Capítulo 5 - Contra o tempo

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"Teu olho despencou de mim...

... Não reconheço a tua voz...

... Não sei mais te chamar de amor...

...Não ouviram falar de nós..."

— De onde vem essa música — indaga Leonardo que juntamente ao som escuta sua própria voz em eco.

'Adeus Leo, Namorar você foi um erro'

— Gabriel  o quê?? Onde você está?? Não amar nunca é um erro, para com isso deixa eu sentir onde você, porque eu não o sinto.

'Pobre ceguinho, vai ficar sem ninguém'

— Gérson? Deixa ao Gab em paz nós nos amamos —  diz o menino com lágrimas nos olhos. 

'Ninguém nunca vai amar você, as pessoas têm pena de você'

— ISSO NÃO É VERDADEEEEEEEEEEEEEEEE!


***


Leonardo convulsiona na ambulância, a alta  velocidade do veículo somadas as contrações violentas do garoto fazem a maca deslizar sem controle. Todos os aparelhos emitem sinais de perigo, batimentos estão acelerados enquanto a taxa de oxigenação caí, e no segundo seguinte os batimentos iniciam uma diminuição da frequência.

 Todos os aparelhos emitem sinais de perigo, batimentos estão acelerados enquanto a taxa de oxigenação caí, e no segundo seguinte os batimentos iniciam uma diminuição da frequência

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— VAMOS PERDER ELE! — Grita o paramédico.

— RÁPIDO O DESFIBRILADOR EM 50W, SE AFASTEM! — O coração de Leonardo não reage.

— AUMENTA A VOLTAGEM PARA 100W, RÁPIDO! SE AFASTEM! — todos olham atônitos para o monitor de ECG que parece inalterado mesmo com a intervenção do desfibrilador.

O paramédico inexpressivo grita ao assistente para subir a voltagem para 170w, friccionara ambas  pás do equipamento, pede a todos que se afastem e aciona a eletricidade que percorre todo o corpo do menino que se contorce involuntariedade. Sua mãe no canto da ambulância  com o rosto lavado em lágrimas e com um olhar desfocados até que as linhas no monitor voltam a compassar e os sinais vão se estabilizando.

— Foi por pouco — Comenta ofegante o paramédico secando a testa que brotava agora  gotículas de suor — o inchaço está causado convulsões, precisamos chegar rápidos.

***

Gabriel encara seu pai e seu suposto tio, o ar pesa, não cabia em sua compreensão a intolerância de seu pai ante as descobertas atuais. O som do trânsito harmoniza com o pesado silêncio que se  estabelece, com Gab encarando o chão, seu pseudo "tio" complementa:

— Só queremos te proteger, te dar uma oportunidade que não tivemos.

— É inacreditável — O garoto encara os dois com raiva, muito pelo pensamento estar em Leonardo que estava com risco de morte — POR VOCÊ TEREM VIVIDO ISSO, saberíamos muito bem O QUÃO É difícil amar uma pessoa que o mundo todo fica a todo momento falando ser errado COMO É TODOS TE TRATAREM COMO ABERRAÇÃO em uma situação a qual você não escolher.

— Mas filho...

— EU NÃO TERMINEI! —  Gabriel sente seus olhos lacrimejar —  O mundo faz todo LGBT se sentir um monstro por ser quem somos, nos fazem nos odiar e eu decido quando isso acaba, Gerson, eu vou para o hospital, não me siga, seu filho morreu aqui.

Gabriel vira as costas, pega a bicicleta e segue para o hospital. Atônitos, os dois adultos se entreolham em silêncio e veem o rapaz se distanciar mais e mais, até sumir ao virar em um cruzamento.

***

A cirurgia de Leonardo é complexa, o tumor está em uma área de difícil acesso que pode afetar a fala caso um erro seja por imperícia cometido. É preciso cautela em cada passo. Dr. Gustavo Marvollini, cirurgia chefe especialista nesse tipo de tumor, efetua os preparativos enquanto o garoto é entubado, ele sabe dos riscos, mas se mantêm confiante que tudo dará certo. Com a confirmação que Leo esta inconsciente e verificando a estabilidade de seus sinais vitais, as 18h55 ele faz sua primeira incisão para retirar uma pequena porção de pele pouco acima da nuca do Leo que servirá de acesso à máquina que cortará o osso e permite as incisões intracranianas. Com a assistência de um microscópio e um monitor, cada passo da incisão é acompanhado por toda equipe cirúrgica que apreensiva com a gravidade do quando mantêm um silêncio espectral. 

Após 1h de cirurgia é possível visualizar o tumor e sua delicada posição, alimentando diretamente de uma importante artéria cerebral. O prognóstico era: Se não fosse operado ele morreria de uma hemorragia cerebral, e se fosse operado seria necessário extremo cuidado para não causar a mesma lesão. 

O cirurgião com uma precisão impar prossegue na operação, os minutos contam em desfavor de Léo, mas, calmamente é possível vislumbrar e retirar o tumor. 


FIM.









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