Unfair

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-Para de olhar pra mim- Adele estava jogada em uma poltrona de olhos fechados mas a sensação daqueles olhas a perscrutando e queimando nunca deixariam de soltar um alarme por seu corpo e mente.

O silêncio volta a prevalecer, ela sabe que ele provavelmente está encostado de braços cruzados no batente da porta do quarto vazio e escuro, o moicano vermelho espetado pra cima, a droga daquele cabelo que ela tinha ajudado a escolher, a desgraça daquele tom que só expressava o quão selvagem e descontrolado ele estava.

-Vai embora Falcão, eu não quero olhar pra você. - ela sente ódio de ele a ter encontrado daquele jeito, com a guarda baixa, essa frase a deixou quase como uma súplica, a voz rouca prenunciando as lágrimas prestes a transbordar.

-Por que não?

Ela se levanta como se a poltrona a tivesse expulsado de cima de si.

-Por que eu odeio você, por que é injusto eu ser incapaz de te olhar sem que meu coração entenda que precisa parar de funcionar. Por que você é um filho da puta arrombado que acabo comigo e todo mundo que gostava de você.

-Você gostava de mim?- os olhos dele estão cabisbaixo, como se tivessem a muito voltado a não acreditar nas palavras dela.

-Não Eli, eu te amava. E eu odeio não conseguir parar de me sentir assim, de continuar querendo apertar meus braços em volta de você quando vejo seus olhos assim. De odiar acordar todos os dias e manter os olhos fechados pra poder conseguir assistir por trás das minhas pálpebras como era acordar na sua cama com seu cheiro impregnado na minha pele junto com o do café fresco da sua mãe.

-Heidi...

-Você não tem permissão nem pra falar meu nome inteiro, menos ainda pra me chamar assim, esse previlégio era do garoto que tinha meu coração e ele não existe mais. - ela respira fundo e deixa todas as lágrimas saírem, em partes por que ela sabe que não consegue mais segurar e em outras por que sabe a dor que a assistir chorar vai causar nele- Mais ainda eu odeio quando você me olha altivo e me faz ter vontade de te lembrar o quando você gostava de poesia francesa. Ou quando você está desconfortável e esconde a cicatriz sem perceber e tudo que eu queria estar fazendo era deixar de escondê-la com a sua mão pra cobrir com a minha boca. Você não tem noção do quanto dói olhar seu pescoço sem o amuleto e nunca vai saber como é assistir você oferecer essa lua no seu peito pra outra.

Os soluços dela tomam conta do quarto por alguns segundos até ela conseguir levantar os olhos e vê-lo chorando também, não o Falcão chorando, o seu garoto chorando.

Heidi paralisa assistindo ele se aproximar e tocar seu rosto com as palmas das mãos. Ela não queria deixar mas não consegue se mover com toda a comoção dentro si que seu toque causa depois de tanto tempo.

Ele inclina o rosto sobre o dela e as lágrimas dos dois se misturam enquanto eles trocam o beijo mais doloroso de toda a história.

-Primeiro você me trai dando o que era meu pra Moon, e agora você trai ela assim.- ela suspira usando tudo que tem em si pra não puxa-lo pra perto de novo- Quantos ódios você pretende acumular na sua vida, amor?

Adelheid se desvencilha dele e vai embora pela janela do quarto mesmo, assim não teria que passar por ele e nem explicar pra ninguém por que seus olhos sangravam sem previsão alguma de quererem parar.

Você tem uma cara de quem vai foder a minha vida Onde histórias criam vida. Descubra agora