assumir meu caso, omitindo o fato de que éramos velhos conhecidos. Ele sabia que eu não era uma louca.

- Não haja como se eu fosse louca - retruquei.

- Não é por isso que está aqui? - sua cabeça abaixou, rabiscando algo numa prancheta.

- Psiquiatras não podem chamar seus pacientes de loucos.

Bennett olhou-me rapidamente e suspirou, a caneta correndo pelo papel rapidamente e com proficiência.

- Você gasta dinheiro à toa nesta clínica.

- E você deveria passar meu caso para outro médico, mas não faz isso porque gosta de me ver.

Bennett cerrou os dentes e largou a prancheta em cima da mesa. Seus olhos iam do papel para mim, de mim para o papel.

Caminhei lentamente até seu birô e sentei no tampo de vidro, assutando-o.

- A senhorita não pode fazer isso - balbuciou. Senhorita. Tão formal.

Saltei da mesa e fui para as costas de sua cadeira giratória. Sabia que depois disso ele provavelmente passaria meu caso adiante, de qualquer maneira eu já tinha laudos bom demais para continuar com mais consultas nas semanas seguintes. Valia a pena arriscar uma última vez.

Comecei passando as unhas por seu pescoço, parando os dedos no colarinho de sua camisa. Prendi-os ali e puxei Bennett para mais perto de mim. Sua cabeça encostou em minha barriga, encaixando-se logo abaixo dos seios.

- Lembra quando nos divertimos no carro..? - sussurrei ao pé de seu ouvido.

Bennett estremeceu. Vi seus pelos se arrepiarem.

- Amanda, já chega. Solte-me, não pode fazer isso...

Devagar, abaixei a cabeça e mordi lentamente seu pescoço. Suas mãos foram de encontro aos meus punhos e o apertaram. Ao contrário do que eu pensei, ele me empurrou para longe.

- Chega! Vou passar seu caso para outro médico.

Bufei indignada. Cruzei os braços diante do peito, claramente insatisfeita com o resultado das minhas incisivas.

Bennett recompôs a expressão, levantou-se e caminho até a porta. Segui atrás dele em direção à saída. Para não perder a chance, passei a mão pelo seu peito numa despedida provocativa.

Tentei abrir a porta, porém não obtive sucesso. Olhei para trás com um semblante de dúvida. Dr. Bennett encarava-me com certa malícia e... desejo. Meu corpo esquentou na hora.

Tão rápido que não processei, ele empurrou-me contra a parede.

- Fique ciente de que isso jamais - seu nariz contornava meu pescoço enquanto falava - vai acontecer novamente.

Empertiguei-me.

- E quem disse que eu ainda o quero?

Seus dedos prenderam meu cabelo pela nuca, puxando-os para trás até minha cabeça encostar totalmente à parede. Ele manteve-me ali. Os lábios voltaram a explorar a pele numa do meu pescoço, e em pura resposta às suas tentações cravei minhas unhas em suas costas.

Bennett abriu os olhos esmeralda e fitou-me.

- Tem certeza?

Sua mão esquerda apertou minha coxa, subindo vagarosamente por toda sua extensão. Seus lábios descreviam caminhos por meu queixo, e não demorou muito para que os dele encontrassem os meus. Arfei, estasiada.

- Agora sim - sussurrou.

Arranquei seu jaleco para que pudesse senti-lo melhor. Sua mão esquerda passou a percorrer os milímetros do meu corpo, enquanto a direita ainda segurava meus cabelos. Minhas unhas deixavam estragos por onde passavam, e segundos - ou minutos?, não sei - a parede parecia não ser mais suficiente. Bennett prendeu minhas pernas em sua cintura, erguendo-me com a facilidade que se ergue um filhotinho. Caminhou comigo em seu colo e jogou-me contra o divã. Ainda com as pernas presas em sua cintura, despi sua camisa.

Minha blusa foi retirada. Seus lábios passaram a deslizar sobre minha clavícula, colo, entre os seios, descendo pela barriga, prazerosamente devagar. Deixei que meu dedos soltassem seus cabelos para explorarem seu corpo, seu peito, suas costas, sua boca. Puxei-o de volta para mim, mordendo seu lábio inferior. Deixei que me beijasse enquanto descia novamente os dedos em busca da barra de sua calçar. Parei os dedos ali, brincando com o zíper.

Bennett retesou e suspirou de prazer e expectativa.

Toc, toc, toc.

Ambos praguejamos.

- Pois não? - ele gritou. Manti meus dedos onde estavam, esperando.

- Tem uma paciente esperando há mais de meia hora, doutor. O horário da senhorita Amanda já acabou faz alguns minutos.

Bennett bufou. Larguei sua calça e olhei em volta atrás de minhas roupas.

- Já vou - disse ele.

Pus-me de pé e tentei me recompor. Mantive um leve sorriso malicioso nos instantes em que nos vestíamos. Eu podia ver que Bennett estava estasiado. Calcei os sapatos e caminhei até a porta.

- Até a próxima, doutor - acho que agora ele ia pensar duas vezes antes de me mandar para um novo médico.

Seu médico já vai atendê-laOnde histórias criam vida. Descubra agora