Capítulo Cinco - Elizabeth Souza

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RJ, 20 de Julho 2020

Não existem palavras pra descrever o que eu to sentindo. Estava completamente em choque. Não conseguia acreditar nem por um segundo que aquilo era real.

Gravem estas palavras porque elas não serão repetidas muitas vezes por mim: O Luiz estava completamente certo. Eu postei alguns dias atrás um vídeo cantando e tocando violão e ele simplesmente explodiu.

Meu número de seguidores mais que dobrou. As pessoas começaram a fazer duetos, usavam o áudio para fundo de vídeo, outras até chegaram a dublá-lo (o que, confesso, que não entendi muito bem a motivação, mas me ajudava na divulgação então não iria reclamar). Também passei a receber vários pedidos para eu cantar outras músicas. Estava sendo uma loucura incrível.

E como agora eu não saia do Tiktok nem com uma arma apontada na minha cabeça, estava jogada na minha cama vendo álbuns vídeos quando meu irmão mais velho me ligou.

- Quer dizer que minha irmãzinha ficou famosa e nem teve tempo pra ligar pra mim e me contar? - É a primeira coisa que Carlos diz quando atendo a chamada.

- Você também viu o vídeo? - Pergunto animada e um pouco surpresa também.

- E teve alguém que não viu?

- Eu não tô conseguindo acreditar ainda, Carlos. Teve até gente famosa que viu, curtiu e COMENTOU o vídeo. Tem noção disso? Eu vou ter um ataque, meu coração não aguenta. - Acabo atropelando ele de tão empolgada.

- Ei ei ei, não morre no meio dos seus segundos de fama não, pirralha. - Ele brinca. - To muito orgulhoso de ti, Liza. Você merece tudo isso e muito mais, sabe disso, não sabe?

- Não fala coisa bonitinha que eu vou chorar. - Digo já emocionada. - Te amo demais viu.

- Também te amo. Mas confesso que fiquei magoado por você não ter me mandado o vídeo, tive que descobrir pelo Facebook. Isso devia ser crime.

- Meu deus eu fui até pra lá? Será que a mãe e o pai viram também? - Pergunto assustada, sabendo que essa era a única rede social (sem contar o WhatsApp) que meus pais tinham.

- Provavelmente sim, Liza. Eles não falaram nada aí não?

- Eu não comentei nada com eles e nem eles comigo. Então pensei que não tivessem visto.

- Vocês continuam nesse clima aí? - Carlos perguntou parecendo cansado de repente.

- Eles não querem me ouvir, o que eu posso fazer? Já falei um milhão de vezes que não quero essa vida pra mim, mas eles pouco se importam.

- É claro que se importam, Liza. Ainda que de um jeito estranho e disfuncional, eles se preocupam muito com nós três. - Meu irmão fala calmamente. - Os dois só querem que você tenha uma carreira mais estável. Que não precise se preocupar tanto com dinheiro. Sei muito bem que eles demonstram isso de uma forma totalmente errada e você sabe que eu já falei disso com eles inúmeras vezes. Mas é difícil. Você não é idiota, sabe a situação que o país está. O tanto de gente desempregada, passando fome. Eles só não querem a gente passando por isso.

- Como se a faculdade fosse a única forma de se chegar a essa "estabilidade".

- Eu sei, essa porra é elitista pra cacete. Mas acaba que é como eles pensam.

- Só que isso não é pra mim, Carlos. Você sabe que eu admiro muito o médico incrível que você é. Sabe que é um exemplo pra mim. Mas eu não consigo me ver feliz vivendo em nenhuma dessas três caixinhas que eles querem me encaixar. Desculpa, mas eu não consigo. - Falo com lágrimas nos olhos.

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⏰ Última atualização: Jan 16, 2022 ⏰

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