🩸 Capítulo 6

541 137 13
                                    

Matthew

Faço um movimento aberto com o braço e troco a bola da mão direita para a esquerda. Meu corpo acompanha a passada em alta velocidade indo para o lado oposto.

— Acerta essa, Matt, é a nossa última chance! — O grito de incentivo faz minha respiração ficar curta e as batidas do coração acelerarem.

Dou três quicadas com a bola no chão antes de conseguir driblar a defesa do adversário. Foco a atenção na cesta logo à frente e dou um salto para tentar uma enterrada, jogando-a entre o aro. A adrenalina acelera ainda mais a combustão no meu organismo nos breves segundos que o cérebro assimila se entrou ou não.

— Acabouuuuuuuuu, acabou, caralho! É nossa, é nossa!

Estico os braços, vibrando pela vitória, e sinto um abraço empolgado em cima de mim. Abro um sorriso enorme de alegria por ganhar outra partida. Foi acirrada, estava empatado antes da minha cesta. Eu amo essa sensação de euforia que o basquete traz, é muito melhor praticar atividade física assim do que ficar horas na academia como fui obrigado durante anos.

Todos os dias venho me divertir com os meninos, que jogam no final da rua da casa dos meus pais. Virou uma atividade sagrada que só furo quando preciso viajar, como foi o caso dos dias que passei na Califórnia com Thomaz ou quando vou para Chicago.

— A bola assinada pelo King James sempre me dá sorte — brinco, pegando-a do chão para fazer um carinho no local onde a sua letra está rabiscada.

— Eu agradeço aos céus, cara! — Paul junta as mãos em oração, olhando para o tom alaranjado do entardecer. — Desde que você entrou no time, pelo menos temos tido algumas vitórias.

O garoto alto e franzino foi o primeiro que eu conheci quando me mudei. Foi ele quem me chamou para jogar no seu time, que estava com um desfalque e vivia perdendo para os garotos da rua de cima. Temos uma rivalidade sadia no bairro.

— Bom jogo, mano! — O pivô do time adversário vem me cumprimentar e faz uma careta quando a sua pele toca a minha quente. — Não sei como você se acostumou com isso, eu sempre acho esquisito pra porra.

O tom é de divertimento, então, tento ignorar. Não é como se eu amasse ser diferente, ficar mais forte do nada e com a temperatura nas alturas. Se me fosse permitido escolher, ou tivesse uma forma de reverter, eu gostaria com certeza de ser uma pessoa normal, na medida do possível.

Fiquei com medo de fazer amizades fora da minha bolha no início por causa dessa diferença, mas, por sorte, não fui julgado pelos meninos do basquete. Há comentários como esse, porém, nada de mais. Mesmo sabendo da minha condição corporal diferenciada, ninguém se importou de me deixar jogar. Levamos tudo na diversão por aqui. O que não sei se aconteceria se um dia resolvesse jogar profissionalmente, por exemplo.

Com certeza, minhas habilidades seriam colocadas em xeque.

Fui o único que não quis ter mais ligação com as pesquisas. Pelo menos, por enquanto. Os 16 anos que passei no subsolo me fizeram ficar cético com o meio científico — embora, eu saiba da seriedade de algumas pessoas da área. Acho importante a cura das doenças, queria poder ajudar, contudo, não consigo me sentir confortável.

Toda vez que alguém menciona algo sobre a mutação, ou faz um comentário simples sobre a temperatura do meu corpo, minha mente se transporta para aquela realidade em que vivi, em que fui usado e enganado.

O senador Wright insistiu para que eu fosse o coordenador da Associação Lewis no Estado de Indiana, mas gentilmente recusei a oferta. Como diz minha mãe, estou em um ano sabático estendido, sem data certa para terminar. Nenhum dos meus amigos me cobra sobre nada — eu sou livre agora e posso fazer minhas escolhas.

Libertos [DEGUSTAÇÃO | DISPONÍVEL NA AMAZON]Onde histórias criam vida. Descubra agora