Meu porto seguro e meu tormento

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Come to me now
Don't let me go
Stay by my side

Don't let me go
Stay with me still
I've missed you so

When I was young I thought the world of you
I was dumb to let you drift away
And though I guess it had to come to an end
No one else could have the love we shared
(Don't let me go ㅡ Cigarettes After Sex)

O sentimento de despedida estava o matando, consumindo cada parte dele de dentro para fora. JungKook se odiava, e tinha uma fúria mortal pela solidão que o perseguia vida após vida, como se fosse parte de sua essência.

Ele estava quase expert em prever quando o acidente ocorreria, pois sempre que estava próximo, sentia uma dor maligna no coração, como se ela fosse rasgar-lhe o peito. JungKook ficava mais infeliz e amargo, e se afastava de todos, sobretudo de Taehyung.

Podia passar por tudo, até mesmo podia aguentar a mágoa que o inundava, mas não suportava a ideia de reviver o acidente de Taehyung. Era o único momento que evitava firmemente em todas as suas vidas.

Não se importava com o quanto os deuses ficavam furiosos, ele não abria mão de ser um covarde quando a hora fatal chegava.

ㅡ Você não pode se culpar pelas escolhas dos outros, JungKook, não pode, isso está te destruindo ㅡ Lembrava de ouvir SeokJin dizer isso antes de tudo começar. Sentia tanto a falta dele. Na verdade, sentia tanto a falta de todos o tempo todo.

Jungkook andava pela rua, numa madrugada gélida com clima pesado. Sequer tinham carros passando por ali. Entrou numa loja de conveniência e não demorou a pegar o que queria e ir embora.

Enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta de couro e encolheu os ombros, um frio tenebroso tomando conta de si. Seus lábios, gelados, o faziam pensar se não teria sido melhor ter comprado algo quente ao invés de pirulitos de cereja e cigarros.

Ergueu o olhar e o viu. Do outro lado da rua estava Kim Taehyung, e JungKook sentiu um nó se formar em sua garganta.

Taehyung estava vestido exatamente como na primeira vida. A camisa branca, uma jaqueta que pegou de JungKook há uma semana, uma calça preta e coturnos.

Taehyung não o viu, sua mente parecia longe. Ele estava tão distante quanto na primeira vez, preso em sua própria essência. JungKook sentiu que seu coração estava se despedaçando e ficando mais pesado em seu peito.

JungKook quis correr até Taehyung e abraçá-lo como se não soubesse o destino dele. Desejou voltar no tempo mais do que desejava que cigarros fossem capazes de matá-lo. Queria ser egoísta e levar Taehyung para seu apartamento, mantê-lo seguro, mas não podia, não era certo. Sentiu-se abandonado e desesperado.

Respirou fundo e encostou na parede ao lado da loja de conveniência, perto de um beco tão escuro quanto o abismo que era a mente de JungKook naquele momento.

Ele abriu o pirulito de cereja e franziu o cenho ao ver um papel caindo da embalagem. Pegou-o do chão, logo após enfiar o pirulito na boca, e o leu.

"Não se esconda mais do passado que tanto odeia, JungKook, porque ele pode salvar você"

JungKook encarou as palavras durante algum tempo, e só percebeu que começou a chorar quando sua respiração se tornou complicada. Ele mordeu o lábio até que doesse. Pensou que merecia sentir algum tipo de dor incômoda, já que não podia salvar Taehyung do sofrimento.

Secou o rosto e foi em direção a sua picape laranja estacionada, deixando Taehyung sozinho mais uma vez. Era o que ele fazia de melhor, deixá-lo sozinho, em pedaços.

ㅡ Eu não quero ter que suportar te ver amanhã e saber que não vai se lembrar de mim. Saber que é outro, em outra realidade, e que os dias que passamos juntos sequer aconteceram pra você ㅡ dizia baixinho, enquanto apertava o volante com força entre os dedos ㅡ Cem vezes, Taehyung, eu venho fazendo isso há quase cem vidas diferentes, e em nenhuma delas você terminou ao meu lado.

JungKook encostou a testa no volante e apertou os olhos, com força. Sentia-se quase incapaz de falar, pois o peso em sua garganta doía como o inferno. Tentou parar de chorar e secar o rosto, mas quando começava a se acalmar, pensava em uma memória gostosa com Taehyung e tornava a molhar as bochechas.

ㅡ Eu queria poder salvar você. Queria que você não fosse embora ㅡ murmurou, a solidão enchendo seu peito. Balançou a cabeça e sentiu uma dose de raiva corroendo-o.

Por que tinha que ser desse jeito?

Por que os deuses tinham que ser tão cruéis?

Por que ele tinha que ser a causa do martírio do seu próprio porto seguro? Por que tinha que vê-lo morrer?

O que significava o bilhete no pirulito?

Jungkook acendeu um cigarro e levou aos lábios depois que seu pirulito de cereja chegou no chiclete sem gosto. Ligou sua picape e passou direto pela rua que Taehyung estava, sem olhar para ele. Aumentou o som e tentou agir como se nada fosse acontecer, como se não soubesse que amanhã acordaria em um lugar diferente, mas com as mesmas pessoas.

Como se acreditasse que seu porto seguro era também seu tormento.

Tudo sempre volta para você • [taekook]Onde histórias criam vida. Descubra agora