E hoje era o dia, o dia em que eu iria conversar com outro ser humano por algumas horas e iria gostar... Bom, era a intenção. Eu me olhava no espelho e nada parecia combinar, nada combinava comigo, o problema era eu, um eterno estorvo por não saber o que combina, sim, pode ser exagero, mas é real.
_Não... essa não, não vou mais, não me acho no espelho. Ela deve estar incrível com absolutamente qualquer coisa.
_Está dando a hora, é agora ou nunca. Espero que no mínimo não tenham espelhos lá.
Saio de casa afobada, suando frio, dobro a esquina e vejo um casal, não deixo de pensar nas discussões e dores de cabeça que um relacionamento deve ter, mas como eu poderia saber afinal, nunca tive nenhum, ou pelo menos nenhum que chegasse ao eu te amo e toda balela prometida de namoros, eu nunca me apaixonei, vendo por esse lado digo com certeza, eu nunca fui amada por ninguém.
A medida que me aproximo meu coração parece saltar pela boca. Antes de chegar digo a mim mesma que é apenas um encontro, nada de anéis, ou vestidos, por que afinal, eu mal a conhecia, mas vale lembrar sempre.
_ Oi, você está incrível! -Digo usando toda essência de verdade, por que nossa essa garota está incrível.
_Você também! –Notei uma oscilação na voz dela, tenho certeza que foi, ela está zombando de mim! Poxa Olivia tudo prometia para termos uma noite agradável e depois total apatia, por que afinal sempre acabava assim.
Nós sentamos perto de uma janela de onde dava para ver o céu, Olivia não parava de me olhar, até que ela resolveu falar.
_Eu gosto de fotografar, tiro umas fotos das plantas da casa da minha avó, sou muito apegada a ela, ela é um amor, e você?- Dizia rápido enquanto tomava uma Sprite com rodelas de limão.
_Bom, eu gosto muito de pintar telas, e fazer artesanato. - Ela encarava muito.
_Daqueles com argila e tal? - Perguntava com a boca cheia com uma coxinha que o garçom acabou de servir.
_Esses mesmos! - Resolvi arriscar e tomar um chá gelado, meu passado com eles não é de flor que se cheire.
E tudo ia maravilhosamente bem, até que...
_É verdade que você é bipolar? Como funciona essa troca de humor? Você toma alguma coisa? Ai caramba, eu tenho um primo que toma. - Ela acabou com toda a torre de tijolinhos que montamos nesses minutos.
_É, eu não costumo comentar muito sobre. -Eu só queria ir embora, e não ser tratada como diferente, isso sempre acontece quando abaixo a guarda, é melhor eu ir para casa, tomar sorvete e assistir a um filme sozinha, por que apesar de tudo eu sou minha melhor companhia.
E ela não parava de falar do primo, relacionando ele a mim, como foi que ela soube? Talvez o Arthur que é mais próximo a mim, ou a Ana, isso está me estressando tanto... aí então ela resolveu pegar na minha mão.
_ O que foi? - O fato de ela parecer confusa me irritava.
_Nada, eu só preciso ir. - Chorar embaixo de estrelas da sorte?
_ Foi algo que falei?- Claro!
_Por favor eu só quero ir embora.
_Tudo bem. - Ela desistiu de me manter ali e me deixou passar.
O açude já não me parecia tão calmo, sentei na calçada pra admirar as pobres estrelas. Terminei a noite chorando sob o céu e as estrelas exibidas por terem milhões de namorados, e eu só um encontro ruim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Te conheço a cada dia
RomanceEste romance retrata Kay que vive em Campina grande, Paraíba, cursa design na UFCG, ela é não-binária e bipolar e este diário contem seus relatos, onde se vê como as coisas realmente acontecem. Enquanto isso em outra parte dos relatos está sendo pre...