002: Party

247 38 19
                                    

Passei a tarde toda deitado naquele sofá. Se eu sentia que o meu dia tinha sido perdido com isso? Não, claro que não. Algumas pessoas pensam que precisam fazer coisas extraordinárias todos os dias para convencerem a si mesmas que estão aproveitando a vida. Eu não. Para mim, aproveitar a vida seria fazer cada momento bom para si. Ficar deitado no sofá vendo TV foi bom para mim.

Jungkook chegou às cinco, assim como o combinado, e logo trancou-se em seu quarto. Já a minha mãe, ela chegou às sete e meia cheirando a colônia masculina barata. Eu sei que a minha mãe tinha suas necessidades, mas isso era nojento, ainda mais por imaginar quem usaria uma colônia daquela.

Minha mãe era bonita ainda. Seus 46 anos não eram tão perceptíveis, eu a daria 38. Seu cabelo era preto, como o meu, e seus olhos castanhos. Tinha rugas e olheiras? Tinha sim, mas nada que a sua maquiagem não pudesse esconder ou diminuir. Aliás, ela era linda até com elas. Seu traços faciais eram delicados, seu rosto era fino e tudo lá estava em harmonia. O único problema da minha mãe era a sua autoestima.

Desde que o meu pai foi embora, ela não era a mesma. Meu pai foi o primeiro namorado dela, e ela era muito dependente dele, então quando ele foi embora com uma outra mulher, ela perdeu o chão. Minha mãe, quando não está estressada e gritando, possui tristeza em seu olhar. No quesito amoroso, sente-se satisfeita com qualquer cara que a queira, o que era ridículo. Minha mãe merecia mais.

Ignorei o cheiro da colônia barata e jantamos em silêncio. Após o jantar, eu decidi ir a tal festa do Hoseok e a minha mãe não me impediu. Na verdade, acho que ela agradecia aos céus todas as vezes que eu queria sair de casa e agir como um adolescente normal.

Arrumei-me e fui a pé até a casa do meu velho e único amigo, a qual não era muito longe da minha. Hoseok morava apenas a uns três quarteirões da minha casa. Ao chegar lá, notei que a festa já estava a todo vapor. Alguns carros estavam estacionamos em frente a casa dele e a música alta dava para ser ouvida do jardim. Fui até a porta e toquei a campainha. Segundos depois, Hoseok a abriu e me recepcionou com um enorme sorriso.

— EU SABIA QUE VIRIA! — gritou por conta da música alta.

— NÃO, NÃO SABIA. — eu brinquei e ele riu. — GOSTARIA DE REGISTRAR QUE ESTOU PAGANDO HOJE POR TODOS OS BOLOS QUE TE DEI ANO PASSADO.

— QUÊ? TODOS? ISSO É MUITO INJUSTO! 

Sorri de modo debochado e dei de ombros.

— VEM, ENTRA, VOU TE APRESENTAR AO PESSOAL. — ele gritou já me puxando para a casa.

Algumas pessoas dançavam animadas quando eu entrei. Outras estavam jogadas pelo sofá conversando e bebendo, e foi para lá que ele me levou.

— PESSOAL, ESSE AQUI É O JIN. — ele gritou enquanto apontava para mim. Eu apenas forcei um pequeno sorriso e acenei. — ELE É O MEU MELHOR AMIGO, ENTÃO TRATEM-O BEM.

— E AÍ, JIN? — uma garota gritou.

— SENTA AQUI COM A GENTE. — um garoto gritou.

Sentei-me e só conseguia ficar pensando com como eles conseguiam manter uma conversa com aquela música alta. Mas diferente do que eu pensava, o grupo raramente conversava por completo. O grupo se dividia em subgrupos, e estes conversavam falando próximos aos ouvidos uns dos outros. 

Para variar, fiquei sozinho apenas observando. Quer dizer, apenas observando não, eu peguei alguns copos de cerveja e fiquei bebendo na minha. Nunca dispenso bebida grátis.

— Jin, não é? — perguntou um menino perto do meu ouvido e eu assenti. 

O menino não me parecia desconhecido, eu já devia ter cruzado com ele por aí alguma vez. Com certeza era mais velho que eu, por isso descartei a possibilidade de ele estudar na minha escola. Ele possuía um cabelo ralo, provavelmente tinha raspado a cabeça há alguns meses. Possuía olhos pretos, o que davam um destaque com a sua pele extremamente branca. Como ele estava sentado, eu não sabia se ele chegava a ser mais alto do que eu.

InsideOnde histórias criam vida. Descubra agora