Capítulo XII - 2

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Novamente o silêncio se fez ouvir. Este silêncio, a ausência de palavras para uma pessoa tão comunicativa quanto Gunter era a demonstração do tamanho de seu pavor. O homem que não se calara nem por um minuto nos últimos dias agora havia perdido suas palavras.

- Você? Mas você não pode fazer isso. Por que vocês não tentam enfrentar essa coisa? Porque não contratam um membro da Guilda Dos Caçadores? - Os questionamentos de Janos causaram uma reação em Gunter, que meneou a cabeça negativamente.

- Já tentamos de tudo. - Disse, tristonho.
- Conseguimos arrecadar fundos para contratar alguém da Guilda Dos Caçadores. Mas ele falhou. Foi morto e descobrimos da pior maneira. A Criatura trouxe seu corpo e o expôs em nossa Vila. Nós ameaçou, se mais algum caçador fosse atrás dela, severas consequências seriam afligidos a nós. -

Janos percebeu que a situação era de fato complicada. O povoado inteiro era refém da criatura, o medo havia vencido.
O medo é um dos estados da mente mais antigos. Desde que a criação existe, ele já estava enraizado em todas as classes sociais. E como se vence o medo? Enfrentando-o, fortalecendo a mente, exercendo assim domínio sobre todos os sentidos. Algo que só funciona na teoria.

- Que horror. - Disse Janos, com olhos distantes -. Entendo o medo de vocês, porém, algo precisa ser feito.

-" Eu não deveria me envolver, este não é um problema meu, mas ele salvou minha vida, é o mínimo que posso fazer. Droga, odeio distrações." - Pensou Janos, após um breve silêncio.

- Eu irei ajudá-los, darei fim a esta Criatura Da Noite que os assombra. - Disse, após analisar seus conflitantes pensamentos.

O rosto de Gunter corou, mas sua expressão ainda era de temor. Meneou a cabeça lentamente em desaprovação, fitando Janos.
-Não pode fazer isto, irá jogar sua vida fora por nada. Devo aceitar meu destino e fazer com que meu sacrifício seja benéfico para todos da Vila. -

- Não, de forma alguma!- Janos bateu com impedi o punho direito sobre a mesa. - Não pode pensar desta maneira. O que irá mudar se você se entregar para criatura? Você será apenas mais um, depois virão outros, e mais outros e o ciclo nunca se encerrará. Não! Eu irei enfrentar a criatura, basta me dizer como encontrá-la. -

Lágrimas percorreram a extensão de seu rosto, chorava de tristeza e ao mesmo tempo de alegria. Alegria por uma breve sensação de alívio, por saber que alguém está disposto a arriscar tudo por ele. Tristeza por conhecer a criatura e saber que quase ninguém é capaz de lhe fazer frente.
-" Sonaj é um bom homem, não merece perder a vida para salvar um tolo como eu" -

- Fico muito agradecido Sonaj, muito mesmo. Espero que os Deuses possam recompensá-lo por tanta bondade. - Falou Gunter, secando as lágrimas dos olhos com a manga da blusa.

- Não quero nada dos Deuses, não quero nada da vida, não quero nada de nada. Encare isto como uma forma de pagar a dívida que tenho para com você. Saldarei o débito que tenho acabando com a criatura. - Concluiu friamente Janos, pensando nos caminhos que as vezes seu caráter lhe traçava.
- Precisarei de uma arma, perdi minha espada quando cai. -

- Quanto a este assunto , acredito que eu tenha algo para você. - Disse Gunter, se levantando e caminhando em direção ao seu quarto.
Abriu um velho baú, pelo seu estado deveria possuir décadas, talvez até um século. De lá retirou um estranho objeto comprido envolto em um velho pano de seda.
Retornou com o objeto segurado por ambas as mãos. Colocou o mesmo sobre a mesa. Janos observou, curioso.

- Problema resolvido! - Falou Gunter satisfeito. A tristeza parecia ter abandonado seu rosto, novamente possuía a feição amigável de sempre.

Retirando o pano velho de seda do objeto, os olhos de Janos brilharam como duas pérolas refletindo a luz do sol por entre as águas do mar.
Por baixo da seda estava uma espada impecável, uma lâmina muito bem trabalhada, feita de Aço Estelar, o raríssimo aço vindo das estrelas que caiam em Edda. Somente os mais hábeis artífices conseguiam trabalhar o material que possuía tamanha complexidade.

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