5. Reflexão

52 2 0
                                    

Yone passou a noite em busca de azakanas nas matas e vilas próximas, até o amanhecer. Toda a sua noite foi preenchida com a caça e as batalhas, o que lhe causou um certo desgaste já que mesmo ferido ele não tirou nem um minuto para descansar. Entretanto, quando o dia clareou e os raios de sol se estenderam sobre a selva, os demônios deram uma trégua e o guerreiro pôde fazer uma pausa. Andando pela terra úmida, Yone encontrou um pequeno lago de água cristalina logo após um córrego no meio da floresta.

Ele se aproxima da fonte de água indo até a margem, para na beirada do lago e se abaixa devagar. Olha para a palma da mão enfaixada com a atadura suja de sangue, e com a outra mão pega numa ponta da faixa e começa a desenrolar. Ele desenrola da palma da mão seguindo para cada dedo individualmente em sequência... A atadura é muito longa. Aquela era a mão que ele estava usando para estancar seu ferimento na noite passada, por isso ficou manchada de sangue. Ele vai removendo a faixa do punho expondo a cor de sua pele, que é clara como porcelana. Desenrola só até uma parte do antebraço para ter espaço suficiente para lavar a faixa, segura um pedaço dela com essa mesma mão e assim a mergulha na água. 

Yone lava um pedaço de sua faixa, submergindo a outra mão enfaixada no lago e esfrega uma na outra, soltando resíduos do tecido na água. O excesso de sujeira é tirado e o pano é limpo até a ponta, porém a atadura ainda fica num tom meio amarelado. Assim, ele emerge a faixa novamente amontoando-a na mão e a aperta para enxugar um pouco da água. Feito isso, ele enrola a atadura molhada de volta na mão para secar naturalmente.

A agitação na água do lago foi diminuindo gradualmente depois que não houveram mais gotas para cair. Com isso, o reflexo na água foi ficando mais definido aos poucos. Quando a água finalmente se acalmou, Yone pôde enxergar sua própria imagem com mais clareza. Ainda estava um pouco oscilante, mas o lago é como um espelho, que exibe seu reflexo na superfície cristalina. Ele olha para si mesmo, observando a máscara vermelha do azakana, seus olhos luminosos e sua cicatriz no lado esquerdo do rosto, que foi recebida em vida. Suas duas mechas longas de cabelo recaem na direção da água, e o negro dos fios próximo aos ombros parece realçar ainda mais sua pele sem cor. As faixas brancas que cobrem seus braços e abdômen também se destacam. Entretanto, sua palidez, a luz azul de seus olhos e principalmente a máscara demoníaca concedem à ele uma aparência intimidadora e misteriosa. 

Olhando para a própria face, Yone se lembra de quando encontrou um garoto atormentado por um azakana. Ele nunca se esqueceu do terror que aquele menino esboçava em seu rosto ao vê-lo pela primeira vez, era como se ele fosse o monstro, e não o azakana. "Não se aproxime!" — disse a criança em pânico. Essa frase já foi dita diversas vezes por várias pessoas diferentes, inclusive pela mulher que o ajudou recentemente, no primeiro momento em que o viu.

"O que eu sou?" — Yone se pergunta em pensamento, olhando para a máscara agarrada em seu rosto. Além de combater o mal, ele caça e sela outros azakanas na esperança de compreender a si mesmo, já que um demônio se uniu à sua alma por acidente. Será que a cada máscara capturada ele não se torna mais distante do que é ser humano? Sua verdadeira natureza é essa que reflete no lago cristalino? Essa face demoníaca?

De repente, a mente inquieta do samurai é invadida pela memória de sua própria voz, naquele acontecimento recente:

"Eu... Vou ficar bem." — disse Yone resistindo ao ferimento.

"Já vi pessoas morrerem por menos do que isso." — Riven afirmou.

— "Seria prudente você aceitar a minha ajuda."

"Você... Não tem medo de mim?" — ele perguntou com curiosidade.

"E por que eu deveria? Para mim... Você é só um homem com uma máscara." — disse a noxiana em doce tom.

Yone se sente bem ao se lembrar disso, e acaba sorrindo sutilmente em seu reflexo. Riven o descreveu de maneira tão simples, sem temor, e o tratou como alguém normal, ajudando-o no momento em que ele mais precisava. Parece que essa aparência obscura não o transformou em um monstro, sua humanidade ainda é visível para quem consegue enxergar além da máscara.

O samurai volta o olhar para a frente e se levanta do chão de cabeça erguida, motivado para continuar seu trabalho. Ele desembainha a espada de aço e se afasta do lago, seguindo seu caminho pela floresta, movido pelo sexto sentido.

- -

"Tem dias que me esqueço do que há por trás da máscara."

League of Legends - O Samurai CarmesimOnde histórias criam vida. Descubra agora