Capitulo 2 - Sempre Contigo

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Sentia o gélido frio noturno massagear meu rosto enquanto apoiado sob a bicicleta, Gabriel carregava-me para um destino ainda desconhecido

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Sentia o gélido frio noturno massagear meu rosto enquanto apoiado sob a bicicleta, Gabriel carregava-me para um destino ainda desconhecido. A velha berlineta, que Gab tinha desde os 11 anos, agora cortava ruas desertas.
Após vários minutos cruzando a cidade, sinto que vamos nos afastando do centro, pois agora, o orvalho impregnava meus cílios, depois de uma última curva fechada, finalmente a bicicleta parou.

— Chegamos — ouvi Gab dizer após soar o barulho do gatilho que mantinha a bicicleta estática durante a ociosidade.

Seguro o braço de Gab, centímetros acima do cotovelo, e o sigo em silêncio. A aparente floresta onde estávamos estava tranquila, somente os sons de nossos passos irrompiam a quietude do lugar, quando finalmente paramos, Gabriel me pede para tirar os sapatos, eu meio confuso os tiro e sinto pela primeira vez meus pés tatearem uma superfície fria e úmida. A cada passo sentia o chão ceder sob meu peso, então percebi que estava em um local de muita vegetação, provavelmente na floresta da cutia, que fazia orla com minha cidade. Depois de caminhar mais um pouco com essa distinta sensação, sinto meus pés tatearem algo macio e fofo, que logo percebo ser uma espécie de toalha de piquenique ou lençol. Gabriel me senta, e aninhando ao meu lado começa a falar:

— Quando eu perdi minha mãe, eu me senti tão pedido que comecei a me centrar em mim, li tantos livros quanto conseguisse somente para ter um lugar para fugir, queria suprimir a dor então usei todos os mundos imaginários possíveis para anestesiar-me.

Sinto Gabriel suspirar profundamente e em seguida continuar.

— Então ficamos papai, Jonathan e eu. Papais decidiu mudar para cá, pois seria uma vida nova, recomendaríamos do zero, então após as últimas semanas ele vem ficando cada vez mais distante de mim, me trata como um invisível.

Tento não demonstrar, mas internamente um sentimento de dor lacerava-me, sei que o motivo dos intentos de Gabriel são em parte culpa da nossa relação, apesar de ganhar minha dose de amor, ainda restava litros de drama. Como poderia permitir que ele sofresse por conta da minha entrada na vida dele?

— Então ontem, ele bateu na porta do meu quarto e disse-me que havia me alistado no exército — Gabriel pega minha mão esquerda, sinto que ele está tremulo, após um suspiro profundo ele continua — parto em uma semana, ficarei um ano na Amazônia.

Senti as extremidades do meu corpo perderem a sensibilidade como se estivesse caindo em um poço que sabia não possuir fim, em minha cabeça as palavras ecoavam dispersas, incapaz de assimilar:

Ficarei um ano na Amazônia... ano na Amazônia... um ano na Amazônia...

Ainda submerso em mim, primeiro senti raiva, não entendia porque isso sempre acontecia comigo, porque que todos que eu amava iam. Vovô, tio Jhonatan, meu melhor amigo Kevin e agora Gabriel estava partindo também, o porquê de tantas desventuras martelavam-me. Um a um todos que cativaram-me foram tirados de mim. Forço minhas pálpebras para sem sucesso conter um choro plácido, mas que revelam a dor que Luís Vaz de Camões declamava como um "fogo que arde sem se ver".

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