IX - Alira

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          Na manhã daquele dia, Alira acordara bem cedinho para ir aos correios enviar a carta para seus pais. Falando sobre como tudo ia bem. Às vezes, escrever para ela – mesmo a pouca didática que tinha em escrever – era uma terapia. Escrevendo, ela sentia que colocava todos seus pensamentos em ordem. Todas as duvidas e inseguranças.

           ''Queridos pai e mãe, devo confessar que quando cheguei, senti um pouco de medo. A patroa é uma mulher ríspida e bem chatinha quando quer... Tenho duas colegas de trabalho, a Núbia e a Ângela. Adoro as duas, mesmo Ângela que as vezes é meio grossa, mas na maior parte do tempo é muito gentil. A dona Catarina tem dois filhos, um mais novo chamado José, cujo o qual, tenho que tomar conta, e Helena. Eu não sei bem o que pensar sobre ela. Quando conversamos, meu coração palpita, mas sinto medo. Tenho medo que esse sentimento se torne minha sentença.

          Ela é alta e gordinha. Seus cabelos loiros e encaracolados de tirar o fôlego de qualquer um... Eu sei que vocês pedem para eu não ser quem sou na frente dos outros, mas quando penso nela, é como se milhares de borboletas dançassem na minha barriga. Eu sei que se vocês estivessem aqui, pediriam para eu seguir o coração e ser feliz. Mas não sei se é recíproco.

          Pai e mãe, irei trazer vocês, a qualquer custo. Mas enquanto escrevo esta carta, percebo que talvez eu tenha encontrado um motivo para ficar mais tempo nesta casa. Sei que o planejado era encontrarmos um cantinho para gente, mas não consigo sequer pensar em deixa-la.

          Então é isso. Vou seguir meu coração, darei mais importância aos meus sentimentos, me permitirei tirar os pés do chão um pouco. Próxima vez que eu a encontra-la, vou lhe dizer meus sentimentos e o quanto ando pensando nela. Obrigada queridos pais.

          Estou enviando também metade do meu salário para vocês, espero que seja o suficiente para o resto do mês. Mande um abraço para todos na tribo e diga a eles que estou com saudade. Um dia voltarei para visita-los, e quem sabe, leve Helena para que vocês possam conhece-la.

                                                                                 Os amo do fundo do meu coração, amorosamente, Alira.''

          Depois de enviar a carta, Alira sente que tirou um enorme peso das costas. Finalmente tinha tomado a decisão de seguir o coração. Assim que visse Helena, iria dize como se sentia. Ela não sabia se Helena sentia alguma coisa por ela. Ela é tão informal com todas as outras empregadas da casa. Não sabia se seria totalmente reciproco, mas arriscaria. Já não aguentava mais guardar para si tudo que sentia.

          Antes de ir para casa, ela passou na feira, fez as compras que a dona Catarina havia pedido e logo em seguida foi até a biblioteca procurar por algum livro. Decidira que iria começar a estudar por si própria. Por mais que Helena tivesse o entusiasmo de um filhote de cachorro para ensinar, ela não lecionava não bem.

Quando chegou a biblioteca, foi até a bancada onde se encontrava a bibliotecária

— Bom dia, eu queria começar a ler alguns livros de escritoras, tem algum para recomendar?

— Ah, bom dia! Tenho o livro que muitos gostam, mas é bem grande, não sei se é o ideal pra quem está começando. Você sabe ler direito?

— Quando me esforço sim... Passei duas semanas treinando escrita e leitura por conta própria, escrevi até uma carta hoje! – diz Alira empolgada – acho que vou querer esse sim, vou aceitar o desafio.

— Ah, então tudo bem, - diz a bibliotecária indo até a uma estante e voltando logo em seguida com um livro de capa dura que parecia ter mais de 600 páginas com certeza – aqui está. Se chama Orgulho e Preconceito.

— Obrigada dona...?

— Renata! – diz ela sorrindo – e o seu nome?

— Alira, prazer.

          Alira então toma seu rumo até uma praça onde lera algumas paginas até chegar o final da tarde, quando decidira voltar a mansão da família Cardoso.

          Quando está perto do portão, ouve alguém gritar seu nome. Era Helena, que vinha correndo em sua direção. O coração de Alira dispara. Estava esperando Helena chegar ao seu encontro e finalmente ela diria o que sentia.

          Agora com Helena na sua frente, seu corpo gela. Sua barriga da voltas, se sente nervosa. Mas tenta não deixar transparecer. Ela parece que está querendo lhe dizer alguma coisa ''será que ela vai dizer que também tem sentimentos por mim?'' pensou Alira, criando expectativas. Helena começa a gaguejar e a enrolar até que o portão se abre. Quebrando ali, toda a expectativa de Alira.

 Quebrando ali, toda a expectativa de Alira

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Beijos de NataOnde histórias criam vida. Descubra agora