1. El Rock Bar

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Natal, fim de outubro de 2010

— Carla, eu não quero usar isso — adiantei logo para minha amiga. — É muito arrumado para ir à aula.

— Não acredito que estou viva para ouvir você dizendo isso — ela murmurou.

Suspirei. Meu humor hoje não estava dos melhores. Eu não podia simplesmente ficar em casa, curtindo uma música depressiva, ou algo do tipo? Eu tinha mesmo de ir assistir duas aulas e apresentar a droga de um seminário? Certeza que o professor de Comunicação e Artes Visuais não iria se importar se eu faltasse.

Abri o guarda-roupa e tirei dali o mais básico possível — uma calça jeans, uma camiseta com escrituras da música Yellow do Coldplay e um par de tênis. Não era meu usual, não mesmo, mas eu precisava mostrar ao mundo que hoje eu estava de protesto.

— Não acredito que você vai mesmo usar isso.

— Pois acredite, hoje sou uma ativista política.

— Contra o quê? O bloqueio do seu cartão de crédito?

Girei os olhos.

Maramanda, foi só um toco. Você arranja outro cara próxima semana, sei lá.

— Não me chame disso — retruquei. — Você tem razão, estou horrorosa com essa roupa. Pelo menos assim eu não chamo atenção.

— Você chamaria atenção em qualquer canto, você sabe disso.

— Ainda não estou torcendo pro seu time, Cacá — adiantei-lhe. — Vai comemorar o aniversário de Luísa hoje?

— Sim, depois da aula.

— Faz quanto tempo que vocês namoram mesmo? Uns três anos? — perguntei enquanto rodava de frente ao meu espelho, tentando deixar aquele modelito um pouco menos pré-adolescente de 2005.

— Por aí.

— Queria eu conseguir ter um relacionamento sério tão longo assim.

— Queria mesmo?

Sorri.

— Acho que não.

A UFRN ficava a alguns minutos da minha casa, se o trânsito estivesse favorável, se não, poderia durar até uma hora. Hoje tivemos sorte — a Av. Salgado Filho estava livre e a BR 101 com poucos carros.

Atrasada como sempre, cheguei como quem não quer nada e me instalei nos fundos da sala de aula, fazendo meu máximo para não ser notada. Eu estava no meu segundo período da faculdade de Publicidade e, apesar dos pesares, eu realmente sentia que aquilo era para mim. Fiquei em cima do muro durante todo o primeiro semestre, mas após ver a propaganda da Coca Cola para a Copa do Mundo desse ano eu me inspirei — percebi que queria fazer algo como aquilo. Queria ser tão importante quanto quem fez aquela propaganda.

É claro que até chegar à Coca Cola ainda faltava muito chão, mesmo assim eu preferia me imaginar com um futuro grande adiante. Ser a melhor da sala, a melhor das turmas de 2010, a laureada daqui a três anos e meio — esse era o meu objetivo presente.

Afundei na cadeira enquanto os alunos do primeiro grupo apresentavam seus slides. Chato, chato, chato. Quando eu poderia ir embora mesmo?

Depois do meu grupo finalmente se apresentar, catei minha bolsa e saí de fininho da sala, não antes de assinar a lista de presença e dar aquela piscadinha de boa festa para Carla. Não era por estar de mau humor que não desejaria diversão a minha amiga.

Encontrava-me a meio caminho do meu carro quando o celular tocou. Suspirei, remexendo a bolsa, debaixo do poste de luz amarelada e fraca do estacionamento que ficava atrás do setor I de aulas. Uma mensagem de texto de Lorena, uma das componentes do meu grupo.

Seu médico já vai atendê-laOnde histórias criam vida. Descubra agora