I CARAMELO

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I. Caramelo

Trezentos e sessenta e cinco dias, Belya repetia para si mesma, ela só tinha que aguentar trezentos e sessenta e cinco dias sem os vinhos Romanée-Conti classificados como Grand Cru, sem as compras na Gucci, sem os saltos e as bolsas da Saint Laurent, sem as baladas noturnas e sem as pessoas mimando a princesa que ela é a cada segundo. Ela podia lidar com isso, não havia nada mais viperino do que a monarquia e ela sobreviveu aquilo, cuidar de algumas crianças não devia ser tão difícil, não tinha como ser tão ruim assim, não é?

A verdade é que a princesa herdeira enganou-se, nem toda a crueldade do palácio poderia prepará-la para aquele campo de batalha.

Demorou apenas cinco segundos para Belya entender que dali pra frente, só seria pra trás. As orbes negras da princesa duplicaram de tamanho, não por conta do barulho que as crianças faziam enquanto corriam desgovernadas pelo enorme jardim, ou porque sua ficha finalmente caiu e ela percebeu que ficaria presa naquele lugar por um ano sendo responsável por aquelas doces e maravilhosas pestinhas que gritavam a plenos pulmões e tinham energia suficiente para manter uma cidade inteira funcionando por um mês.

E sim porque a pessoa que iria ajudá-la durante toda a sua estadia no orfanato Primavera, seria ele, a pessoa que causava na princesa um excessivo desconforto, ela não suportava seu sorriso perfeitamente impecável que aumentava de tamanho a cada segundo destacado ainda mais as suas duas covinhas que alinhavam-se de modo magnífico a estrutura fodidamente harmônica de sua face, as madeixas negras e rebeldes fizeram Belya suspirar, de desgosto, é óbvio, tudo naquele garoto era ridículo.

Cinco anos, ela não o via a cinco anos e mesmo após todo esse tempo a princesa não possuía vontade de perdoá-lo, as memórias continuavam a lesionar como ferro em brasa quente o seu orgulho mas nada era transpassado, sua inquietude acontecia por dentro e assim continuaria sendo.

Belly manteve-se firme e seus lumes negros poderiam engoli-lo vivo. A princesa sempre detestou a imensidão daqueles olhos verde água porque vê-los por tempo demais a levava a questionar sua aversão para com o segundo filho do duque, e a sua voz, aquela maldita voz, causava um forte embrulho no seu estômago. A princesa não precisava de sorte e sim de ajuda, de muita, muita ajuda. Porque se aquele patife pronuncia-se aquela palavra, Belya o jogaria da torre mais alta daquele edifício.

─ Caramelo! ─ Belya tentou assassiná-lo com um olhar. Levando uma mão ao peito, o garoto de sobrancelhas grossas lamentou. ─ Assim você me magoa, meu amargo caramelo.

─ Belya, me chame de Belya e Dillyon não existem caramelos amargos. ─ Belya só notou a presença do filho mais velho do Duque, porque ele pigarreou apontando o indicador para a parte mais elevada da construção. ─ Oi, Damon e obrigada por poupar meu trabalho, farei bom uso da informação.

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