⠀ ⠀⠀⠀⠀𓏲ঌ 𝑻𝒘𝒐

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Aos poucos, com o passar dos dias e a observação constante que fazia a Mahito, S/n foi desenvolvendo a habilidade de sentir e entender como funcionava a própria energia amaldiçoada. Não havia falado isso para ninguém, por mais que quisesse e até mesmo pensasse em pedir ajuda para compreender melhor, algo dentro de si mandava que não o fizesse; pelo menos, não agora.

Em uma noite, mais uma das quais vagava pelo esconderijo onde estavam perto das tubulações de esgoto, encontrou uma saída que dava para uma espécie de terreno baldio. A campina vasta se estendia por cerca de duzentos metros à frente, onde havia uma colina que abrigava um vistoso salgueiro-chorão.

Olhou para trás, para a escuridão do túnel; a vontade de prosseguir adiante era enorme, mas havia também o receio. Desviou então seu olhar para o céu estrelado acima de si e sentiu queimar dentro de si uma fagulha de um sentimento que não conseguia identificar. Na mesma hora, soube que deveria prosseguir. Queria andar até aquela árvore e ver o que tinha mais à frente; aquela ansiedade causada pela curiosidade a consumia. Andava a passos apressados.

Quando chegou ao local desejado, apoiou a mão direita sobre o tronco do salgueiro, e a outra trouxe até o peito, na altura do coração – este que sentia bater acelerado como jamais estivera. O que estava à frente de seus olhos era apenas estonteante, magnífico.

As luzes agitadas da cidade formavam um contraste desbalanceado com o fulgor das estrelas que brilhava no céu. Não, estas sem dúvidas pareciam brilhar mais. Estavam tão perto, mas ao mesmo tempo tão distantes.

Quando S/n levantou seu pé e estava prestes a dar um passo em direção ao vasto mar luminoso que se encontrava ao descer a colina, sentiu uma mão pesar sobre seu ombro.

— Onde pensa que está indo? – indagou com naturalidade a voz masculina de timbre doce que já lhe era conhecida.

Ao voltar seu olhar para trás, viu as escuras orbes negras a encarando.

— Eu só... eu... – não sabia o que dizer e nem como. — Vim... dar uma volta. Estava curiosa para ver como é aqui fora.

Aquela imensa escuridão no olhar dele parecia analisá-la, como se estivesse tentando conferir a veracidade por trás daquelas palavras. S/n o encarou de volta sem receio, mas agora que olhava mais de perto, a negritude dos olhos de Geto parecia ainda mais hipnotizante do que as luzes dançantes que observava instantes atrás.

— É claro que estava. – falou de maneira calma. Então após o que pareceu ser uma eternidade, desviou o olhar dela para o horizonte. — É lindo, não é?

No fundo, ele se perguntava se essa maldição teria capacidade cognitiva o suficiente para apreciar algo e julgar entre belo e feio, dentre muitas outras coisas.

— É sim. Não sabia que poderia existir coisas assim... – ela falava enquanto sentia certa emoção a preencher por dentro, mas de um jeito diferente de como se sentia vendo o irmão praticar a Transfiguração Inerte, essa era uma sensação... confortável, acolhedora.

Tem muitas coisas que você não sabe.

A fala seca a tirou de seus devaneios. Por um breve instante, se viu sem reação diante dele. Ao reorganizar sua mente, viu o momento como uma oportunidade de sanar suas dúvidas – pelo menos uma parte delas.

— Geto-san... – conseguiu a atenção do moreno inteiramente. — Gostaria da sua ajuda para entender algumas coisas. – ela esperou por alguma resposta, até perceber que ele lhe deu espaço para externar seus questionamentos. — Eu e Mahito... não somos humanos. Vi uma vez quando disse a ele que esperava que ficássemos do seu lado, como todas as outras maldições. O que isso quer dizer? De onde viemos?

— S/n... – virou-se de frente para a figura feminina; assim tão perto, era nitidamente perceptível sua diferença de altura. — Ao que parece, você é mais sagaz do que aparenta. – uma risadinha leve escapou de seus lábios.

