Capítulo 1: Tudo tem um começo.

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Seher...

Eu enfim me sentia realizada (ou pelo menos quase, se não me sentisse incompleta pela falta que sentia da minha irmã), a pouco mais de 2 anos eu havia me formado em gastronomia, resultado de muita dedicação. Muitas portas se abriram para mim desde então, recebi várias propostas irrecusáveis de emprego e não poderia me sentir mais feliz, porém optei por recusar todas elas. Desde o dia que minha irmã foi embora de casa, somos só nós dois, meu pai e eu. Para seguir minha carreira eu teria que abdicar de minha família e isso estava fora de questão, jamais deixaria meu pai sozinho, éramos apenas nós dois, um pelo outro. Há 6 meses entrei em uma parceria que vem sendo um sucesso, graças ao meu amigo de infância, Selim. Ele cresceu comigo e é como se fosse um irmão, ele era proprietário de um modesto restaurante no bairro onde morávamos, mas não estava conseguindo administrar sozinho o negócio, o restaurante necessitava passar por algumas reformas e uns ajustes. Eu precisava trabalhar para manter as despesas de casa e ele precisava de alguém compete para ajudar a organizar e pôr em ordem o restaurante. Tudo estava sendo muito bem encaminhado, estamos comemorando nosso primeiro mês de funcionamento, depois de trabalhar duro durante 5 meses entre reformas e contratação de funcionários, aos poucos nós decolávamos cada vez mais, nosso restaurante já tinha sua clientela fixa e a cada novo dia conquistávamos um pouco mais de Istambul.

Eu parecia viver um sonho e de uma hora para outra entrei em um pesadelo... Após mais uma noite de sucesso no restaurante, fui para casa, Selim fazia questão de me deixar em casa depois do trabalho, pois morávamos perto e meu pai não gostava de me ver chegar tão tarde em casa, apesar de já ter 25 anos. Ele tinha muito cuidado e zelo por mim, pois dizia que não falharia comigo como falhou com minha irmã. Assim que chegamos em casa, fizemos questão de ir falar com meu pai e contar sobre o sucesso do restaurante no primeiro mês, mas estranhei o fato da casa estar aparentemente vazia e escura. Para minha infelicidade ao entrar em casa encontrei meu pai caído próximo da escada, foi como se o chão tivesse sumido debaixo dos meus pés, meu mundo se acabava diante dos meus olhos...

- Pai?! Papai?! Abra seus olhos! Pai, fale comigo! Selim chame a ambulância...

Eu não conseguia respirar e a cada batida do meu coração, eu sentia uma adaga perfurando meu corpo, o medo de perder meu pai me consumia e eu não sabia e nem conseguia pensar em mais nada, era como se eu estivesse no automático, ouvia e via vozes e vultos ao meu redor, pessoas estranhas entrando em casa, Selim me ajudava a levantar, liberando espaço para que meu pai fosse atendido e levado ao hospital o mais rápido possível. Quando dei por mim, estávamos no hospital e sem notícias nenhuma sobre seu estado de saúde, minutos pareciam horas e era como se o tempo não passasse e a agonia tomava conta do meu corpo, quando estava prestes a sucumbir ao desespero, finalmente o médico passa pela porta:

M - Quem são os familiares do Sr Yusuf Kerimoglu?

S - Sou eu! Como ele está Doutor? Qual sua condição?

Eu respondi aflita e cheia de medo, se algo acontecesse com meu pai eu não suportaria, após um breve silêncio que mais pareceu uma eternidade ele respondeu:

M - Seu pai teve um ataque cardíaco o que possivelmente ocasionou uma queda, os exames de imagem mostraram que pelo impacto causado em sua cabeça ele teve complicações cerebrais, fizemos o possível para estabilizá-lo, agora precisamos ver como ele vai reagir nas primeiras 24h, ele está sendo conduzido para a UTI. Sinto informá-la que deve estar preparada para tudo...

Aquelas palavras fizeram meus ouvidos sangrarem, minha boca estava seca, minha visão desfocada e minha respiração cada vez mais pesada, eu estava perdendo meu pai aos poucos e sentia que estava pronta pra ir no lugar dele, pois não suportaria perder mais um dos meus entes queridos, eu precisava vê-lo, tocá-lo, fazer ele ouvir que eu precisava dele, que eu estava esperando por ele e que não tinha outra forma, ele sairia dali comigo, ao meu lado, eu só sairia de lá com meu pai, só entraria naquela casa novamente junto dele. Antes que o médico saísse, eu disse:

💘 A HISTÓRIA DE UM LEGADO 🏹Onde histórias criam vida. Descubra agora