Qual o sentido da vida?

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A tia me obrigava ir a igreja todo domingo dizendo que Deus tinha algo para mim e que meu coração precisava de conforto. Nunca fui alguém religioso, mas quando perdi a pessoa que mais amava no mundo, comecei a entender porque existem tantos adeptos a religiões.

O ser humano não é completo. Temos mais medo da morte do que da vida, por isso existem tantas teorias e tantas crenças sobre o que acontece com a alma ou o subconsciente após a morte. Não acredito em nenhuma delas, mas queria acreditar que minha mãe estava me vendo de algum lugar, pois só assim eu teria algum motivo para continuar.

Queria acreditar que não era o fim dela, que se tivesse dormido em casa naquela noite, nada teria acontecido.

Os professores me deram uma semana de luto, como se depois dos sete dias eu estivesse bem e disposto e fazer tudo o que me era mandado, simples assim.

Deletei os E-mails de mensagens genéricas dos professores anexadas aos slides e abri uma aba no YouTube com sons de chuva para poder dormir.

Há quem a acredite que bebês têm a capacidade de nadar perfeitamente, ainda que não saibam andar, falar, correr ou expressar-se verbalmente. Eles poderiam fazer isso pois dentro da barriga da mãe, ficam imersos em um líquido amniótico, fazendo movimentos que se assemelham a braçadas de natação. Isso é uma grande lorota, claro, mas se você imaginar um bebê recém-nascido, ele sempre parece que está "nadando" no ar. Ele demora a se acostumar aqui fora, porque dentro da barriga é mais quentinho.

Bebês também demoram aprender a beber leite na mamadeira ou em qualquer outro recipiente, porque no peito é melhor. Bebês têm uma tendência a pedir colo a andar com as próprias pernas, porque o calor materno é reconfortante.

É difícil se adaptar a um mundo sem ela. E se um bebê requer tempo para se desprender da mãe, mesmo sabendo que ela ainda estará lá, é mais do que justo que eu precise de um tempo para a aprender a viver sem ela, porque foi algo inesperado. Ninguém espera receber a ligação de um policial dizendo que a sua mãe está morta.

***

O toque do meu primo me acordou às pressas, como se algo urgente fosse acontecer.

— Você está atrasado. Ou não vai hoje?

O plano era não ir, Beomgyu, mas já que você me acordou, agora eu iria.

Peguei o moletom que estava em cima da cadeira e me dirigi a cozinha, retirando uma banana do cacho e saindo apressadamente, com medo de perder o ônibus.

As pessoas no campus me olhavam com pena e já estava de saco cheio disso. Fiz algumas anotações na primeira aula e dormi na próxima. A cada hora que permanecia acordado, um pensamento intruso surgia. Acho que é assim que os gênios enlouquecem.

Não que eu seja o filho de Einstein ou algo do tipo, mas sempre fui curioso. Uma mente curiosa é como um livro em branco, prestes a ser colorido, mas quanto mais você descobre, mais quer descobrir. E quanto mais sabe, mais essas informações rodeiam sua mente, preenchendo lacunas e procurando respostas. Agora eu me perguntava qual era o sentido da vida.

Saí daquele transe com a barriga pedindo comida. Caminhei até o refeitório e acompanhei os demais, pegando o almoço e me sentando à mesinha. Sempre que virava a cabeça para a esquerda, um garoto de cabelos castanhos, um pouco grandinhos me encarava. Já havia alguns meses, eu acho. Nunca tive oportunidade de falar com ele, porque pelas roupas que usava, deveria fazer odontologia. Eu não tenho nada a ver com isso, na verdade, nunca nem nos encontramos no corredor. A única oportunidade que temos de nos ver é aqui, mas ele nunca falou comigo.

Sempre notei seu sorriso frio, mas naquele dia, ele parecia contente. Me deu um sorriso antes de continuar comendo até que um colega se aproxima e o tira dali. Ele costumava andar em grupo e percebi que deixou algo em cima da mesa

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