Como Davos havia previsto, eles chegariam em Beladaz um pouco antes do entardecer, pois o imponente moinho, construção e símbolo de maior orgulho daquele povoado, já podia ser visto e admirado ao longe.
As horas de caminhada pela planície, diferentemente do percurso acidentado em Gazad Ur, foram bem proveitosas, quase relaxantes se parasse para pensar em como aquele trio sentiu-se vivo ao respirar o vento fresco daquela manhã, sentir o perfume das flores, o gosto das inúmeras frutas fáceis de apanhar pelo caminho, e o frescor da água em bebê-la com tanta vontade ao passar por um singelo riacho que entrecortava uma campina.
As terras do Leste eram envolvidas pelas mesmas planícies do Sul, com uma fauna e uma flora tão semelhante, se não idêntica, mas ali, os humanos não se permitiam seguir ordens, não pagavam impostos a ninguém, eram livres para viverem de seu próprio trabalho, isso porque politicamente aquela região não pertencia a Lienor, e sim aos elfos, mesmo que os tais pouco se importassem para aquilo tudo.
Enquanto caminhavam, Davos mostrava para eles toda a beleza da região, desde os vastos campos de girassóis, até as imponentes manadas de cavalos selvagens que corriam livremente por todos os lados. Após percorrerem boa parte do trajeto pelos campos, resolveram fazer um desvio pela estrada, pois era mais segura, e ali, já podiam vislumbrar comerciantes entrando e saindo com as suas carroças do vilarejo. A entrada de Beladaz era como de qualquer outro simples povoado, sem grandes e maciços portões, sem soldados, sem majestosos monumentos, mas com uma alegria contagiante que você não encontraria em outro lugar. Para Roan e Luriel, ao adentrarem naquele hospitaleiro, agitado e barulhento lugar repleto de transeuntes para lá e para cá, notaram uma certa semelhança com Torean, e por um momento, sentiram algo que jamais pensaram que voltariam a ter, saudade de lá.
Beladaz era o maior vilarejo por aquelas bandas, com uma movimentada atividade comercial graças a riqueza que aquelas terras propiciavam, pois era muito comum encontrar em seus arredores inúmeras plantações de milho, trigo e cevada. Os poderosos fazendeiros da região tinham o controle da maior parte daquele plantio, mas compartilhavam com o povoado sem maiores problemas. O moinho, tão velho, com suas hélices gastas e estrutura de pedra mal se aguentando, era responsável por sustentar boa parte do povoado, pois graças a ele, podia-se fabricar muitos produtos, como a farinha para a confecção de pães, gerando muito trabalho. Durval, era um velho e respeitado senhor, chamado de “líder” no povoado, responsável por delegar as funções a todos que ali habitavam, principalmente, no moinho, no qual ele trabalhava com tanto empenho há décadas.
Naquele dia em particular, o povoado estava mais eufórico do que de costume, pois havia um cochicho aqui e um outro ali de que haveria a venda de um escravo. Aquilo incomodou principalmente Luriel, que tinha dolorosas lembranças da época em que vivia sob a tutela de Seth. Roan não gostou de escutar o termo “escravo", mas a sua atenção logo se voltou ao comércio local, cheio de tendas coloridas, dispostas de cada lado das largas ruas, contendo os mais distintos produtos, além de hospedarias, tavernas e casas de banho.
Davos já comprara uma coisa ou outra naquele povoado, mas fora há tanto tempo, que não se lembrava de ser tão barulhento, então, disse aos outros que deveriam procurar uma estalagem para se hospedarem, comerem algo digno, tomarem um bom banho, comprarem suprimentos, roupas, e no caso de Roan, uma boa arma, pois o rapaz andava desarmado há mais de um mês.
O grupo se hospedou na estalagem “Grão de Trigo", nem de longe uma das mais refinadas, mas a senhorinha que os atendeu no balcão foi tão simpática, que por ali permaneceram. Eles alugaram dois quartos, um para Luriel e outro para os dois rapazes, então, aproveitaram que já estavam por lá para comerem. Era uma refeição um tanto farta, pois havia muito pão, leite, queijo, e uma variedade incomum de frutas. Já deveria passar das três horas da tarde, quando Davos e Luriel decidiram esperar por Roan que fora comprar sua arma no tumultuado centro comercial. Até aquele momento, eles já haviam comprado todos os mantimentos necessários para a viagem, passado na casa de banhos, e até trocado suas roupas.
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Sangue de Lugh - Seita do Exílio
FantasyApós os eventos de "Fragmentos da Alma", o nosso trio de heróis deverá enfrentar não só as provações físicas das suas decisões, mas terão que lidar também com um emaranhado de sentimentos. Dúvidas, paixões, alegrias e traições, uma transição de caus...