Jornada de Fikir

Capítulo 4 - Bemore

A viagem até Bemore na visão de Faulk havia sido tranquila, afinal não tinham sido atacados pelos lobos, ursos, leões da montanha ou corujas-urso da floresta, mas para o pobre Fikir, essa viagem estava sendo um inferno. Suas botas não haviam sido feitas para caminhar longas distâncias, e o cavalo robô não havia deixado Fikir sequer chegar perto sem que suas luzes entrassem em modo de defesa, ou ao menos era como Faulk o chamava, para Fikir parecia mais um modo "assassino".

Bemore não parecia ser uma cidade muito empolgante de se viver, afinal, se encontrava perto de uma mata densa onde animais ferozes e mortais viviam, os únicos que poderiam morar tão perto de um local assim eram loucos ou animais ainda mais ferozes,mas o que Fikir encontrou lá não parecia nem um pouco com animais ferozes, loucos? Talvez, mas aquela cidade cheia de alfaiates com certeza mudou tudo que ele imaginava.

— Faulk, uma perguntinha rápida... Porque esses alfaiates vivem tão perto dessa floresta? Não faria mais sentido eles morarem em uma cidade grande ou sei lá perto de algum centro comercial? — Fikir falou todas essas palavras como se soubesse o que elas significavam, mesmo que suas memórias ainda fossem turbulentas.

— Uai num é que 'ocê tá certo, cadique esse pessoar ia vir prum fim de mundo desse? Bom, meu caro Fikir, a resposta é simples: Materiais. Veja bem, em uma cidade você conseguiria peles, lãs e couros de qualidade inferior, e o transporte pode ser perigoso e longo, já aqui, apenas a qualidade mais alta é aceita. — Fikir havia desistido de tentar se concentrar no sotaque que ia e vinha, quase se acostumando com seu companheiro estranho.

Ao terminar de falar, Faulk apontou para trás na direção de uma carroça que a algum tempo vinha atrás dos dois, a distância ela não parecia muita coisa, puxada por um touro robô e com dois homens sentados no banco da frente, mas a surpresa era sua carga, um urso-coruja ainda vivo. A criatura estava acorrentada na parte de trás da carroça, ao que tudo indicava estava sedada, mas a visão de um ser que Faulk havia descrevido como uma criatura imbatível e que até os mais fortes temiam, estar ali deitado pacificamente, foi horrorizante para Fikir.

"Quem são essas pessoas?" pensou Fikir, e só agora percebia que os homens da carroça estavam armados até os dentes, rifles, pistolas, facas e espadas adornavam tanto os próprios caçadores quanto a carroça em si, e se isso não bastasse para fazer qualquer um tremer de medo, as cicatrizes nos rostos de ambos os homens faziam um trabalho impecável, Fikir jurava ter percebido que um deles não tinha mais o nariz.

Faulk não sabia poupar tempo e levou Fikir diretamente para o alfaiate que já havia sido pago adiantado pelo chefe misterioso, o lugar não era lá muito luxuoso mas pelo que haviam ouvido sobre a cidade, o que importava não era o prédio, mas a classificação dada pelo conselho dos alfaiates, e aquele era um dos top cinco do ranking da cidade, e as roupas que encontraram ali faziam jus a fama, ternos de três peças com coletes de lã à prova de facas, vestidos longos com compartimentos escondidos grandes o suficientes para guardar um lança-foguetes, as possibilidades eram infinitas e Fikir não sabia por onde começar.

Experimentar todas aquelas roupas foi um trabalho árduo, nenhum terno ficou bom o suficiente, nenhum vestido parecia prático o suficiente, então no final, a decisão infelizmente ficou na mão de Faulk, que escolhera coisas que o próprio considerou simples: uma camiseta branca comprida feita de algodão à prova de fogo, com um colete preto por cima que continha compartimentos secretos dentro dos bolsos secretos, uma ombreira de couro que conseguia carregar alguns fracos e itens pequenos, calça risca de giz que segundo o alfaiate era hidrofóbica seja lá o que isso quer dizer, e... um tênis, um tênis semi indestrutível, mas ainda assim era um tênis, mas de qualquer modo, as roupas de Fikir estavam prontas e assim a viagem dos dois para Akalens continuou, e assim como Bem havia avisado, tudo deu errado.