capítulo um

336 46 28
                                    

Naquela manhã, nada mais tinha para o café que não fosse uma torrada dura e queimada e um refresco de manga

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Naquela manhã, nada mais tinha para o café que não fosse uma torrada dura e queimada e um refresco de manga. Disseram certa vez que a diferença entre suco e refresco estava na quantidade de água utilizada em ambos. Enquanto o suco contém uma quantidade razoável de água, o refresco extrapola o senso e se torna uma espécie de água com coloração e sabor frutal. Provavelmente faziam aquilo para fazê-lo render, servir mais pessoas, e ninguém culpava a equipe de cozinha por isso. Só que, claramente, aquele café da manhã não era bem o que Felix esperava para comer. Havia mais sendo oferecido, claro, horas atrás. Mas dali a quinze minutos seria horário de almoço, então ele teria de se contentar com restos.

Soltou um suspiro resmungão antes de erguer os olhos para o rapaz que estava sentado à mesa consigo, talvez seu melhor amigo. Digo "talvez" porque nenhum dos dois nunca tinha dito isso um para o outro em algum momento. Era sempre assim: se encontravam pelo resort e apenas acenavam com a cabeça, sentavam juntos nas refeições e às vezes tomavam um banho de sol juntos no final de tarde. Não era como se soubessem tudo da vida um do outro. Provavelmente, o máximo que Felix sabia sobre a vida de Seungmin era que ele comia granola aleatoriamente ao decorrer do dia, dormia sempre que possível e curtia filmes de ficção científica, porque já o viu vestindo uma camisa de Stars Wars um dia desses.

Também, não é como se lá tivesse uma grande quantidade de opções para amigos. Eram sempre os mesmos adolescentes idiotas que ficavam por alguns dias e depois iam embora, velhos que ninguém sabia como é que ainda estavam vivos e mais ainda como arranjaram namoradas jovens e atraentes — cá entre nós, Felix sabia muito bem — e até mesmo célebres artistas que tiravam suas folgas e gostavam de desfilar por lugares como aquele.

E que lugar era aquele? Bom, alguns diziam que era um dos melhores resorts do mundo, mas Felix duvidava. Na verdade, ele detestava a segurança com que falavam coisas como "o melhor do mundo" ou "o mais famoso". É que parecia um amontoado de asneira expelida por pessoas que queriam acreditar naquelas informações, embora soubessem que não eram tão verdadeiras assim. Ainda mais aquele lugar. Pouco importava se atores de Hollywood gostavam de mostrar seus corpos perfeitos sob o sol dali. A realidade é que, para Felix, aquilo não era um lugar excepcional. Era só uma ilhazinha bonita e superestimada cujo principal resort só atraía gente rica e sem graça. Sim, totalmente sem graça e patética.

Ainda mais, nem aquela torrada estava boa. Como uma torrada não poderia ser boa? Ok, ele realmente tinha esperança, trinta minutos atrás, de que estaria com hálito de café andando preguiçosamente pelo píer, dando um bom dia ao horizonte marítimo que parecia ser infindável. Mas a ideia de olhar o mar e pensar naquilo lhe dava certo pavor. Tudo que mais queria era sair dali, arranjar um emprego normal como qualquer pessoa — sério, até mesmo atendente de loja ou telemarketing faria sentido — e poder andar em terra firme sem se bater com o mar em algum momento.

Sua vida não era assim tão ruim, estar numa ilha não era nenhum pesadelo... Mas Felix sentia falta das fronteiras com outros países, viagens de ônibus longas e generosas amplitudes térmicas. Só estava ali ainda por uma coisa: dinheiro, dinheiro e dinheiro. Só precisava daquilo.

HI-HAT MURDER: O SANGUE NA GUCCI ✘ hyun.lixOnde histórias criam vida. Descubra agora