Capítulo I - Sou ambicioso, bem o sei...

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Debruçado sobre uma mesa de madeira maciça, Lan Jingyi se encontrava absorto na história de um novo livro.

Nada fazia além de ler a história daquele príncipe, pois nunca na vida conhecera alguém tão nobre quanto ele. Transcrevia em um pergaminho alguns versos - aqueles que o cativavam - a pessoa que escrevera o livro parecia ter muito a ensiná-lo. Como todo escritor tinha.

Por fim, aquilo que o chamara mais atenção até então:

"Não acredito que ele possa remediar com sua absolvição o mal que porventura eu houver praticado. Sou ambiciosa, bem o sei. Mas, isso não é pecado. Eu sei também, que és igual a mim. Jamais amara seu marido. Jamais fizeste algo que desejava fazer."

Depois pôs seu pincel sobre o repouso de jade, e seu corpo sobre a madeira de carvalho. Ele estava sim, orgulhoso por cair no sono sobre a mesa. Orgulhoso por estar cansado.

Horas depois outro discípulo adentrou a passos rápidos a biblioteca do Recanto das Nuvens.

Elevando sua voz de forma inapropriada ele dizia, "Jovem mestre Lan! Jovem mestre Lan! Levante-se! Preciso que levante-se!!"

Jingyi foi então acordado. Irritava-se com a urgência de tal, e com seus berros. "Com quem e onde pensa que está gritando?" Resmungou, como quem não precisa gritar para exercer autoridade "Quem permitiu que entrasse?"

O discípulo abaixou a cabeça, "Peço perdão por isso, solicitaram que eu viesse. Você precisa me acompanhar agora mesmo."

O homem não deu a ele tempo para perguntas. Pegando seu livro da escrivaninha, Jingyi o seguiu em silêncio, mas franzindo o cenho. Eles de apressaram pelo caminho até a enfermaria, onde Jingyi estranhou ver seu tio e avô ali dentro. Principalmente porque Lan Qiren estava desacordado na cama.

"A-Yi, chegue mais perto", Lan Xichen mantinha um rosto sério, falando em um tom baixo e gentil, em pé ao lado da cama. Os dedos se apertavam contra uma parte dos lençóis onde ele descontava sua preocupação e nervosismo, deixando os nós brancos.

"O que aconteceu?", Jingyi copiou a voz baixa de seu tio, embora a sua nunca conseguisse soar tão tranquila e gentil. Mesmo não sabendo ainda do que se tratava, estava preocupado, pois sabia que o velho estava constantemente se excedendo em seu trabalho! Pra que se dera ao trabalho de criar seu tio e seu pai tão rigidamente se não os deixava ajudá-lo?

"Ele sofreu um desvio de Qi. Por sorte o médico disse que tudo vai estar bem em algumas semanas", Lan Xichen analisava o semblante de seu solzinho com atenção, "Ele ficou furioso com Wei Wuxian novamente, ainda mais, então Wangji não poderia cuidar dele. Por isso chamei você."

"Quanto tempo quer que eu fique?", Jingyi já havia entendido o que estava acontecendo e porquê havia sido chamado ali. Conhecia seu tio ainda melhor que seu pai.

"Fique o máximo de tempo que puder aqui durante uma semana. Vou avisar seus professores. Lan Sizhui pode te trazer as anotações de cada aula. Não deixe que outras pessoas entrem, por favor."

"Certo! Eu não saio daqui!", disse ele esboçando um sorriso fino, porém, ainda radiante, que foi retribuído por Lan Xichen antes que ele deixasse o ambiente.

Como não gostaria de ser pego, Jingyi puxou a almofada no chão pra um pouco mais longe da cama do avô, só então abrindo seu livro e mergulhando novamente nas descrições intrigantes e sensações intensas de seu livro de romance. Não era que detestasse a realidade, ele conhecia seus privilégios. Mas não podia deter-se a pegar mais e mais um livro. Talvez, toda aquela doçura o houvesse comovido demais, ele suspeitava. Também pensava em sua idéia de amor como um tanto antiquada, porém não desistiria dela tão facilmente. Se ele se unisse em matrimônio com alguém, queria que fosse por amor apenas. Não se ligando muito a de onde esse amor surgira, mas sim quanto mais tempo estaria ali. Um sentimento que não se atasse ao brilho de uma única estrela, mas que se estendesse por toda uma constelação. Algo que durasse toda a sua vida e mais. Que difícil para um corta-mangas.

Beijo doce, remédio amargo. [LingYi]Onde histórias criam vida. Descubra agora