VI - Helena

23 9 69
                                    


          Três longos dias se passaram na casa de Helena. Ela sabia que sua mãe não era mais a mesma desde que fora atacada por seu marido. Ela conseguia enxergar o medo nos olhos de sua mãe todas as noites no jantar, quando ela sabia que Joaquim iria chegar. Durante esses três dias, seu pai chegou bêbado apenas uma vez. O cheiro de bebida e perfume feminino barato exalavam por toda sala. Na noite seguinte ao ocorrido, Joaquim trouxe flores para a Catarina, pediu desculpas de joelhos e jurou de pé junto que isso nunca aconteceria de novo

— Tu nem sabes o porquê de estar pedindo desculpas – dizia Catarina – aposto que assim que tiveres meu perdão, tudo irá se repetir

— Ora, deixe disso Catarina, posso não lembrar o que fiz, mas se é algo tão horrível, terás que me perdoar. Afinal, tu és minha rapariga.

           Por mais que Joaquim não soubesse o porquê que Catarina e Helena estavam estranhas, ele sabia que logo Catarina o perdoaria. Como todas as vezes que ela o perdoo.

          No segundo dia, Joaquim chegou mais cedo. Quando bateu seis horas da tarde no relógio, ele já se encontrava em casa.

— Chegastes cedo, não tinha muito trabalho? – pergunta Catarina enquanto olhava o pequeno José brincar na sala.

— Cheguei cedo para que eu pudesse te levar a um jantar.

— Não posso sair, tenho que cuidar do José – respondeu Catarina rispidamente

— E para que pagamos a governanta? Ora, deixe de bobagens, se arrume! Vamos sair. – Rebateu Joaquim

           Nesse momento, Catarina engoliu a seco. Por mais que ela soubesse do seu "dever como mulher", ainda se sentia insegura perto de Joaquim desde o ocorrido. Ele já tinha feito muita besteira, mas aquela tinha sido a primeira vez que Joaquim agira daquela maneira. Mesmo relutante a ideia de sair com o seu quase agressor, decidiu que iria para tentar fazer as coisas voltarem ao normal.

          Catarina foi até ao quarto das empregadas no fundo chamar por Alira para que ela tomasse conta do José.

— Alira? Vamos, levante. Preciso que você cuide do José. Irei sair com Joaquim e não sei que horas voltaremos.

          Alira, que estava sentada em sua cama, ainda digerindo o que havia acontecido noite passada naquele clube, levanta rapidamente e segue em direção a sala para ir cuidar da criança.

          Catarina volta para o seu quarto e tentar pensar o menos possível no que teria que enfrentar a noite inteira.

          As oito em ponto, os dois saem para o jantar.

          Em seu quarto, Helena preparava uma aula para dar a Alira. Ela não sabia ao certo o que iria ensinar primeiro. Pensava em começar por história, afinal, ela era de família portuguesa e queria mostrar todas conquistas do seu país até aqui.

          Quando tudo estava pronto, Helena procurou por Alira pela casa e a encontrou na cozinha junto com José e as outras duas empregadas, antes que elas a pudessem ver, ouviu parte da conversa

— Alira, onde você estava ontem durante a madrugada? Acordei com os gritos da casa e depois com você batendo a porta do quarto, demorou bastante para voltar – questiona Ângela

— Eu não vi ninguém saindo pra lugar nenhum... Só ouvi os gritos mesmo – disse Nubia enquanto pegava um pedaço de queijo que Ângela cortava

— Óbvio que não, você tem um sono de pedra. Mas, e você Alira, não respondeu à pergunta

— Eu não estava conseguindo dormir, então fui checar para ver o que era. – respondeu Alira com as mãos suadas

Beijos de NataOnde histórias criam vida. Descubra agora