Primeiro capítulo: Finalmente lhe encontrei.

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Tempos atuais...

— Eu posso te fazer uma pergunta? — Assenti com a cabeça para ela. — Qual é a sensação de perder a memória?

Respirei fundo, me corroendo por dentro.

— Bom, é, literalmente, se perder. É como estar preso em uma escuridão absoluta, sem saber o que está atrás de si. Um nó que não dá para desatar, porque, não se sabe como fazer isso.

Ela me encarou, seus olhos castanhos refletidos pela luz, qualquer um se apaixonaria pelo brilho que seu olhar transmitia, um misto bom de proteção e carinho.

— E como é... — hesitou por um instante — Ter um pai?

Meu estômago embrulhou e minha cabeça latejou. Como é ter um pai, Harry? Faz tanto tempo que você não sabe como é ter essa sensação.

— Não sei como explicar, sinceramente. Meu pai não era o melhor pai de todos, ele vivia ocupado por conta do trabalho e chegava muito tarde da noite. Mas, bem, ele não era ruim. Nunca deixou faltar nada para a nossa família e sempre me ajudava nas lições de casa, quando podia. — Relembrar dessas coisas era como ganhar um soco no estômago, segundo por segundo. — Isso dói bastante.

— Toc, toc, crianças. — Ouvimos um bater na porta e logo nos viramos para ver. — Posso entrar? — Era Robin.

— A porta está aberta, não precisa bater e nem perguntar se pode entrar quando ela está assim, já avisei várias vezes para você. — Molly me dá um beliscão sútil no braço após ele engolir em seco com meu comentário.

— O que o meu amigo mau educado aqui está querendo dizer, Robin, é que você pode entrar, sempre e com total certeza.

Ele deu um leve sorriso e aproximou-se de nós dois com uma bandeja de cookies em mãos, colocando-a na minha mesa de estudos.

— Anne pediu para trazer esses biscoitos, mas eu não quero incomodar vocês, então já vou indo, crianças. — Se retirou rapidamente do quarto, fechando a porta atrás de si.

Levantei e peguei a bandeja, trazendo-a para minha cama.

— Você acha que ele ouviu a gente conversando? — Minha amiga perguntou. Mordi a guloseima e dei de ombros. — Harry! Pare de agir igual um imbecil com ele! As pessoas tem sentimentos e podem se machucar com essas suas atitudes de criança mimada que não aceita ver a mãe ser feliz de novo.

— Molly, eu não estou ligando para o que ele acha de mim. Esse idiota não me engana, ele acha que vai substituir o meu pai dessa forma, sempre me tratando com amor, carinho e gentileza, trazendo coisas como se a minha mãe estivesse pedindo. Eu sei o que ele está tentando fazer, e não aprovo isso — disse, sentindo o sabor amanteigado em meu paladar.

— Será que ele não está agindo assim por sua causa? Desde o namoro dos dois você o trata como um monstro, agora que ele está morando aqui e irão se casar, você piorou. — Mordiscou o biscoito. — Só estou tentando abrir os seus olhos antes que seja tarde demais e ele desista, amigo.

— Agradeço o seu carinho por mim, mas não preciso de conselhos. De verdade, eu sei muito bem o que estou fazendo da minha vida, Molina.

Ela suspirou.

— Será que você sabe mesmo?

(...)

Após ela ir embora, comecei a pensar mais sobre o assunto.

Desde quando o meu pai morreu, minha mãe não era mais feliz. 

Gemma me perguntava todos os dias se ela estava bem e eu nunca sabia o que responder, pois o lindo sorriso em seu rosto havia morrido, Anne parecia ter falecido junto com ele. Lembro-me que um ano depois ouvimos mamãe chorar desesperadamente após receber uma carta do correio, provavelmente algo sobre os bens da empresa Styles. Ouvíamos ela soluçar atrás da porta e não podíamos fazer nada, já que ela havia trancado.

Até você se lembrar de mim // L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora