Capítulo 1- O príncipe e a Heroína

10 4 3
                                    

A muitos milênios existia um rei cruel e egoísta, que queria tudo para si, naquela época os animais falavam, as fadas voavam sem medo e as pessoas eram mágicas, todos eram felizes com as suas individualidades, menos o rei, com seu poder medíocre, diferente do seu filho. O rapaz tinha o poder de transformar sonhos em realidade, porém apenas um por pessoa, de todos os cantos, criaturas mágicas e humanos vinham conhecer o príncipe, que brilhava mais que o próprio sol.

O rei, cheio de inveja, tinha que tomar alguma medida sobre aquilo, mas mesmo com a inveja ele ainda amava o filho, não poderia carregar a culpa de matá-lo, então o rei foi aturando aquilo, esperando até que ele tivesse algum plano para tirar os poderes do filho. Os anos se passaram, e o reino prosperou, o povo era feliz, graças ao príncipe, que agora era rei. O antigo rei estava velho e perto da morte, ele só podia esperar ser levado por ela, mas a morte não o encontrou, ele viveu mais e mais, mesmo doente e velho, parecia que a sua inveja espantava a morte, viver havia se tornado uma dor para o antigo rei, seu filho sentindo pena do pai, sentou ao seu lado na cama, olhou em seus olhos vermelhos e perguntou:

_ O que ainda lhe prende a essa terra meu pai? _ O jovem rei falou suavemente, enquanto acariciava a careca lisa do pai.

_  Acredito que seja um antigo desejo que tenho meu filho. _ O velho mal conseguia falar, suas palavras saiam enroladas mais pareciam grunhidos.

_ Se é um desejo deveria ter me pedido, eu posso acabar com a sua dor, meu pai nunca me pediu nada, devo fazer isso para aliviar a sua dor. _ O rapaz colocou a mão no peito do pai, procurando seu desejo mais profundo e assim que o achou era tarde demais.

O velho rei tentou impedir o filho, mas já era tarde, seu maior desejo era que o filho servisse apenas a ele e que estivesse preso para que ninguém pudesse ver todo o seu brilho, o homem não entendeu quando o corpo do filho começou a virar fumaça e foi sugada para uma lamparina, onde o rapaz se juntou às chamas.

O rei tocou na lamparina e com o rosto cheio de lágrimas ele desejou que o filho voltasse, mas não era isso que o seu coração realmente queria, o rei queria ser novo novamente para poder desfrutar dos poderes do filho, e assim foi concedido. Dentro da lamparina o rapaz gritou de dor, era como se as chamas o consumissem, ao ver o pai jovem novamente ele se assustou, soube naquele momento que estava daquele jeito por causa dele.

_ Meu querido filho, não sabe o que podemos fazer com isso.

O rei saiu do seu quarto com a lamparina na mão e anunciou aos quatro ventos o que havia acontecido.

O povo se revoltou, não deixariam o seu rei naquela lamparina, os melhores guerreiros se reuniram e atacaram o palácio, com toda a suas forças tentaram arrombar a porta do palácio, mas foi em vão, o rei tinha todo poder do mundo em suas mãos. O povo tremeu de medo ao notar que todo o seu esforço não ia adiantar de nada, quando foi a vez do rei atacar ele soltou bolas de fogo pela boca, assim como desejou, o povoado foi praticamente dizimado, milhares de animais e fadas fugiram com medo da repressão do rei.

Para construir um império que dominaria o mundo o rei transformou o povo em escravos, roubando deles suas individualidades, para se fortalecer e viver para sempre, ele caçou as fadas para ter sua beleza, então elas se esconderam na terra, se esquecendo de como era voar, virando apenas mais flores e árvores inanimadas. Enquanto os animais, o rei os considerava inferiores e jurou caçar até o último animal falante, assim com medo eles pararam de falar e se esqueceram de até como raciocinar.

Tudo parecia perfeito para o rei, até que surgiu uma heroína das terras distantes do norte, com uma pele mais preta que a noite e cabelos ondulados como as ondas do mar, ela carregava consigo uma espada prateada cheia de joias e usava uma armadura brilhante, a heroína sabia que não seria capaz de enfrentar o rei perverso, por isso se infiltrou no palácio.

Se esgueirando por aqueles corredores como um ladrão, e então quando o rei dormiu ela entrou em seu quarto pronto para matá-lo, mas foi aí que ela viu a lamparina, sempre acesa, sempre brilhante.

Seu brilho a chamou atenção, e sem pensar muito ela pegou a lamparina velha e saiu correndo para bem longe, apenas desejando que o rei não a achasse, a lamparina brilhou em um amarelo ouro, e a heroína nunca foi achada assim como a lamparina, dizem que os dois estão escondidos até hoje da fúria do rei cruel.

****

_ Mas vovó, a história não pode terminar assim, o príncipe nunca saiu da lamparina? _ A garotinha não se aquietava na cama com perguntas para a senhora, que havia cometido o erro de logo contar aquela lenda para a neta.

_ Minha querida, a vovó não sabe. _ A senhora pegou a mão da neta e a acariciou tentando acalmar ela, porém a mesma se levantou e pegou um pedaço de papel e uma caneta. _ O que está fazendo Kira?

_ Estou escrevendo um final melhor para essa história, é ridículo que acabe assim. _ A garota começou a escrever em sua mesa de canto, enquanto a avó a olhava de longe.

_ Está bem, mas não demore para dormir, você tem aula amanhã. _ A senhora deu um beijo na testa da neta e saiu com um sorriso no rosto.

A garota escreveu a noite toda, sempre achando que o final ficava pior a cada vez, tentou tanto que caiu no sono ali mesmo, Kira se dedicou aquela história por anos até que terminou o final, bem a tempo da competição de contos da sua escola, ela estava confiante, sabia que poderia ganhar. Assim que o resultado saiu, Kira comemorou sua vitória, o primeiro lugar era perfeito.

Porém foi a única vitória da garota, ao passar dos anos Kira escreveu mais e mais, se tornando uma escritora, ela se esforçou ao máximo e acreditava que colocava todos os sentimentos em cada palavra, mas seu trabalho não era reconhecido, sem escolha a jovem adulta deixou de lado a escrita para trabalhar em uma cafeteria, para pagar as contas, e o sonho de ser uma escritora morreu.

Lamparina dos desejosOnde histórias criam vida. Descubra agora