Ainda procuro por ti em tudo o que vejo. Sei que te foste e eu ainda continuo aqui, e que dói. Não sei mais nada além de que dói.
Lembro-me da última mensagem que me mandaste. Tínhamos discutido, mas mandaste-me um “amo-te”. Mas o carro foi contra ti. Não pudeste evitar. Ninguém podia evitar. Enviei-te um “amo-te” e nunca mais me respondias. E, mais tarde, 30 mensagens depois, recebi o telefonema. Aquele em que me disseram que estavas no hospital, depois do terrível acidente. Peguei no casaco, saí de casa disparada e fui a correr para a estação do metro. Corri, chorei, a minha vontade era gritar. Passei o tempo da viagem todo a enviar-te mensagens. Mensagens a dizer o quanto eu lamentava ter discutido contigo por uma coisa tão fútil e irrelevante comparada àquilo que estava a acontecer. Mensagens a dizer o quanto eu te amava. O quanto ainda te amo.
Chegada ao hospital, perguntei por ti, indicaram-me um quarto e entrei. Parecias tão bem, tão pacífico, inconsciente, cheio de curativos, naquele lugar horrível. Estavam lá os teus pais. A tua irmã nem conseguia entrar, não parava de chorar. E eu só olhava em choque. Não conseguia dizer uma única palavra. As lágrimas corriam-me pela cara e eu não tinha reacção. Era impossível reagir a uma coisa tão brutal.
Saí e sentei-me num banco ao lado da tua irmã. Ela continuava sem parar de chorar, e eu continuava com as lágrimas a correr. E parecia-me tudo trágico demais.
Depois acordaste, e o teu pai veio-nos chamar. Olhaste para mim e sorriste, e depois fizeste uma careta de dor, e eu continuava a chorar, um pouco aliviada.
Não fui à escola nos dias que se seguiram. A minha mãe não se importou. Percebeu que eu precisava de estar ao teu lado.
No dia que voltei à escola, às 9 horas, o teu pai telefonou-me. Tinhas piorado drasticamente durante a noite e não tinhas resistido. A voz dele oscilava. Percebi que tinha estado a chorar. E não sabia o que dizer. Desliguei o telefone e gritei. Gritei no meio da escola e caí no chão. Não parava de chorar, de gritar que só podia ser um pesadelo. Tinha de ser um pesadelo. De certeza que era um pesadelo. Belisquei-me, arranhei-me, e ninguém percebia o que se passava. Juntava-se cada vez mais gente à minha volta. Muitos amigos meus tentaram falar comigo. Eu só dizia “ele foi-se”. Os que não me conheciam ficavam a olhar para mim com pena.
Não pude ir ao teu funeral. Não fui capaz. Desculpa.
Durante a primeira semana, ainda me olhavam com pena. Perguntavam-me se estava bem, o tempo todo. Claro que não estava. Ainda tinha o mesmo sentimento que tive segundos depois de saber que não estavas mais cá. Ainda queria gritar, beliscar-me, acordar deste pesadelo.
Mas percebi que não era um pesadelo. Era real. Estavas morto. E eu não tinha mais vida dentro de mim.
Passou-se um ano. E nesse dia, eu morri. Continuo a respirar, mas estou morta. E ainda procuro por ti.
Onde quer que estejas,
Amo-te.