4. Abraços quentinhos

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"Eu agradeço seu esforço mas não precisamos mais da sua mão de obra."

Dispensado...

Inutilidade...

Incapacitado...

Sem valor algum.

A mente de Xiao estava a turbilhões de pensamentos negativos. O seu rosto não esboçava nenhuma reação fora a face fria e sem vida diante ao seu antigo chefe. Acabava da ser dispensado de seu emprego, o seu único meio de ganhar dinheiro para pagar as suas contas de gente adulta, como ele deveria reagir?

Xiao se sentia magoado. De alguma forma, soube de primeira que isso havia o afetado, todavia, se não estava parecendo isso agora, logo mais tarde, iria desabar com certeza e não tinha noção se aguentaria a pressão.

Foram dois anos. Dois longos anos que Xiao se dedicava em acordar cedo, se arrumar com o seu terno mais elegante, fazer pesquisas de satisfação e estruturar futuros projetos, passar noites às vezes acordado para ser, simplesmente, trocado por uma máquina. Uma tecnologia que realizaria seu trabalho muito melhor e com eficiência.

Não chore. Apenas não chore aqui. Pensava alto.

Invés de Xiao dizer algo, ou apertar a mão do seu antigo chefe, se despedindo, o Yaksha se levantou e sem qualquer devaneio se retirou da sala. Não fez questão de se despedir de qualquer colega. Apenas se esforçou para juntar seus pertences de sua mesa e armário e partiu, sem olhar para trás. Queria parecer forte. Mesmo desabando por dentro.

Trocado.

Trocado.

Por. Uma. Máquina.

Uma tecnologia inventada pelos humanos para tirar o trabalho dos humanos.

Xiao sentiu o seu choro se instalar na garganta, dificultando sua respiração.

Se ele ao menos tivesse concordado com Aether e ter ficado com ele no sofá assistindo The Walking Dead, nada disso teria acontecido. Tinha certeza. Talvez seu chefe o dispensasse por telefone, mas estaria tudo bem, Aether estaria no seu lado caso isso acontecesse. O garoto loiro iria beijá-lo na cabeça, fazer um cafuné e receberia um abraço — com uma certa dificuldade devido o jeito durão de Xiao. Até Paimon iria confortá-lo.

Só que Aether não estava alí. Não naquela hora. Somente a solidão lhe fizera companhia igual as outras vezes.

Sua mente viajou no tempo em que morava com seus pais. Lembrou de quando tinha apenas seis anos de idade e de como era feliz. A sua lembrança preferida é do tempo em que seu pai ainda o amava. Suas conversas favoritas eram sobre a futura carreira profissional que gostaria de seguir; médico — pediatria, para ser exato. Desde pequenino gostava de crianças e queria cuidar delas, e o seu querido pai, o apoiava. Até que um dia tudo mudou.

O relacionamento dos seus pais havia esfriado logo após de  nascer. Ainda continuavam juntos, mantendo a pose de casal perfeito, pois não queriam que fossem assunto do bairro e amavam demais Xiao para deixá-lo ser reconhecido pela "criança dos pais separados" ou "a causa do fim do amor dos pais." Seria péssimo. É totalmente péssimo. Xiao sofreria gratuitamente por um ato dos seus pais, essa idéia fazia os Yaksha mais velhos se enjoarem.

Amavam Xiao.

Amavam muito mesmo.

Só que de acordo com o tempo que Xiao ia crescendo, o amor de seus pais ia mudando e aos poucos o pequeno teatro que criaram como "a família perfeita" foi se transformando em brigas diárias, xingamentos, abusos psicológicos, agressão, sobrando até mesmo para a criança que juravam de pés juntos e dedinhos cruzados amar, tornando toda aquela situação um verdadeiro caos. Foi aí onde os avós maternos de Xiao entraram.

12 Motivos [XIAOETHER]Onde histórias criam vida. Descubra agora