4 - O misterioso viajante

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Tentei esquecer tudo o que havia acontecido na noite passada quando eu acordei, um pouco dolorido por causa da briga entre mim e Benn, pensava comigo mesmo quais seriam as consequências que teria quando Andrew retornasse, eu e Benn não éramos mais crianças e realmente podíamos ter se matado ou até mesmo ir preso pelos guardas da vila. Imaginava também qual seria o pensamento de Immith após ter quebrado o nariz de seu irmão gêmeo, não a culparia se ela estivesse irritada comigo, hoje finalmente seria o dia da feira então sabia que cedo ou tarde eu a encontraria perambulando pela vila.

Mais uma vez levantei da minha cama para começar um outro dia, antes de sair de casa comi o resto de carne de caça que havia comprado no açougueiro Rudolph, calcei minhas botas de couro marrom junto com meu traje de roupas leves e saí mais uma vez em direção ao centro da vila para ver o que os viajantes traziam de suas viagens.

Junto com o som do meu pisar no chão de terra da vila o sol e o céu azul me acompanhavam, clareando toda a vila e os montes em volta dela. Os viajantes passavam apenas pela rua principal da vila para poder atravessar e chegar do outro lado onde eles entrariam na grande estrada que os levaria até Bhalzog, mas uma grande maioria parava por ali para beber, comer, fazer sexo ou até mesmo vender itens e histórias para conseguirem mais moedas de ouro.

De encontro com a rua, conseguia observar uma vasta quantidade de homens que vestiam roupas de frio, casacos e luvas já que estavam vindo do Norte provavelmente pelas Terras Cordiais no reino do Urso. Os viajantes cansados desciam de seus cavalos e iam fazer o que tinham em mente, a taverna do Wigan ficava nesta mesma rua portanto todos os que iam encher a cara entravam ali. Lembrei que na noite passada Sarah havia dito que os andarilhos contavam suas histórias em troca de moedas lá dentro, portanto assim que soube aonde ir, caminhei para a taverna. Entrei passando por vários homens barbudos bem mais altos que eu, homens semelhantes a Al e tentei encontrar um lugar para me acomodar. O lugar era iluminado pelas tochas que ficavam na parede de pedra, mas o ambiente ainda se mantinha meio escuro, as mesas e cadeiras eram de madeira assim como o chão, era espaçoso e cabia bastante gente. Não me senti intimidado, sabia que conseguia me virar sozinho, mas também sabia que como era o irmão mais novo de Andrew ninguém ousaria me aborrecer, pelo menos não dentro da vila.

Os moradores junto com os cansados viajantes causavam o alvoroço dentro da taverna, havia músicos que animavam o lugar enquanto eles bebiam cerveja em grandes copos de madeira e davam risada e conversavam alto. Já dentro da taverna avistei Sarah que se encarregava de entregar as bebidas aos que pagavam, me aproximei para perguntar a ela quem iria contar as histórias de viagem.

- Sarah! É bom vê-la novamente. – Subi um pouco o tom por conta do ambiente alto.

- Igualmente Thomas. Veio para ouvir os viajantes? Ou talvez, esteja interessado numa bebida? – Perguntou suavemente Sarah.

- Os viajantes. – Respondi, escolhendo a primeira opção.

Já tinha idade o suficiente para beber bebidas alcoólicas, mas nunca consenti com tal coisa porquê sempre fui focado em meus treinamentos.

- Desça as escadas para ir até o salão que fica embaixo, o contador de histórias estará lá. – Sarah me disse enquanto lavava alguns copos. – E Thomas, caso pergunte, Immith está lá também. – Completou Sarah.

- Certo... Obrigado. – Agradeci meio sem jeito, como quem não tinha gostado de ouvir a notícia.

Antes de descer as escadas ia perguntar para Sarah sobre sua relação com Andrew, mas seu pai o dono da taverna, Wigan, a chamou bem na hora, parecia estar com pressa quando gritou ''Sarah! mais cerveja!''. Wigan era um senhor baixo que se aparentava como um anão, havia alguns fios cinzas na sua careca lambidos para trás, tinha o rosto quadrado com uma mandíbula bem definida e olhos esbugalhados. Sarah se virou para atender a clientela e eu aproveitei o momento para descer as escadas que havia logo a minha frente para ir para o subsolo.

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