▪ savage daugerth

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Hanagaki Takemichi morreu. 

Ela se sentiu morrer, sentiu a faca cravada no seu lado, sentiu a carne se separar sob a lâmina, o músculo cedendo sob a pressão. Ela sentiu o sangue fluir, quente e úmido, escorrendo por sua pele, grudando na roupa, encharcando e manchando o uniforme penitenciário, tingindo o chão e o ar com a cor e o odor férreo. Ela sentiu o corpo cair, sentiu o calor deixar esse corpo, sentiu o frio tomar conta. 

E então ela não sentiu mais nada, voltando doze anos no passado. 

Hanagaki Takemichi morreu, mas ela também viajou no tempo logo em seguida, então ela não estava exatamente muito surpresa por estar viva, apesar de saber que morreu. Ela sentiu a faca drenar vida e sangue dela, mas aqui estava sua pessoa, sentada na maca da enfermaria da prisão, muito viva para ter sido assassinada. 

Não era ressurreição. Era uma mudança. 

Sua ferida era profunda, o suficiente para matar, mas Takemichi estava viva. Era surpreendente, porque não importava o que ela mudasse no passado, não era como se ela pudesse fazer com que o médico da prisão ficasse milagrosamente competente. O velho desgraçado mal parecia saber colocar um band-aid no lugar, quem dirá lidar corretamente com uma facada? 

"Oi, velho maldito, quem fez isso?" Ela ralhou detrás da cortina verde que cobria a cama onde ela estava, a separando de toda a enfermaria. "Sem chances que seu rabo cego conseguiu me costurar tão bem. Ei, oi, você tá surdo também, porra?"

Não houve resposta.

Takemichi esperou, chamando mais um par de vezes, antes de decidir que algo estava errado. Tudo parecia errado, na verdade. E Takemichi não tinha paciência pra essa merda. Ela estava totalmente pronta para saltar da cama e ir atrás de qualquer um que desse a ela as respostas necessárias quando a cortina verde foi empurrada para o lado, revelando duas figuras altas.

Kakucho e...Bem, Takemichi não tinha ideia de quem era o homem ao lado de Kaku-chan. 

"Michi, você está acordada." Kakucho avançou, agarrando sua mão, preocupação transbordando em seus olhos. Takemichi quase se sentiu culpada por morrer, mesmo que soubesse que era loucura demais até pra ela. "Deus, quando ele me disse que você seria atacada, eu quase não acreditei. Droga, você poderia ter morrido, porra." 

Takemichi franziu o nariz e levantou a outra não para cutucar a testa de Kakucho. "Ei, cuidado com a boca caralho, quem te ensinou essas palavras feias, seu pirralho de merda?" 

"Takemichi." Kakucho rosnou, impaciente, apertando sua mão de forma dolorosa. "Eu não quero ouvir nenhuma brincadeira de você. Você quase morreu, você entendeu? Você quase morreu." Ele a encarou, parecendo desesperado. "Takuya morreu, Izana está no hospital e você estava a dois segundos da morte quando eu consegui te alcançar, você tem alguma ideia de como eu estou me sentindo? Não é hora pra brincar."

Ouch. Essa a acertou na boca da barriga, com a guarda baixa. Kakuchan tendia a ser indulgente e tolerante, ele ouvia suas besteiras e não se importava com suas loucuras, ele aceitou pacientemente. Mesmo Takuya às vezes mandava Takemichi calar a boca, mas Kakucho nunca. Essa reação significava que ele estava realmente irritado, realmente preocupado.

Ah. Agora Takemichi estava realmente se sentindo culpada por morrer. Ou quase morrer. Kakucho provavelmente odiaria ouvi-la dizer que morreu de verdade, em outra linha do tempo. 

Ela manteve a boca fechada e olhou para o acompanhante de Kakucho. Izana estava no hospital, então aquele definitivamente não era o namorado de Kaku-chan. Takemichi não tinha ouvido falar de nenhum amigo de Kaku-chan que tivesse aquela aparência. Os amigos de Kaku e Takuya geralmente eram descritos como desorganizados, tatuados e perigosos. O homem à sua frente era limpo e centrado, parecendo calmo, mas curioso. Ele era magro e alto, com olhos e cabelos negros, cortados numa tigela perfeita. Ele parecia inofensivo à primeira vista, mas Takemichi tinha experiência demais para não ver sua postura ou os músculos bem escondidos sob o paletó.

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