004: Plan

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As aulas antes do intervalo passaram se arrastando. Em uma delas, o Hoseok estava comigo e me contou das coisas bizarras que ocorreram após a minha saída. Já o Namjoon... Nenhum sinal dele. Minha chance de encontrá-la seria no intervalo, então assim que o sinal soou, eu fui um dos primeiros a sair. 

Procurei-o pelos corredores do colégio, mas nem sinal dele. Pensei em perguntar a alguém, mas a quem? As vezes em que eu encontrei o Namjoon, ele sempre estava sozinho. Nunca o vi conversando com alguém ou algo do tipo. 

Eu estava passando pelo refeitório quando algo chamou a minha atenção. Era o noticiário.

"[...] o incêndio foi de extrema importância para que essa rede de pedofilia fosse descoberta. Milhares de caixas com DVDs e fotos foram encontradas na casa do suspeito enquanto os bombeiros tentavam apagar o fogo. A policia suspeita que além de guardar e repassar o conteúdo, o próprio sujeito tenha produzido alguns deles. Agora, o suspeito está preso e sob custodia da polícia." 

Enquanto a repórter falava, fotos da casa passavam na TV. Eu sabia bem que casa era aquela, eu estive em frente à ela esta madrugada. 

Fiquei sem reação por alguns segundos. Eu devia estar comemorando o fato de ele finalmente ter sido preso, mas tudo aquilo ainda estava sendo processado pela minha mente. 

Fui até o banheiro e lavei bem o rosto. Eu fiz aquilo sem pensar, no impulso, então acabei borrando toda a minha maquiagem. Tive que tirar tudo e ficar com o rosto limpo, deixando à mostra as minhas olheiras profundas.  

— Oi, Jin.

Olhei para o espelho e lá estava a imagem do Namjoon refletida atrás de mim.

— Onde você estava? Eu passei a manhã toda te procurando. — falei, com raiva, enquanto encarava a imagem dele no espelho.

— Estava em aula, assim como você. 

Ele se aproximou de mim e parou ao meu lado.

— A gente precisa conversar sobre o que fizemos ontem à noite.

Um menino saiu de uma das cabines do banheiro e foi lavar as mãos. Ele me olhava com repúdio. O tal garoto era da ala extremamente homofóbica da escola, já o vi me encarando com nojo algumas vezes. Acho que a minha fala sobre "ontem à noite" ficou com um duplo sentido, e, agora, ele devia estar nos julgando. Quer saber? Foda-se. Não estou nem aí para o que o controlar de cu alheio pensa.

Olhei para o Namjoon e ele lavava as mãos calmamente. Ele sorriu para mim através do espelho, e, depois, virou-se para enxugar as mãos com papel toalha. Ele estava tão calmo, como ele conseguia estar tão calmo!?

O outro menino terminou de lavar as mãos e saiu em silêncio. Olhei para o Namjoon e ele agora estava arrumando o cabelo enquanto se encarava no espelho.

— Você já viu os noticiários? — perguntei e ele assentiu.

— Que louco aquilo das ondas gravitacionais. Einstein era o cara! — ele falava animado enquanto meu queixo ia ao chão. Ele só podia estar de zoação com a minha cara!

— Não estou falando disso, estou falando que prenderam aquele verme por conta do nosso incêndio. Ele finalmente tá preso. — virei-me para encará-lo de frente.

— Aaaah, isso. Sim, claro, essa era a ideia. Eu nunca planejei queimar a casa dele, isso seria muito fácil. Eu o denunciei ontem à noite, depois que te deixei em casa. Fiz uma denuncia anônima sobre ele ter material de pornografia infantil em casa. O incêndio foi apenas para garantir que a polícia e os bombeiros fossem até a casa dele logo. Aquele verme nunca se preocupou muito em esconder aquelas coisas, então não seria difícil de achar. 

— Então você planejou tudo isso? Você, em algum momento, pensou em me contar? 

