Capítulo 32

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Na manhã seguinte, Mike envia uma mensagem para Ísis, explicando como seria o retorno para Paris, já que ela era a única que ainda não sabia como iriam se organizar. Com toda a exposição dos últimos dias, a volta de trem se torna inviável, e eles devem fazê-la em dois carros. Para lhe dar tempo de arrumar suas coisas, os meninos, informados do retorno desde o dia anterior, deviam ir primeiro.

Por um lado, Ísis se sente aliviada por não precisar encarar Darren e Mike ao mesmo tempo de novo. Mas sabe que precisa fazer algo quanto ao Darren. Tudo foi tão rápido e estranho, que ela poderia questionar suas lembranças do que ele lhe disse no arquivo, mas a conversa com Connor era prova mais do que suficiente de que ela não estava delirando. O Connor sabia, e fez parecer tão óbvio. Ele disse saber há um bom tempo... Mas como? E ela se concentrou tanto em "manter uma distância segura" do Darren que talvez ele tenha entendido tudo errado.

É impossível não escutar Lívia perguntando se era mesmo uma questão de entender errado... Afinal, não dá para negar a materialidade do que aconteceu entre ela e o Mike. Mas com certeza as coisas não eram como Darren pensava. E também não era essa a questão, e sim o que fazer a seguir. O Darren claramente não tinha pensado direito antes de se declarar daquela forma. A julgar pelo que Connor dissera, ele não pretendia voltar atrás, mas provavelmente não tinha pensado nas implicações disso. O que, afinal, ela deveria fazer com essa "informação" agora? Além de sentir vontade de gritar euforicamente?

Há pouco mais de dois meses, quando ela descobriu quem ele era, tinha optado por ser racional e se manter emocionalmente distante para não se iludir com algo que considerava impossível. Era triste, quando ela parava para pensar. Mas seguro. E ela quase nunca pensava nisso, já que a convivência entre os dois era boa e era melhor ficar ao lado dele sabendo que ele era inatingível, do que nunca o ter conhecido. Mas agora... Entre todas as coisas surreais que aconteceram nas últimas semanas, isso ganhava disparado, porque era a única coisa com a qual ela não tinha pista alguma sobre como lidar.

Queria correr para o Darren, dizer como se sente, abraçá-lo, beijá-lo... Mas como? Durante esses meses de convívio, era inevitável pensar em como seria ter um relacionamento com ele às vezes. Mesmo para a farsa com o Mike ela tinha criado paralelos imaginários com o Darren. Agora, justamente por isso, ela conhecia, com mais clareza do que gostaria, o lado complicado de namorar um idol. E se fosse só isso, tudo bem. Ela se adaptou a uma farsa, por que não se adaptaria a uma realidade? Com o Darren! Mas ela sabia que esse seria provavelmente o pior momento para terminar as coisas com o Mike, e desmentir tudo estava, sem sombra de dúvida, fora de cogitação.

Sem nenhuma resposta prática sobre o que fazer, Ísis enrola o máximo que consegue no quarto, para garantir que os meninos já tenham partido quando ela for tomar café da manhã, e depois envia uma mensagem para Mike, avisando que está pronta para irem embora.

Alguns minutos depois, os dois já estão no carro em direção a Paris. Mike parecia mais descontraído do que nos dias anteriores, apesar de ter comentado apenas amenidades, o que, na verdade, Ísis pondera, era o seu comum quando não precisavam discutir algum assunto mais sério sobre a mentira dos dois. Mas agora eles precisavam, e Ísis lhe pergunta em voz baixa se é seguro conversarem, indicando discretamente o motorista. Mike faz que sim com a cabeça, e ela prossegue:

— Eu não te perguntei, ontem, como você pretende lidar com as fotos novas...

— Do Darren?

Ísis concorda em silêncio.

— Ah, realmente não é nada de mais. Minha agente também acha. Quer dizer, a gente já tinha mencionado o Darren antes, de qualquer forma. É só um boato, não tem por que alimentarmos isso. A melhor coisa a fazer nesse caso é ignorar.

— Hmm...

— Mas, de qualquer forma, acho que vamos precisar de um pouco de exposição hoje. — Ele a analisa, hesitante. — Sabe, as últimas imagens nossas circulando por aí não são exatamente muito românticas.

Ísis o observa desconfiada.

— E você planejou algo?

— Não... Ahm, não sei. Nós não terminamos o passeio que você planejou aquele dia, antes da chuva, terminamos?

— Não.

— O que você acha? Podemos fazer isso antes de voltarmos para o hotel então...

— Ok.

— Vamos garantir boas fotos. Jia you! — Mike faz um sinal afirmativo com o polegar e sorri. Depois analisa Ísis por alguns instantes.

— Está tudo bem mesmo? Você está monossilábica. Isso me deixa mais preocupado do que quando você diz um monte de coisas sem sentido.

Ísis ri e responde com uma careta.

— Coisas sem sentido?

— Uhum. Eu prefiro quando você está tagarelando sobre coisas sem importância, ou sobre signos. Ou sobre história! É, sim. Muito melhor. Sobre história. Me conte algo que eu não saiba sobre Paris.

— Ah, qual é... — Ísis não consegue conter uma risada. — Você nem prestou atenção no que eu disse sobre Joana D'Arc aquele dia na Torre.

— O quê? Como você sabe? — Mike faz graça.

— Você quase derrubou uma das armaduras em exposição. Três vezes.

— Eu pensei que você não tivesse visto.

— Eu não sei que tipo de super-herói você acha que é, mas com certeza não é do tipo invisível, sabia?

Mike a encara, um pouco surpreso.

— O que foi? Eu te sigo no Instragram já faz um bom tempo... E você não é nada discreto sobre seus gostos e pretensões.

— Eu não tinha pensado nisso.

— No quê?

— Que você poderia ser uma... Fã?

Ísis concorda com a cabeça.

— Isso é estranho... Eu não tinha mesmo pensado nisso. Acho que estava considerando que você também me conheceu na festa.

— Isso é realmente estranho — Ísis desdenha. — Você esqueceu que é famoso?

— Bom, está claro que eu não posso ir tão longe, né?

— É...

Mike continua a encarando e Ísis se sente incomodada.

— O que foi? É você o famoso.

— É estranho. — Ele balança a cabeça.

Ísis ri.

— Ok, já entendi essa parte.

— Ah! Não você... Eu quero dizer...

— A situação. A situação é toda estranha, Mike. Esse era o meu ponto desde o começo.

Ele concorda com a cabeça.

— Ah! E por falar nisso... Tem mais uma coisa. Como vamos fazer com o hotel?

— O que tem o hotel?

— Nós estamos no mesmo quarto nele também, esqueceu?

— Hmm, verdade. E isso é um problema pra você, certo?

Ísis concorda com a cabeça e Mike reflete em silêncio por alguns instantes.

— Ah! Acho que tenho uma boa desculpa para mudar de quarto: amanhã é a minha audição. Eu preciso estar focado.

— Uau, já é amanhã? Bom, eu acho que funciona.

— É. Então eu acho que é melhor voltarmos para o hotel primeiro, o que você acha? Assim deixamos nossas malas nos quartos certos, depois vamos almoçar e ver o que podemos fazer com seu roteiro.

— Ok, por mim tudo bem.

21h30 em ParisOnde histórias criam vida. Descubra agora