A Confissão

152 8 0
                                    

— Elena, eu descobri a pouco tempo e não aguento mais guardar segredo sobre isso, mas por favor não deixe que Murilo e nem nossos filhos saibam disso

— Enza não me faça perder meu profissionalismo, diga logo qual o problema

— Eu estou doente Elena, eu tenho... Cancêr 

Fui em outra dimensão e voltei. Enza nunca aparentou estar doente, nunca mostrou fraquesa alguma e agora me vinha com uma revelação dessas.

— Quando descobriu isso e onde é esse cancêr? –  Olhei para as mãos de Enza que tremiam descontroladamente –  

— No pulmão, eu sempre fumei escondida e Murilo me viu uma vez e me fez prometer que nunca mais faria isso, mas eu já estava viciada e você sabe como é dificil parar

— Porque não procurou ajuda? 

— Talvez eu não quisesse, mas por favor não conte nada ao Murilo e em breve eu vou partir Elena, cuide das crianças também. –  Ela se levantou e saiu da sala –  

Depois do que Enza me disse no consultoria eu voltei pra casa meio perdida no mundo, errei até a chave do apartamento que eu conhecia muito bem, sou psicologa há anos e o que aconteceu hoje me impactou como nunca, as pessoas proximas são as que mais ferem. Assim que entrei em casa mamãe me ligou como fazia todos os dias.

— Oi mãe

— Oi filha, tudo bem? Vai na festa do Enzo?

— Estou bem sim e claro que vou é meu afilhado que esta aniversariando

— E o presente, já comprou? – Eu conseguia ouvir mamãe borriscando uma folha do outro lado da linha enquanto falava comigo –  

— Já mãe, aquele conjunto com os bonequinhos que ele me pediu, lembra?

 — Lembro filha, bela escolha. Agora vá se arrumar, beijos.

 — Beijo mamãe, te amo

Mamãe ainda mora na mesma casa em que eu cresci, ainda é a mesma mulher pontual e cuidadosa mesmo depois de anos e é mais feliz agora. Depois que me mudei pra outra cidade na época da faculdade mamãe conheceu um cara e estão juntos até hoje, eu gostava dele e de como ele conseguia fazer ela sorrir. Estudar psicologia era meu sonho e isso me moldou para a vida, eu via papai com mais frequencia e a magoa por ele acabou, meu pai era o advogado mais famoso e competente da cidade vizinha e eu tinha honra de ser Elena Cristina Delige, filha de Fernando Delige e também de ser Elena Cristina Silva filha de Caroline Silva a dona de casa. 

Assim que desliguei o telefone entrei no chuveiro e deixei que a agua morna levasse embora tudo de negativo que o dia me trouxe, mas ela não levou embora as palavras de Enza. Saí do banho e coloquei o vestido que tinha ganho do meu pai e uma rasteitinha –  Era festa de criança e Enzo iria me fazer correr por todo o salão –  

Quando cheguei ao local onde iria ocorrer a festa me deparei com o carro do Mateus estacionado, mas que diabos ele iria fazer ali? Não era amigo de Enza e muito menos do Murilo. O que ele estava fazendo aqui?

E se eu tivesse dito sim?Onde histórias criam vida. Descubra agora