Capítulo 3

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Depois de ter secado minhas lágrimas, Pietra deu a ideia de andarmos um pouco pela livraria até o horário da palestra chegar. Ainda faltavam algumas horas.

Como duas ótimas leitoras em seu habitat natural, cada corredor que passávamos comentávamos sobre mil e um livros. Seja pra dar uma recomendação, falar que queríamos ler ou só expor julgamentos formados pela capa deles (quem nunca fez isso que atire a primeira pedra).

Estávamos na seção de importados quando ela perguntou:

- Olha, desculpa, mas eu sou muito fofoqueira. Você comentou que sua mãe só ficou com a pessoa que ela realmente ama depois que você se assumiu. Eu PRECISO saber dessa história.

- Na verdade é uma história incrível mesmo. Poderiam facilmente fazer um filme ou um livro sobre. - Comentei animada. - Minha mãe e minha dinda se conhecem desde que nasceram. Na verdade, elas brincam que foi até antes, já que a mãe das duas eram amigas e ficaram grávidas ao mesmo tempo. E, apesar de serem bem diferentes, as duas se tornaram melhores amigas.

"Só que a minha dinda sempre gostou da minha mãe, romanticamente falando, mas nunca disse nada por medo de estragar a amizade e por achar que minha mãe era hétero. Então as duas continuaram do mesmo jeito. Até que minha mãe engravidou de mim e a vida dela virou um caos, já que o cara a abandonou e minha vó a expulsou de casa. E foi a minha dinda que socorreu ela. As duas foram morar em um apartamento que, pelo que elas falam, era minúsculo e, sem perceber, montaram uma família.

"Nisso, minha mãe foi se apaixonando pela melhor amiga, mas também nunca arrumou coragem pra dizer nada. Foi só quando eu contei pra ela que eu sou bi que ela se abriu e me contou tudo. Óbvio que eu dei a maior força para as duas ficarem juntas e o dia que isso se tornou oficial foi um dos melhores da minha vida. Elas tão juntas a dois anos já, e ainda parecem duas adolescentes apaixonadas."

- Meu deus, que lindas. - Ela diz com lágrimas nos olhos. - Agora eu quero conhecer as duas.

- Faz assim, me passa seu número e eu te mando o endereço. Ai quando você quiser é só ir.

- Olha, que ótima desculpa pra conseguir o telefone de alguém. - Ela brinca e eu fica toda vermelha.

Por fim ela realmente me passa o seu contato.

Poucos minutos depois, decidimos ir para onde iria acontecer a mesa de conversas. Ainda faltava meia hora, mas eu queria ficar o mais perto possível dela.

Quando entramos na sala já havia algumas pessoas, mas conseguimos pegar um lugar legal. E como não tínhamos nada pra fazer, aproveitamos o tempo para seguir conversando.

O mais legal de estar com essa menina é que mesmo tendo conhecido ela hoje, sentia que podia falar sobre tudo com ela. Suas piadas sem graça já me fazem morrer de rir e um sorriso dela mexe comigo de uma forma que eu nem sei descrever. Aposto que um autor que eu amo diria que eu estou "festoxonada".

- Bom, o momento mais esperado do dia chegou. - A mulher que tinha se apresentado momentos antes como Ana, e aparentemente seria a mediadora da conversa começou a falar. - Não acho que ela precise de apresentação, mas como é a tradição, vamos lá. Autora de dois livros best-sellers, diversos contos, colaborada de novelas indicadas ao Emmy Internacional, roteirista e, como ela também ama nos surpreender com seus infinitos talentos, agora cantora também. Um dos maiores nomes da arte LGBTQIA+, negra e feminina no brasil e no mundo. E dizem as lendas que uma esposa super apaixonada. Com vocês: Lia Santos.

Naquele momento a sala explodiu em gritos de felicidade e aplausos.

Lia subiu no "palco" e era óbvio que aquele era o seu lugar. Estava vestida com seu terninho preto clássico, uma blusa social branca, um tênis da mesma cor e as tranças que ela tinha colocado alguns dias atrás estavam divididas no meio. Era claro que ela é a mulher mais linda do planeta.

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