Suspirei aliviado, ainda meio ofegante pelo longo caminho percorrido. Tudo havia corrido bem, mas estar de volta em casa era um verdadeiro alívio. Bufei uma risada com este pensamento. Casa... Gostaria que tivesse uma casa para retornar. Um lar de verdade, que não se resumisse somente a um acampamento itinerante que não permanecia mais que uma semana no mesmo lugar. Mal podia esperar para que toda a loucura dessa guerra, que já durava 481 anos, tivesse um fim.
Entrando em nosso acampamento, encontrei Kali sentada, montando guarda, enquanto trançava nós no cabo de uma de suas facas. Quando notou nossa presença, minha e de Sitara, seu semblante se iluminou, apenas por um instante, mas logo voltou a sua postura impassível de sempre, levantando-se vindo até nós.
Não pude deixar de apreciar sua beleza quando nos aproximamos um do outro. Ela, é claro, me ignorou completamente e cumprimentou primeiro minha Fyldja, abrindo um daqueles sorrisos tão raros, mas que me conquistava completamente.
— Oi, garota. Estava com saudades — Olhou-me com aqueles olhos castanhos penetrantes, enquanto acariciava a raposa preta com manchas laranja avermelhadas de quase um metro de altura — Salvou esse bundão de alguma encrenca? — Ao que Sitara respondeu com uma lambida no rosto de Kali. Pigarreei alto.
— Posso interromper as duas senhoritas? — Kali apenas me olhou feio — Não ganho nenhum carinho ou pelo menos um "Jahnu, estava preocupada com você"?
— Não — Kali respondeu se virando para mim e cruzando os braços contra o peito — Porque nem devia ter ido lá.
— Alguém precisava fazer o reconhecimento do exército Gnosi. Não foi você que insistiu nisso? "Estou com um mau pressentimento sobre essa batalha" — forcei uma péssima imitação dela. Ela fechou a cara e a imitação me rendeu um soco no braço.
— Alguém. Não você, idiota. Você agora é o Primeiro Conselheiro, não tem mais obrigações como espião.
— Não — Dei de ombros, ainda massageando o braço atingido — Mas sou o melhor espião — Não era mentira, mas a verdade é que não deixaria mais ninguém se arriscar dessa forma, considerando que Kali nunca se preocupava sem motivos. Da última vez que isso aconteceu... não, não queria pensar nisso. Ela apenas cerrou os olhos, pareceu que fosse me responder, mas mudou de ideia e apenas suspirou, jogou seu cabelo castanho trançado para trás e me olhou imponente.
— Vamos, temos que nos reunir — ela disse somente já andando, mas puxei-a pelo braço, deixando-nos frente a frente, os rostos quase colados.
Meus olhos percorreram os detalhes que já conhecia tão bem. Sua pele bronzeada, a cicatriz que percorria a maçã de seu rosto, sua boca tão macia e seus olhos. Ah! Seus olhos... que pareciam conter as chamas de seu ser. Kali revezava seu olhar entre meus olhos e meus lábios. Sorri de lado.
— Já que não vai admitir que sentiu minha falta, posso ao menos ganhar um beijo? — propus, já aproximando nossos lábios. Kali, por sua vez, se desvencilhou de minhas mãos, e se afastou, ainda me olhando de cima.
— Talvez mais tarde, se você tiver conseguido informações úteis — ela ergueu uma sobrancelha em desafio e começou a caminhar, a acompanhei — É o mínimo, considerando que esteve fora por tanto tempo.
— Jura? Teria levado menos tempo? — Ergui as sobrancelhas, desacreditado.
— É óbvio que sim — ela respondeu endireitando os ombros.
— É óbvio — concordei com a cabeça — E também teria sido descoberta, capturada e morta, ou coisa pior.
O pensamento me causou um arrepio na espinha. Gnosis e Bokores costumavam fazer dos sobreviventes, escravos. Imaginá-la dessa forma, me encheu de raiva. Kali não pareceu se abalar. Ela nunca se abalava.
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Diamante de Jahnu
FantasyAté onde você iria para proteger quem ama? Jahnu Sokal é um guerreiro e conselheiro de guerra de uma das quatro grandes nações de um mundo chamado Antuki. Nascido durante uma guerra que já dura séculos, tudo com que mais sonha é viver em paz com sua...