21h30 em Paris

Capítulo 7

No hotel, Darren e Ísis descobrem que a reserva está errada.

— Não, não, são dois quartos — Darren insiste com a recepcionista.

— Sinto muito, senhor, veja. — Ela aponta para o computador. — Reserva em nome de Darren Chen: um quarto, duas pessoas.

Ele a observa confuso.

— Bem, então acrescente mais um quarto.

— Sinto muito, não há mais quartos disponíveis. Há muitos eventos acontecendo em Paris essa semana, esse é o último.

— O quê?

— Podemos devolver o dinheiro da reserva caso queiram ir para outro hotel, mas eu ligaria antes para confirmar se ainda há quartos disponíveis, a maioria está tão lotada quanto aqui.

Darren suspira e olha para Ísis, que está encostada no balcão, com a cabeça apoiada em uma das mãos.

— O que vamos fazer?

Ísis respira fundo e diz vagarosamente:

— Sinceramente? Eu só quero dormir. Não me importo, e... — voltando-se para a recepcionista, pergunta: — São duas camas, certo?

Sem mais desculpas a pedir, a recepcionista apenas faz uma cara de lamento e balança a cabeça negativamente. Darren e Ísis se entreolham constrangidos.

— Isso é um problema muito grande para você? — Darren finalmente pergunta.

Ísis sente os efeitos secundários da bebida aumentarem: está com sono e o raciocínio cada vez mais lento.

— São quase duas da manhã. Eu só quero dormir.

— Vamos ficar, então — Darren diz à recepcionista.

***

Eles analisam o quarto, que pelo menos é maior do que imaginavam, e começam a mexer em suas malas.

— Ah, meu Deus, isso só piora — Ísis se queixa repentinamente.

— O que aconteceu?

Ísis leva a mão à cabeça e suspira. Revira a mala novamente, pois não está conseguindo pensar direito e talvez não tenha procurado o suficiente. Darren a observa preocupado.

— Eu não tenho roupa — ela finalmente diz.

— Como assim?

— Eu não queria correr o risco de amassar o vestido, então trouxe o mínimo possível de coisas na minha mala de mão. Não trouxe pijamas ou outra troca de roupa... — Ela remexe na mala mais uma vez. — E acho que esqueci a que eu estava vestindo onde nos trocamos.

Darren volta a conferir sua mala e coça a nuca.

— Ai, eu também esqueci. Mas eu trouxe um pijama... — Ele olha para Ísis com o pijama nas mãos. — Você não tem nada, mesmo?

— Só esse vestido. — Ela leva a mão à cabeça novamente.

— Bem... — Darren diz pensativo. — Sem chance de você conseguir dormir com isso. Você... pode ficar com a minha camiseta.

Ísis olha para ele e o analisa por alguns segundos. Ele já tinha tirado o paletó no carro a caminho do hotel, e agora, já pronto para trocar de roupa, está com a camisa por fora da calça, estendendo a camiseta do pijama em sua direção.

— Sua camisa é mais comprida — ela responde com a voz hesitante e desvia o olhar.

— Minha camisa? Essa? — ele pergunta surpreso, apontado para si.

— Sim. — Ísis coça a cabeça. — Se você não se importar.

— Tem certeza? Ela não está limpa...

Ísis suspira, com a cabeça doendo de sono.

— Darren, eu acho que já atingimos praticamente todos os níveis de intimidade aqui... Só falta usarmos a mesma escova de dentes. Camisas costumam ser maiores e mais compridas do que camisetas... Seria melhor.

— Ok — ele responde e começa a desabotoar a camisa.

Ísis pestaneja e se vira de costas para ele.

— Ahm, ok... Eu vou arrumar as coisas para tomar banho enquanto você se troca.

— Você vai tomar banho agora? — Darren pergunta sonolento.

— Sim... Ou você quer ir primeiro?

— Não, pode ir. Eu espero. Aqui... A camisa. — Ele estende o braço ao lado de Ísis, que pega a camisa e entra no banheiro.

Poucos minutos depois, entretanto, Ísis aparece na porta.

— Er... Darren...

Ele olha desconfiado.

— Ahm... Eu não consigo abrir o zíper do vestido.

— Ah, ok — ele diz se levantando. — Eu te ajudo.

Ísis se vira e Darren abre o zíper até o meio das costas, onde ela já alcança.

— Pronto.

— Ok, obrigada. — Ísis se apressa para dentro do banheiro novamente.

Algum tempo depois, ela sai, vestida com a camisa de Darren, tentando se esconder quando entra no quarto. Mas isso não era necessário, pois ele tinha adormecido enquanto a esperava, vestindo exatamente o que vestia quando ela entrou no banho: apenas a calça do terno que usara no evento. Ísis desvia o olhar e reflete se deve ou não acordá-lo. Tinha sido um dia tão exaustivo, e ela acha melhor não. Além disso – ela agora o observa –, ele está dormindo tão confortavelmente que ela não teria coragem de acordá-lo. Tem o impulso de passar a mão em seus cabelos, mas recua. Não seria nada inteligente fazer isso e a situação já era estranha o bastante. Acomoda-se do seu lado da cama, de frente para Darren, sentindo o perfume amadeirado com o qual ela já estava quase acostumada, mais forte naquela ocasião. Ela continua o observando, mas adormece antes do que imaginava.

Darren acorda num sobressalto, perto das cinco da manhã. O quarto era pouco iluminado por uma luz que vinha do banheiro. Ele demora alguns segundos para se situar e entender o que estava acontecendo, e se levanta à procura do seu pijama. Era tarde demais para tomar banho, agora. Ele se troca no banheiro e volta para o quarto à procura de água. Liga a lanterna do celular para facilitar a busca. Pega um copo e esquece de desligar a lanterna antes de conferir as mensagens no celular, e com isso ilumina diretamente Ísis, que se revira na cama, sem acordar. Darren engasga com a água e, agora sim, Ísis acorda, assustada. Quando percebe o que está acontecendo, se levanta e corre ao encontro dele. Com as mãos em seu rosto, assopra entre o nariz e a boca de Darren, e o ar volta.

— Obrigado — ele diz com a voz rouca e os olhos marejados.

— O que aconteceu? Você está bem?

— Ah... — Ele coça a nuca. — Patético. Eu engasguei com água. Acho que estava meio desacordado.

Ísis ri.

— Ok, então. Vou voltar a dormir.

— Desculpe te acordar.

Ela meneia a cabeça e se deita novamente, desta vez aproveitando que Darren não está deitado para entrar embaixo do lençol. Darren se senta no chão, de frente para a cama e não consegue voltar a dormir.