É a última noite de JungKook antes de mais um acidente. Ele está sozinho, deitado na parte traseira da picape antiga laranja, tentando entender porque tudo sempre volta para Kim Taehyung. Seus olhos observam as estrelas, mas é impossível sua mente estar mais longe que elas. Ele se pergunta constantemente se um dia conseguirá salvar Taehyung, mesmo sabendo que a resposta é um “não” em um tom de voz frio e sem emoção.
Ele pensa como será seu reencontro desta vez, e então se lembra da primeira vez que o viu, antes da maldição. Taehyung estava na praia, fazendo vasos de cerâmica enquanto alguns de seus amigos dançavam e outros se arrumavam para surfar. JungKook era novo na cidade, e logo chamou atenção quando colocou os pés na areia usando sua típica jaqueta preta de couro em um calor de quase trinta e quatro graus.
Hoseok, com sua pele dourada e o sorriso adorável, chamou-o para se juntar aos amigos, e o que era para ser um verão monótono se transformou em vários e vários dias ao lado de argilas, pulseiras de miçanga e água salgada. Hoseok tentou ensinar JungKook a surfar, um trabalho que exigiu duas semanas de muito mar. Quando conseguiu se manter de pé na prancha em uma onda pela primeira vez, JungKook percebeu que os olhos azuis de Taehyung estavam sempre voltando para ele. Não demorou a chamá-lo para sair, e esse verão é sua memória favorita até hoje ㅡ mesmo que só ele se lembre.
JungKook respira fundo e torna a chorar, ele sabe o quanto está exausto. Ele funga, seca as lágrimas, torna a chorar mais uma vez e só para quando decide dirigir de volta para o seu apartamento.
Ele tenta se manter cem por cento atento à estrada, mas tudo parece complicado no mês de novembro ㅡ sobretudo nesse dia específico. JungKook aumenta o som e seca o rosto. Desce os dois vidros da frente e respira fundo, sentindo o vento gelado em sua pele.
A voz no fundo de sua cabeça pondera a consequência de deixar que a picape bata com força em uma árvore. Isso acabará com ele? JungKook balançou a cabeça e apertou o volante. Sabe que é uma ideia burra, sobretudo porque é dezesseis de novembro.
Nada acontece a JungKook no dia dezesseis de novembro, exceto sofrer a perda de Taehyung.
JungKook estaciona em frente ao seu prédio, mas ele não desce da picape laranja. Do bolso ele tira outro pirulito de cereja e um isqueiro, um ele coloca na boca e o outro ele acende. JungKook encara a chama até não suportar mais o calor próximo demais do seu dedão.
Ele tira o pirulito da boca e olha seu reflexo no espelho do carro. Enxerga a si mesmo como um caos incalculável, como o desconhecido no fundo do oceano. Parece grande, mas ele sente que está encolhendo, o mar o aperta com correntes pesadas de ferro que o machucam até sangrar, enquanto seu corpo afunda mais e mais no abismo.
JungKook sai da picape. A letra de "Don't forget about me", night traveler, não sai da sua cabeça, e ele solta um longo suspiro por isso. Ele bate a lataria da picape e tranca, enfiando as chaves dentro do bolso de qualquer jeito.
Don't forget about me
I say: Don't forget about me
Don't wanna lose the thing I love the most, I'm right here
So darling, don't you forget about meJungKook se sente tonto e amargurado. Ele fica parado, estático, e encara a madeira branca da porta de seu apartamento. Sua testa a toca, e ele começa a chorar como não se permitia a muito tempo. Não sabe porque está tão emotivo desta vez, ele geralmente não sente nada além do vazio.
Após soluços e minutos de lágrimas que têm uma mistura de angústia, luto e fúria ㅡ mais por si mesmo do que por qualquer outra coisa ㅡ, JungKook decide destrancar a porta e entrar no apartamento.
O lugar está um caos, mas comparado à mente de JungKook, até que está bem organizado. Ele adormece no sofá antes que pense em comer alguma coisa, e sonha com uma vida em que possa amar Kim Taehyung.
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Tudo sempre volta para você • [taekook]
FanfictionVocê é como um príncipe perfeito vivendo em um mar azul que eu destruí e transformei em caos. Desde aquele acidente, eu me culpava. Desde que fui amaldiçoado pelos deuses a viver várias vidas que terminam em sua morte, eu me culpava. Mas acontece qu...