26 de Abril de 1996

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O céu anunciava uma grande tempestade, o vento soprava provocando um frio que doiá os ossos, mas eu precisava ir a escola assim como todas as manhãs daquele abril de 1996. Desci as escadas com minha mochila nas costas, usava o habitual, meu jeans surrado, a blusa da escola e meu all star preto puido e como o frio lá fora ordenava levava nas mãos a blusa do meu moletom que ganhei de aniversario, um belo presente vindo da "nova esposa" do meu pai. Como sempre mamãe estava na cozinha, correndo de um lado pro outro enquanto fritava ovos e fazia meu chocolate quente - exigencia dos dias frios -Mamãe se dividia em 10 parar cuidar de mim e da casa e acreditava preencher a lacuna deixada por meu pai que eu só via no meu aniversario e datas comemorativas.

Minha mãe era uma mulher bela, mas as preocupações do trabalho tirava dela quele sorriso bonito que exibia dentes brancos e extremamente alinhados e o olhar sincero coroado pelos longos cílios.

- Ah! Já ia te acordar pensei que ainda estivesse dormindo. - disse mamãe erguendo pra mim a caneca com chocolate quente -

- Jamais decepcionaria você, me treinou para acordar a essa hora. - tomei um longo gole do chocolate que me aqueceu e afastou todos os temores do dia-

- Ele, seu pai chega de viagem hoje - disse mamãe mudado radicalmente de assunto, eu sabia como a presença de papai a encomodava, era como um espinho pra ela, doia e incomodava-

- Sim, ele me disse no ultimo e-mail e provavelmente virá me buscar para um tedioso dia de cinema e compras.

Eu gostava de papai, mas não gostava de saber da sua "vida dupla" dividir seu tempo entre eu e sua "nova esposa" e seus filhos gêmeos. Terminei meu chocolate e coloquei a caneca sobre a mesa, o relogio da cozinha marcava 6:55 e provavelmente Murilo estaria me esperando na calçada com seus gibis de super heroi e olhando se eu saía pela porta depois que lia um quadrinho-

- Preciso ir - disse enquanto abracei mamãe e ela beijou minha testa como sempre fazia, encima do sinal que herdei do meu pai.

Como eu havia dito, lá estava Murilo com um gibi novo e lendo um quadrinho antes de olhar para porta e me avistar.

- Olá cachinhos-não-dourados. -sorriu enquanto segurava minha mochila e eu vestia minha aconchegante blusa-

Murilo sempre me esperava na calçada desde que entramos na escola, ele sempre foi meu vizinho, amigo e confidente e vivemos tudo praticamente um junto ao outro.

E se eu tivesse dito sim?Onde histórias criam vida. Descubra agora