Capítulo 2 - insincera

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Eu o conheci. Vigiei por algumas semanas, velejando ao redor do aprendiz de herói, recebendo alguns olhares provocantes. Sero gostava de flertar, sabia fazer isso. Enviava piscadelas, ajeitava a postura mas nunca chegava perto. Parecia estar esperando uma confirmação pelo primeiro movimento.

E estava certa. Quando as aulas acabaram, um fim de semana comum, tramei um encontro e esbarrei no rapaz como se não fosse planejado.

" - Opa! Desculpa... eu não queria bater em você.

Meia verdade.

-Relaxa. Foi bom, queria conversar com você, Dúvida.

-Então sabe meu nome.

-Esse é seu nome?

-Poderia ser. - sorri, ele também."

A primeira vez que conversamos de fato resultou em uma saída para tomar sorvete. Onde, infelizmente, descobri que Sero era um cara interessante, divertido e intrigante. Até mesmo puxou a cadeira para me sentar, um gesto que trouxe estranhamento. Perguntei onde tinha aprendido a ser tão cavalheiresco e o ouvir cochichar que a mãe era fanática por romances.

Eu sou uma garota comum. Jovem, complexa e atormentada por alguns fantasmas e fardos. Filha mais velha de uma família que preferia jogar cartas e sair com os piores caras possíveis a observar suas crianças rodando pela casa, pela rua, por todo lugar que não devia estar. Mas sempre fui familiarizada com o teatro. O garoto servia aquele sorriso quadrado como um cafetão, mas tinha a bondade e maneiras de um príncipe. O tipo de cara que sabe partir um coração e geralmente, o tipo que gosta de fazer isso.

Sendo filha mais velha, fui a primeira de todas nós a conhecer a luxúria de homens podres, a conhecer outras crianças que não deviam viver onde estamos - estou me referindo às crianças da rua sete - e a usar as palavras a meu favor. A primeira a trabalhar, mesmo que para vilões procurados e aquela que zelou por suas vidas sem levantar um dedo para ajudar.

Porra, eu era só uma criança aprendendo tudo rápido demais, não era como se só minha força de vontade fosse capaz de envolvê-las numa bolha de proteção. Essa foi a primeira escolha burra e egoísta que eu fiz. Deixá-las vulneráveis e torcer pelo melhor como o governo fez com aquele pedaço de terra no fim da cidade.

Onde eu cresci.

E durante toda nossa boa conversa, nada que pudesse indicar onde aprendeu a distinguir um possível criminoso surgiu. A massa dos "bons heróis" conseguia sentir nosso cheiro a quilômetros; Fedendo a fardos e ódio. Achava que, depois de sair de casa, não tinha um perfume característico para carregar sem um lar para voltar. Mas lá estava Sero Hanta, fingindo não saber de algo.

O lugar mais próximo do conceito de lar na minha vida é um prédio lotado de escória. Assombrado, igualmente, por fantasmas e arrependimentos passados. Vilões, gangsters, mercenários, bandidos, pedófilos... Eles andam pelas ruas obscuras com posse, conhecendo cada pedaço, cada poça de chuva, cada bar e casa de putas. E melhor de tudo, as outras crianças que conheci.

Exatamente da mesma forma que heróis fazem, reconhecemos alguém.

Posso dizer apenas pelo andar mais desleixado que Sero, tão bem humorado e educado não vem do meu bairro. Mas não exala o padrão intrínseco dos alunos habituais da U.A. Ele se destaca, rondando corredores quando fica entediado, desviando dos outros. Rotina que facilitou nossos encontros, no início do terceiro horário o esbarrei de novo, recebida com um sorriso.

-Ei! É de propósito!

-Pode ser. Acho que é a forma mais eficaz de chamar sua atenção. - Rocei um ombro no outro, ele não se importava com o contato.

-Me esbarrar quando poderia só chamar meu nome? Acho que quer ficar perto de mim.

-Muito esperto...

É mesmo. Dotado de uma inteligência e esperteza divertida e admirável. Bastaram poucos dias para saber que, apesar de brincalhão, via meu sorriso ocultando uma intenção diferente de apenas o levar pro quarto. Só não podia imaginar ser algo tão terrível, e se deleitava achando divertido não conseguir descobrir. Virando os corredores, jogando papo fora, vistei o momento certo para confrontá-lo. Nos sentamos nas mesas do refeitório. Melhor, ele se sentou e antes que também o fizesse, me coloquei atrás.

- Dizem as más línguas... - serpenteei levemente as mãos sobre seus ombros largos - Que você é muito mais esperto do que costuma demonstrar. Sei disso pois enviou alguém com perguntas extremamente específicas um tempo atrás. Por que eu?

-Finalmente, está sendo honesta! Sabia que tinha algo preso na ponta da língua... Yuri?

Exclamou. Era óbvio que a moça insinuativa - eu - estava querendo algo. Peco por nunca ter sido boa em esconder essa parte. Por outro lado, meu nome nunca foi difícil de despistar.

-Seja direto, por favor. Sou sempre muito verdadeira. - corrigi, sem dizer exatamente que não era honesta.

-Claro, sinto muito. Como julgar uma dama dessa forma? Principalmente pelo olhar brilhante que me direciona olhando de baixo. - Me encarou de canto, divertido, adorando o jeito que o cercava predando e seduzindo. Apenas ri, fingindo ser um pouco mais boba do que realmente sou, praticando induzir a maldita ideia do flerte.

-Se me permite, Sero, a honestidade que tenho quando me exibo pra você é a mais concreta.

-Bom saber, Dúvida. Aliás, conseguiu dar a resposta que ele queria?

-Depende do que buscava. Eu não sei te dizer.

Não menti.

Bakugou buscava vingança, e tinha voltado no dia seguinte. E no seguinte, e no seguinte, e depois disso ainda.

A sereia não o havia matado. Mas não havia sido morta, eu saberia. Isso era... novo.

Mas não tinha terminado de o responder.

- Quem te contou que eu conhecia o paradeiro da sereia?

Seu sorriso murchou, pingando vestígios de confusão.

- Então você sabia? - a verdade apertou seus olhos tranquilos. - foi um palpite estúpido. Quer dizer, eu imaginava que com esse seu jeito tivesse alguma coisa esquisita, mas não que conhecesse essa sem teto. É um lugar afastado demais, e perigoso! O que andava fazendo ali?

Ri, desdenhosa.

- Você não acredita que ela seja uma sem teto, não é? - perguntei vendo-o se remexer desconfortado. - Bakugou está obcecado, sedento. Não dá pra carregar ódio de alguém que não tem nada.

- Mas... É o Bakugou!

- E é uma mercenária. Não faz sentido, Sero. Como eu encontraria uma sem teto? Especificamente aquela?- Fui rápida em repetir, talvez rude.

Suas sobrancelhas escuras se apertaram um pouco, antes de passar pela grande porta de sua classe. Não percebi quando começamos a andar em direção, só quando parou no batente, abaixando apenas o suficiente para chegar na minha altura e sussurrou.

-Gosto de observar as pessoas que me chamam a atenção. Você é diferente, de um jeito que eu não entendendo, e eu gosto.

Este foi o problema desde o princípio.

Gostar tanto de uma ideia errada.

Gostar de mim, gostar de alguém insincero, como chamava.

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⏰ Última atualização: Jun 17, 2023 ⏰

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Minha Dúvida ( Sero X OC )Onde histórias criam vida. Descubra agora