— Eu estou contando agora. Não me leve a mal, Jinnie, mas você poderia estragar tudo ficando nervoso ou agindo por impulso. — ele disse como se fosse óbvio. — Pelo pouco que observei, você não costuma pensar muito antes de agir, não é mesmo?

— Vá à merda, Namjoon!

— Viu?

— Como você pode estar tão calmo? E se nos descobrirem?

— O seu pânico é que pode estragar tudo. Quem vai provar que fomos nós? Ninguém. Estava escuro e não tinha ninguém na rua. Além disso, depois que descobrirem tudo do que ele é capaz, você acha mesmo que alguém ainda vai se importar com quem colocou fogo na casa dele? Vão fazer pior que isso daqui pra frente. No mínimo, vão pixar a casa dele com várias ofensas. Pare de drama, ninguém se importa com quem colocou fogo lá. Ninguém se importa com ele. 

— Você é louco, completamente louco. — eu disse e saí do banheiro em seguida.

Por onde eu passava, as pessoas me olhavam. Não sei se era a falta da maquiagem habitual, pelos meus passos raivosos ou por algum outro motivo. Eu não estava me sentindo confortável ali, então peguei minhas coisas e fugi da escola antes que o sinal soasse para o fim do intervalo.

Após passar pelo último portão da escola e ter acesso a rua, mantive os meus passos apressados para evitar que alguém me visse saindo de lá. Quando já estava a um quarteirão da escola, tive a estranha sensação de que estava sendo seguido, então não diminui o ritmo.

— Eu sei o que você fez. — uma voz disse e eu virei-me para trás procurando o dono da voz. Olhei em todas as direções, mas não encontrei ninguém.

— Sabe é? FODA-SE. — eu disse enquanto ainda procurava o dono da voz.

Era como se me olhassem de todas as direções... Eu sentia que existiam várias pessoas ao meu redor me observando. Era tão estranho aquilo e tão assustador ao mesmo tempo.

— Estamos de olho em você.

— ENTÃO OLHA ISSO AQUI! — gritei e levantei os meus dedos do meio.

— Você pode bancar o durão, mas sabemos que você não é isso tudo. Você é medroso, um bebê chorão, e nós sabemos disso. Nós vamos te pegar e você vai sofrer, e você sabe o porquê? Porque você nos enoja, Kim Seokjin, você é podre. Seduziu aquele homem e depois se fez de vítima. Não passa de uma putinha sedenta por sexo.

Eu corri. Não respondi coisa alguma, apenas corri com todas as minhas forças. Era desesperador receber ameaças e não saber de onde vinham.

Algo me dizia que eu não podia ir para casa, eles me encontrariam. Passei pela minha casa e continuei correndo até chegar em um lugar que eu não conhecia. 

Quando eu não aguentava mais correr, e minhas pernas falhavam, procurei um lugar para me esconder. Eu não poderia ficar exposto, eles poderiam ter me seguido. Fui até um beco escuro e sentei lá no chão enquanto agarrava e abraçava os meus joelhos. Peguei o meu celular e liguei para a minha mãe, mas ela não me atendeu, o que era típico. Ligar para o meu pai daria no mesmo, então liguei para alguém que realmente poderia me ajudar. Depois do quinto toque, ele atendeu.

— Jin, o que foi? 

— Me ajuda, Hobi. — eu supliquei, desesperado. 

— O que foi? 

— Tem alguém me seguido, ele quer me pegar.

— Quem? Como assim?

— Eu não sei, mas tem alguém lá, tem alguém me seguindo.

— Onde você está? Eu vou aí te buscar. Não se preocupe, eu não deixarei ninguém encostar em você.

— Eu vou te mandar a localização. Por favor, vem logo.

— Pode deixar, eu já estou indo. Fica calmo e fica de olho aí. Qualquer coisa, tu corre, que eu te acho pela localização.

— Ok.

— Até já, toma cuidado. — ele disse e depois desligou.


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