Capítulo 4

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Nas semanas seguintes, Darren e Ísis continuam se encontrando na cafeteria, já com lugar cativo e rotina de trabalho comum. Às vezes, Ísis se deixa ficar observando o que ele está fazendo e se lembra de quando o conheceu, na mesma cafeteria, sem que ela sequer imaginasse quem ele era. Gosta também de repassar os acontecimentos que os levaram até ali: tudo acontecera tão rápido, mas, ao mesmo tempo, para Ísis, era como se dois meses fossem dois anos. Ela já se sentia bem mais à vontade perto dele e, em alguns momentos, podia dizer até que sua presença a acalmava. Algumas vezes, é ele que a traz de volta de seus devaneios, fazendo alguma pergunta ou comentário; outras vezes, ela mesma se força a voltar ao trabalho e não alimentar esses sentimentos para além dos limites que considera seguros.

Após voltar de um desses devaneios, Ísis mal lê três parágrafos, quando Darren começa a cantarolar, enquanto folheia um livro. Ísis levanta o olhar para ele e, quando ele percebe, para de cantarolar e se desculpa.

— Eu te atrapalhei? Me desculpe.

Ísis sorri e fecha o livro que tinha em mãos.

— Sim, me atrapalhou. Mas não precisa pedir desculpa, vou considerar isso como um show particular.

Ele ri e Ísis considera que suas covinhas também poderiam ser um show à parte.

— "Love confession"? — Ísis pergunta e Darren lhe lança um olhar confuso.

— Era "Love confession", do Jay Chou, o que você estava cantando, não era?

— Ah, sim... Então esse é o nome em inglês... Em chinês é "Gao bai qi qiu", balão de confissão.

— Hmm... Isso me lembra aquela coisa da lua.

Darren sorri.

— É verdade. Mas então você conhece música chinesa?

— Hmm, eu não diria dessa forma. Conheço Jay Chou, Harlem Yu, Jackson Wang... Quem mais? Ah, lembra que eu disse que fiquei fascinada pela China por causa dos dramas que assisti?

— Sim, e gosto de pensar que Meteor Garden teve alguma responsabilidade nisso também.

— Sim! Claro que sim. Inclusive a trilha sonora é fantástica — ela diz animada e ele sorri com o elogio. — Mas além de ouvir as músicas do F4, nessa época, eu ouvia bastante rap chinês.

— Sério? Hmm... Isso é mais da alçada do Dylan.

— Sim, eu sei... Você gosta mais de música pop.

— Como você sabe?

— Ah, isso? É uma técnica de adivinhação muito difícil de ser realizada. Primeiro, é preciso ser neta de bruxa. Segundo, a pessoa sobre a qual você quer descobrir algo precisa ser uma figura pública — ela diz em um tom divertido.

— Ah... Isso é tão injusto! Não há nada a ser descoberto sobre nós, tudo já foi exposto em algum momento. Sem surpresas. Isso deve tornar a convivência com a gente um pouco chata, não é mesmo?

— Bom, eu não acho que não haja nada a ser descoberto. Eu mesma descobri várias coisas. Além disso, sempre quis saber se o que vocês dizem nas entrevistas é verdade ou não. É uma boa oportunidade.

— Ah é? E o que você descobriu? — Darren apoia o queixo em uma das mãos e encara Ísis.

— Hmm, descobri que você gosta de frequentar os mesmo lugares e, se possível, escolhe sempre a mesma mesa; que você é uma boa companhia para visitar livrarias; gosta de rotinas e toma mais café do que eu imaginava; consegue se concentrar numa leitura por bastante tempo, mas tira os óculos quando se cansa e sempre se espreguiça depois disso; você mexe no seu cabelo enquanto lê e faz caretas com a boca quando está escrevendo... — Ísis diz essas últimas frases com um ar absorto e Darren a observa um pouco desconcertado. Ela pigarreia, com a sensação de ter falado demais, e tenta ser menos específica.

21h30 em ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora