Doce (WangXian)

Capítulo 1

             O caminho para casa foi sozinho e deprimente para Wuxian, seguiu por ruas e avenidas, ouvia todo tipo de comentário, mas não necessariamente ele dava importância para aquilo, em sua cabeça apenas a indiferença do maior que ressoava. 

"Eu sou tão ruim assim? Será se ele me acha estranho? Será por causa da minha roupa ou do meu cabelo?" Pensava em um milhão de hipóteses.

         Ao chegar ao apartamento que dividia com seu irmão mais novo já foi seguindo para o banheiro e se livrando de todas as roupas, após o banho ele mau conseguia ficar em pé, o sono o dominava, tal qual uma dor de cabeça que se instalava.

— Já estou vendo que não se alimentou, está tão branco quanto um papel. Uma hora você vai morrer idiota! Sua sorte é que eu trouxe comida. — Jiang Cheng reclamou enquanto colocava as sacolas sobre o balcão que dividia a sala e a cozinha.

        Os dois juntaram-se no sofá da sala e ligaram a TV em um programa de James Corden, simplesmente não tem como não amar aquele ser humano. Apesar das piadas e reclamações, o Jiang conseguia ver que o outro estava distante e parecia triste, odiava ter que falar coisas sentimentais, mas gostava menos ainda de ver Wei triste daquele jeito. Ele não sabia muito da realidade deste, pois estava em outra escola, então tudo que chegava a si era o sucesso do seu irmão, o resto ele entendia nas expressões e conversas com ele.

— Deixa eu adivinhar, o cara bonitão que é seu colega? — Questionou enquanto abaixava os hashis colocando-os alinhados à tigela.

— A-Cheng, eu sempre estou rodeado de pessoas, mas fui me apaixonar logo pelo único que me ignora. Hoje o Lan Zhan me olhou com tanta indiferença, aquele mesmo olhar que nossos pais me deram antes de me expulsar de casa. — Wuxian falou em um tom sôfrego.

         Aquele era um ponto delicado para eles, quando Wei tinha 14 anos passou a trabalhar meio período enquanto estudava e a um ano atrás seus pais descobriram que ele era gay e depois de muitas discussões acabaram expulsando o garoto de casa. Claro que Wuxian sofreu com aquilo e foi atrás de um lugar para morar conseguindo um apartamento pequeno, para não dizer minúsculo, mas era o que estava dentro das suas possibilidades. Ademais, além do trabalho ele passou a vender trabalhos para seus colegas, principalmente para Nie Huaisang que vivia a beira das recuperações. Talvez seja por isso que Lan Wangji o olhava torto, mas ele não entendia a situação de Wei. Quando Wen Ning encontrou Wei desmaiado, este soube que poderia ter um amigo para toda vida, o primeiro o arrastou para seu próprio apartamento e quase que Wen Qing surtou com o irmão por não ter levado o outro para um hospital. 

       Quando soube disso Jiang Cheng brigou com os pais e em uma noite saiu de casa indo atrás do irmão, claro que aquilo deu uma confusão com direito a polícia, pois Cheng tinha apenas 16 anos, mas quando JC esclareceu que era bissexual foi inclusive agredido. Quando isso chegou aos ouvidos de Jiang Yanli, ela veio da China até NY e brigou com os pais, depois ajudou os meninos a conseguir um apartamento melhor e mesmo a contragosto deles se dispôs a pagar o aluguel. Claro que Jiang Cheng buscou um serviço para juntar o dinheiro e a todo mês eles enviavam metade do valor do aluguel de volta para a irmã que sempre reclamava. Atualmente a empresa que Wei trabalhava fechou e ele perdeu sua renda, estava desesperado atrás de emprego além de estar triste, um combo da imperfeição.

— Você tinha que se apaixonar como você diz mesmo... por um bloco de gelo. Não fique mal, você vai ter alguém legal ainda. Vamos ao que importa, onde eu trabalho tem uma nova vaga, eu pedi meu chefe para te dar uma oportunidade. Então, não faça com que nós dois sejamos demitidos.

         Wei se jogou encima do irmão e ameaçou enchê-lo de beijos.

— Não enche! — O mais novo resmungou tentando desviar do outro.

— Obrigado A-Cheng, você é o melhor! — Wei falou abraçando forte o irmão.

— Sai! — Jiang mandou empurrando o outro na brincadeira.

— Eu amo você A-Cheng, obrigado por não me abandonar. — Wei declarou sincero.

        O que sempre se vestia de roupas roxas e pretas revirou os olhos em birra, mas sabia que sua vida eram seus irmãos e se não houvesse espaço para eles, então também não teria para si.

— Alguém tem que garantir que você não se mate. — Cheng falou dando um sorriso ligeiro.

      Eles eram sempre assim, mas eram mais unidos que nunca e se protegiam, fariam de tudo pela felicidade do outro. 

— A-Cheng? — Wei chamou depois de um tempo apenas vendo as imagens sem dar a devida atenção.

— Que é? — Indagou tendo o irmão encostado em si enquanto assistiam à TV.

— Dorme comigo hoje? — Wei pediu fazendo sua melhor carinha de cachorro que caiu da mudança.

— Tá, mas se você puxar meu cobertor eu te chuto da cama. Vamos logo! — Jiang Cheng ameaçou desligando a TV e se levantando.

          Os dois apagaram as luzes e partiram para o quarto, a manhã seguinte seria um dia cheio.