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– Em um ou dois dias eu devo chegar aí, obrigada por me avisar – Foi tudo o que disse antes de desligar o telefone.

No domingo mesmo Hanna conseguiu uma passagem pra Londres arrumando rapidamente uma mala com as poucas roupas que ainda estavam em seu apartamento, não conseguia pensar em nada além de Triz desacordada no hospital, torcia para que nada acontecesse até ela chegar. Aquela seriam as vinte horas mais longas de toda sua vida.

Não conseguiu comer durante o voo todo, dormir só as vezes, mas nunca por muito mais que meia hora, quando o avião pousou se sentia pior ainda do que quando acordou no dia anterior. Não teve muito tempo pra pensar, pegou o primeiro táxi que viu em direção ao apartamento que dividia com a irmã sem parar pra observar direito os detalhes que mudaram do local nos últimos meses apenas se apressando em tomar um banho e vestir a primeira roupa que viu em seu closet e pegar outro táxi até o hospital.

Segurou o choro durante todo o caminho, não conseguia parar de pensar no estado em que sua irmã estava. Torcia para que Triz já estivesse acordada, queria que ela a xingasse por ter vindo de tão longe por ela, mas a situação que ela encontrou foi bem diferente.

O médico que estava a observando lhe explicou que a mais velha havia quebrado o braço direito e fraturado uma costela, mas o que realmente era preocupante era o impacto no crânio da mais velha que aparentemente aconteceu quando seu carro foi atingido e pela força da batida sua cabeça atravessou o para-brisa.

Quando Hanna se encontrou sozinha no quarto com a irmã ela se permitiu chorar, Triz tinha o braço engessado e a cabeça enfaixada, sua expressão era qualquer coisa menos serena. As duas sempre se pareceram de uma forma meio singular, Beatriz havia puxado mais o lado europeu de seu pai enquanto a mais nova trazia consigo os traços fortes egípcios de sua mãe.

A morena se sentou na poltrona ao lado do leito envolvendo a mão se sua irmã com a sua na tentativa de mostrar a ela que ela estava ali, Hanna sempre estaria ali por Triz. Ela não saberia dizer se ficou horas ou minutos ali, sozinha, observando a mais velha em seu coma até ouvir o familiar som dos saltos que sua mãe usava contra o piso.

Clarice Arafa poderia ser definida como várias coisas ruins, porém, sua característica mais forte com toda certeza era a elegância. Hanna não se lembrava de ter visto sua mãe sem joias ou saltos durante toda sua vida, ate mesmo nos piores momentos como quando sua avó faleceu a mulher nunca se deixava abalar, então ela aparecer para visitar sua filha em coma como se estivesse indo comprar bolsas caras não surpreendia a mais nova.

– Vejo que cansou de brincar de ser adulta – A mais velha falou sem dirigir o olhar a filha mais nova.

Hanna respirou fundo, não era o momento para brigas. Seu pai entrou pela porta com dois copos de café da cafeteria em frente ao hospital entregando um a sua esposa, Henry era um senhor que, ao contrário da mulher ao seu lado, aparentava ser bem mais velho do que realmente era. A morena não se lembrava de uma época de sua vida em que o policial reformado aparentasse não estar exausto, Triz sempre a corrigia dizendo que durante a infância das duas ele costumava ser um pai presente e alegre mas algo em algum momento se quebrou e ele havia se tornado aquilo, basicamente uma casca oca que ficava atrás de Clarice todo o tempo.

– Se eu soubesse que você estaria aqui eu teria trago mais um Hanna.

– Tudo bem pai, não estou com fome.

O clima pareceu pesar mais com a presença dos dois mais velhos, ninguém falava nada e o som dos aparelhos ligados a Triz soavam ensurdecedores para Hanna que ainda tinha sua mão junta a da irmã mais velha desacordada. Seu pai parecia não ter coragem de se aproximar, encarando por tempo demais o curativo na testa de sua primogênita enquanto Clarice lia o que parecia ser o prontuário da mais velha, não que a arquiteta entendesse algo de medicina, ela só precisava de algo para fingir se importar.

My Boss • AFIOnde histórias criam vida. Descubra agora