Ela não entendeu o que ele quis dizer com isso, e o moreno não deu brecha para que questionasse.

— Tenho certeza que você já tem consciência da sua energia amaldiçoada, não é? – a fala a fez gelar. Ela abriu a boca para falar algo, mas não conseguiu. Isso deveria ser um segredo. Como ele poderia saber?! S/n apenas assentiu. — Como eu esperava; afinal, você demonstrou inteligência. Você foi capaz de perceber sua natureza não-humana também... você e seu irmão são aquilo que conhecemos como maldições no mundo do Jujutsu. Maldições nascem a partir dos sentimentos negativos da humanidade. O ódio, rancor, tristeza, medo, frustração... tudo isso dá forças para que vocês existam. Porém, pequena S/n... – ele passou o dedo indicador pela linha do maxilar dela enquanto falava, causando arrepios na mesma. — Você foi gerada de uma anomalia.

— A-Anoma-lia?! – ela indagou hesitante.

Geto encarou a ela enquanto perguntava a si mesmo se deveria contar o pouco que sabia sobre o caso; ele não havia falado essas coisas nem mesmo a Mahito, que possuía o dobro da sagacidade de S/n por não ser tão ingênuo como ela era.

Após ponderar por aquele breve instante, concluiu que contar algo assim em teor de sigilo o faria conquistar algo importante: a confiança de S/n. E isso, sem dúvidas, traria a ele um benefício consideravelmente maior para manipulá-la com mais facilidade de acordo com seus interesses.

— O que vou te contar deve ser nosso segredo... seu irmão não faz ideia disso ainda. – falou e ela prontamente assentiu. — Geralmente as maldições são geradas uma por vez, mas no seu caso, o núcleo amaldiçoado que os gerou foi reforçado com mais energia amaldiçoada; isso ocasionou a divisão do embrião em dois, tornando possível a criação de gêmeos.

S/n tentava absorver ao máximo as informações que recebia. Mesmo sendo muito complexo entender tudo o que ouvia, gravava atentamente as palavras de Geto em sua mente para refletir em um momento posterior.

— E de onde veio... essa energia amaldiçoada? – ela juntava as peças.

— Esse é o ponto chave da questão. Seu irmão surgiu normalmente como as outras maldições, mais especificamente do ódio humano e tudo de mais impuro que vem com isso. Mas você... inesperadamente e em contrapartida a ele, veio das emoções negativas relacionadas ao amor. Até então, nunca tinha visto algo parecido.

Ele falava de maneira calma, mas instigava o pânico em S/n.

A esse ponto, a mente dela estava bloqueada, tentando encontrar um sentido nisso tudo.

— É de fato um diferencial, mas até o momento não sabemos em quê isso tem influência. – ele continuou. Voltou sua atenção para a cidade e observando o horizonte, falou: — Meus objetivos se ligam diretamente ao fato de que há humanos que podem ver as maldições e possuem energia amaldiçoada, enquanto outros não têm essa habilidade e são apenas macacos inúteis... – Geto parou de falar assim que olhou para o lado e viu o olhar intrigado de S/n sobre si. Não teve dúvidas de que já estava falando demais. — Mas esse é um assunto para outra hora. Está bom por hoje. Vamos voltar, sim? – ele sorriu à maneira leve de sempre, começando a caminhar de volta ao esconderijo.

S/n pensava sobre tudo o que lhe foi revelado e sentia a desconfiança que tinha de Geto anteriormente sumir; sem dúvidas, ele conseguiu atingir seu objetivo.

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𝐃𝐚𝐫𝐤 𝐏𝐚𝐫𝐚𝐝𝐢𝐬𝐞 - 𝐾𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑁𝑎𝑛𝑎𝑚𝑖'𝑠 ℎ𝑖𝑑𝑑𝑒𝑛 𝑠𝑡𝑜𝑟𝑦Onde histórias criam vida. Descubra agora