6 - O que falta

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- Rafa? - Flávio chamou pela segunda vez. - Rafa! - exclamou mais impaciente. 

Rafaela estava distraída, brincando com sua taça de vinho sobre a mesa e com o olhar perdido enquanto sua mente vagava para longe. Assim que Flávio conseguiu a atenção da namorada, a mineira o olhou como se nada tivesse acontecido. 

- Falou alguma coisa? - perguntou ainda avoada. 

- Eu estava contando como foi no escritório hoje, mas eu acho que outra mesa estava mais interessante, né - respondeu o homem, mas apesar do sorriso brincalhão, havia uma pontada de mágoa em sua voz. 

- Desculpa, eu... - Rafa suspirou e se ajeitou na cadeira. - Desculpa...

O casal estava jantando em um dos restaurante preferidos de Rafa. Apesar de Flávio ser um cozinheiro muito bom, ele fez questão de levar a mineira para jantar fora aquela noite. Ele havia buscado Rafa em casa e estava impecável, mas arrumado até que a própria namorada. 

Flávio era um cara legal, divertido, carinhoso, atencioso e muito querido pela família de Rafa, apesar da mineira não ter deixado Flávio conhecer muito de sua família. A mineira não gostava muito de apresentar seus namorados para todos, pois não duravam muito e sempre surgiam perguntas e comentários desnecessários quando acontecia o término já previsível. Mesmo assim, Flávio havia sido uma das pouquíssimas pessoas que Rafa apresentou a família, afinal já estavam juntos a mais de dois anos. 

- Você está bem, amor? - Flávio perguntou, preocupado, repousando sua mão sobre a da mineira. - Quer desabafar? Sei que essa situação com o seu pai não deve ser fácil...

- Eu fui ver ele hoje - Rafa contou.

- O quê? Porquê? - o homem perguntou em choque.

Rafa deu de ombros e voltou a fitar sua taça já quase vazia de vinho.

- Ele estava insistindo fazia semanas - Rafa contou, sem se aprofundar muito.

Flávio estava aflito em ver a namorada tão perdida. Queria perguntar mais sobre, queria que a mineira desabafasse com ele. Queria apenas apoiar a namorada, mas sentia que estava invadindo a privacidade da morena e foi pensando nisso que bufou, frustrado. Eles namoravam a mais de dois anos e Rafa nunca conversava nada muito sentimental com Flávio. Nunca deixou ele "entrar" e saber o que estava acontecendo em seu coração ou em sua mente.

- Já terminou? - o homem perguntou, se referindo ao jantar.

Rafa apenas acenou confirmando e então Flávio chamou o garçom, pedindo a conta. Saíram do restaurante distantes e seguiram para o carro do homem, que parecia decidido em algo. Estava sério e pensativo, mas Rafa nem mesmo notou, perdida em sua própria mente. O trajeto até o apartamento da mineira foi feito em completo silêncio, nem mesmo o rádio tocava. Era tão opressor, que podia-se ouvir a respiração um do outro no carro.

Já chegando no apartamento, Flávio estacionou no meio fio, fazendo Rafa estranhar.

- Não vai ficar hoje? - Rafa perguntou.

- Não - respondeu, seco.

- Tá bem, até - a mineira se despediu, se aproximando para dar um beijo automático no rosto do namorado.

- Não quer nem saber o porquê? - o homem questionou com um sorriso incrédulo e magoado.

Rafa se admirou com o tom do homem, confusa pelos motivos daquele nervosismo todo.

- Sei lá, se quiser fica - a mineira respondeu, indiferente.

- Pra quê? Me diz! Pra que quer que eu fique? - voltou a perguntou, irritado. - A gente não conversa. Mal nos tocamos hoje, se não for por uma iniciativa minha. Você mal olha pra mim... - dizia o homem, magoado.

A Sombra de CopasOnde histórias criam vida. Descubra agora