P.O.V KARA
Abri meus olhos e dei de cara com o teto branco. Sentei-me na cama já rindo. Foi um sonho! Incrível, como um sonho poder ser real, pensei. Espera! Alguma coisa estava errada com a minha visão. As coisas pareciam borradas.
Olhei em volta. O lugar era familiar; as paredes, o teto, os móveis. As cortinas eram azul. Tinha uma TV pendurada perto do teto. À minha esquerda, uma cadeira — estofado azul e braços de aço inoxidável. O carpete era da mesma cor da cortina.
Identifiquei o motivo de não conseguir enxergar direito. Havia fumaça no quarto. Parecia que eu estava em um incêndio, porém não tinha cheiro. Não era fumaça; subitamente mudei de ideia. O acidente. Meus olhos foram afetados pelo acidente. Não desanimei. Se eu estava em pé era porque estava viva.
O mais importante, eu precisava achar Lena e contar que eu estava bem. Precisava dar fim ao seu sofrimento. Coloquei as pernas para fora de cama e fiquei em pé. Visualizei um espelho no canto do quarto, em cima de uma pia. Olhei para o meu reflexo mas não consegui enxergar nada. Quando fui me aproximar mais mais do espelho uma enfermeira entrou no quarto.
Ela nem olhou para mim, já logo correu em direção a cama. Eu me virei. Vi uma mulher, jovem, deitada sobre a cama, a boca aberta e a pele acinzentada. Ela estava coberta de ataduras, vários tubos plásticos conectados a ela.
A enfermeira correu para fora do quarto. Não consegui entender o que ela gritava.
Me aproximei da mulher e vi que ela provavelmente tinha morrido. Mas por que alguém estava na minha cama? Que tipo de hospital é esse que coloca dois pacientes na mesma cama?
Estranho!
Parei para analisar a mulher que estava dividindo a cama comigo. Seu rosto era igual ao meu. Isso é impossível! Pensei. Olhei para sua mão esquerda e vi que ela usava uma aliança igual a minha. O que estava acontecendo?
Tentei tirar o lençol que cobria o corpo da mulher, mas de algum modo eu perdi a capacidade do toque. Continuei tentando até ver meus dedos passando através do lençol. Retirei minha mão com urgência. Senti um frio percorrer por todo o meu corpo. Não, não, não! Aquilo não era eu, fiquei repetindo para mim mesmo. Como isso é possível sendo que eu estou aqui em pé? Viva? Meu corpo até mesmo dói. Eu posso sentir dor! Isso é prova positiva da vida.
Dois médicos correram para dentro quarto e eu recuei para que olhassem o corpo. Um deles começou a respirar na boca da mulher. O outro tinha uma injeção na mão. Eu o vi aplicar na carne da mulher. Uma enfermeira chegou correndo, trazendo o desfibrilador. Um dos médicos pressionou as extremidades de duas varetas grossas contra o peito nu da mulher e ela se mexeu bruscamente. Okay, eu não senti nada logo não há relação entre nós duas.
Os esforços foram inúteis. A mulher estava morta. Uma pena, eu pensei. Sua família ficaria abalada, o que me fez pensar em Lena e em Lori. Eu precisava encontrá-las para tranquilizá-las. Principalmente Lena. Eu sabia como ela estava apavorada. Minha pobre e doce Lena.
Sai do quarto e caminhei pelo corredor. A minha esquerda havia um banheiro. Dei uma olhada. Vi um banheiro, um interruptor de luz e um botão com uma lâmpada vermelha sobre ela, com a palavra escrita "Emergência" impressa abaixo da lâmpada.
Fui para o saguão e o reconheci. É claro! Tem um cartão em minha carteira que diz exatamente para onde eu devo ser levada em caso de acidente.
Okay, houve um acidente e eles me trouxeram para cá. Por que eu não estava na cama? Mas eu estivera na cama. Na mesma cama em que a mulher morta. A mulher que se parecia comigo... Devia haver alguma explicação para isso tudo, mas eu não conseguia descobrir. Não conseguia pensar com clareza. O que estava acontecendo?
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Amor Além da Vida
RomanceKara é casada com Lena. A felicidade das duas desaparece quando Kara sofre um acidente fatal. No além, Kara se empenha para ajudar seu grande amor. Lena, em desespero pela partida prematura de Kara, pretende dar fim à própria vida. "Não importa a di...