CAPÍTULO XIV, MEU TIPO

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— Minha filha.— é a primeira coisa que escuto quando chego em casa.

No momento em que dona Adélia agarra meu corpo e começa a chorar, uma onda de dormência me invade e todo o resto da família corre para envolver nós duas em um abraço único. A sala parecia pequena para a quantidade de gente que tinha ali. E eu sabia o porquê, todos vieram dar apoio. Eu agradecia aos céus por ter chegado em casa com segurança e realmente precisava disso para me sentir bem. Não apenas por causa do meu quarto, meu banheiro, minha privacidade, mas as pessoas que ali estavam e que faziam toda a diferença na minha vida.

— Mãe, estava com saudades.

Antes que eu pudesse apertar ainda mais nossos corpos, meu sobrinho adentrou no 'bolinho' de gente e se prendeu na minha panturrilha, chorando copiosamente. A reação fez com que todos se afastassem para ver a cena. Ícaro tinha os olhos vermelhos e tentava limpa-los com a manga da blusa, ao mesmo tempo que seu nariz escorria.

— Tia, meus amigos falaram que a senhora estava triste do outro lado mundo. A senhora estava?— ele me olhava de forma apreensiva e minha reação mais rápida foi pegá-lo no colo para conseguir ficar cara a cara com meu sobrinho.

— A titia ficou triste sim, mas agora está tudo bem. Estou com você de novo e isso me deixa alegre.

No momento que seus bracinhos rechonchudos envolvem meu pescoço, o resto da família que até então apenas observava a cena, retorna para o abraço apertado de antes. O sentimento acolhedor era tão forte que emanava por todos os cantos daquele lugar e eu conseguia me sentir verdadeiramente em casa. Toda minha família sem exceção já organizava uma enorme comemoração e até Jones parecia se enturmar bem, junto de Tadeu, mesmo que não falasse português.

Raul e Jae conversavam sobre algo enquanto vasculhavam algumas coisas no celular e de vez enquanto me lançavam um olhar. Eu entendia que depois disso tudo, precisaríamos conversar. Jae, por ser também tradutor da agência, veio ao Brasil finalizar seu trabalho e eu me sentia contente por estar sendo guiado por dois profissionais de excelência.

— Ayla, entre aqui.

Minha mãe, que antes estava em seu quarto, abre a porta e me chama baixinho, apenas para eu escutar. Mas se a intenção era essa, não tivemos muito êxito, já que meu pai também adentra o quarto, dando a entender que participaria da conversa quer quisessem ou não. Sento na beirada da cama, esperando o rumo que a conversa tomaria. Mas ao contrário do que eu imaginava, eles dois se abraçam, na tentativa de esconder um choro. Seu Sérgio, inclusive, chorava mais que minha mãe.

— Ei, não... Não pai. Não mãe! Não chorem, por favor.— a tentativa falha de pedir algo foi o suficiente para que eu também começasse a chorar discretamente.

— Ficamos tão preocupados, Ayla. Quase íamos para a Coreia atrás de você.—meu pai funga, antes de continuar.—Só não fomos porque acreditamos na sua palavra e se você diz que está tudo bem, o papai e a mamãe confiam.

— Mas desde a história daquele rapaz, as coisas parecem ter mudado. Antes estávamos preocupados com o sucesso da série, filha, sabemos que é importante para você. Fora todas as outras coisas que tinham acontecido. Mas agora não, sabemos que dará tudo certo.

Sucesso... As coisas tinham mudado mesmo.

— Falando naquele rapaz, você o conhecia? Não entendemos os ataques, filha. Quem é ele?

Quem é ele? Eu me perguntava o mesmo.

— Nos conhecemos por acaso, e eu sabia que ele era cantor, mãe. Mas não sabia que as coisas iriam por esse caminho, estávamos no mesmo hotel e por isso nos esbarramos algumas vezes. Ele acabou saindo conosco.

De Norte a Sul, Leste OesteOnde histórias criam vida. Descubra agora