Nanquim

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"Jon é uma artista reclusa, a típica nerd que prefere viver em seus próprios devaneios e não encarar o mundo e suas verdades.

Durante uma noite na biblioteca da cidade, enquanto estudava anatomia de animais e desenhava criaturas fantásticas em seu caderno, ela foi surpreendida por uma garota que se aproximou de surpresa, após uma breve conversa, a garota parte, mas deixa um bilhete escondido entre as folhas de desenhos com uma mensagem misteriosa: Rua Olavo, 23, 23, 23.

Após desvendar o quebra-cabeças, Jon mergulha em um mundo de esquisitices, tendo seus sentimentos e emoções postos a prova diante de um horror inesperado e sobrenatural."

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"É agridoce pensar que o improvável ainda é possível!"

I.

Senti a textura de arranhões do tempo sobre o carvalho liso da estante, coberto por verniz e poeira. A primeira nota de deu tons de espetáculo para a luz fraca das lâmpadas que tremiam em um medo coletivo da história que pairava sobre essa velha construção. Os cheiros de papéis de outro tempo e de produtos de limpeza de segunda se misturavam como um coquetel vagabundo, mas entorpecente, tal como os de uma ou duas noites anteriores que prenunciaram os acordes punks que ainda zumbiam nos meus ouvidos.

Para um lado ou outro, sentia minhas pernas como que trocadas por patas bovinas e pela esperança de encontrar um fio condutor para fora . As estantes pareciam se afunilar na escuridão e, enquanto eu caminhava entre elas, as histórias que deveriam ser contadas pareciam carecer de vida, buscando em mim, com longas pinças invisíveis, um fragmento da minha excentricidade a cada movimento.

As prateleiras da biblioteca eram como poderosos colossos que suportavam inúmeros mundos sobre suas costas, espectadoras de aventuras famosas e outras já esquecidas. Edições clássicas em tecido surrado com tinta já apagada formavam extensas coleções que jamais seriam lidas, mas havia também jovens narrativas exaustas de se abrir e fechar. Eu ainda estava na segunda entrada de , passando os dedos sobre e , com flashbacks de um estranho sonho da noite anterior, sonho de poucas horas, perdida em minha realidade, abastecida pela ansiedade, um pouco de dor e fome. Parei por acaso em . Terror, como se não bastassem os dias. Tudo bem.

A longa mesa no corredor principal era iluminada por abajures de metal, tão bem organizados que poderiam dividir a mesa com espaços metódicos para cada indivíduo sentado ali. Os veios da madeira rústica se mesclavam com a resina, criando um deleite para os olhos distraídos ou apreciadores de mobílias, arte ou simplesmente a beleza dos detalhes. A cadeira não era tão confortável, mas o ambiente, sutilmente obscuro e rodeado por abóbodas e pilares, proporcionava uma dimensão nostálgica e convidativa. Era suficiente.

Descansei a pilha de livros sobre a mesa, sentindo uma dor chata no ombro. Não conferi o relógio, mas tinha certeza de que havia perdido horas apenas vagando por entre os corredores da biblioteca e navegando por músicas cafonas. Encarei os livros empilhados, estudos de anatomia de seres vivos e outros nem tão vivos assim. Quando abri meu caderno, dei de cara com uma meia poesia de outro dia qualquer, perdida entre os rabiscos tortos que insisto em chamar de arte.

"Quem vai me julgar?", pensei.

Avistar de longe uma pequena perfeição,
Caminha em meio ao campo turvo,
Histórias de histórias, não me canso de ouvir,
Tais ilusões mal cabem na minha boca,
Pensamentos perplexos e complexos,
E a necessidade de palavras para sentimentos.

Um mundo destes, ó perfeito, e eu o crio,
Enquanto meus pés sangram sobre espinhos,
As flores no horizonte final aprecio.

Não há frescor como felicidade de outrora,
Não distingo mais o meu mundo, não me importo,
Espero apenas que possa ouvir,
Sejam palavra ou berros, não me importo,
Vou destruir meu diafragma,
Palavra inúteis, aproveite o carpe diem,
Agora, me deixe,
Deixe morrer os sonhadores...

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⏰ Última atualização: Feb 11, 2022 ⏰

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