"(...) e quando se acha a pólvora perfeita para isso, esquece, o fogo multiplica e vira um incêndio. E eu estou queimando por ele."
(Escute Todo Mundo Vai Sofrer enquanto lê esse capítulo)
Eu subo as escadas da entrada da casa com um sorriso bobo no rosto.
Já saí com muitos garotos de programa, mas como o de hoje nunca tinha achado. Aquilo foi de outro mundo, um mundo no qual eu amei participar por algumas horas.
Duas caras, as palavras surgem de supetão na minha mente, eu me sinto assim. Duas vidas distintas que se convergem entre si, como um ponto de tração, de onde eu sempre parto, mas no final do dia eu sempre volto.
Respiro fundo e deixo toda a energia para fora de casa. Da porta para dentro sou o Gyeong. O Gey fica nos meus encontros particulares.
Minha família está reunida no centro da sala de estar tomando um chá de hibisco.
— Oi, meu filho, onde você estava?
Minha mãe se levanta e caminha até mim e me dá um abraço. Ignoro a pergunta para desconversar.
Minha família tem descendência coreana direta. Meu avô saiu da Coreia para tentar um negócio. Foi diferente da maioria que fica no próprio país para tentar a vida, ele conseguiu se firmar no Brasil, um país que era bem estranho, como ele mesmo dizia. Por ter uma cultura mais recatada, nunca tive coragem de contar minha verdadeira sexualidade para ninguém. Me abrir foi a única coisa que não consegui.
— Meu amor, você demorou tanto para nosso jantar.
Bárbara entrou na minha vida faz dois anos. E durante 24 meses eu enrolei o máximo que pude para não me casar com ela. Mas chegou um tempo que foi inevitável a situação, e numa quarta feira eu fiz o pedido no jardim de casa, uma coisa brega e sem graça.
— Eu fiquei preso no trânsito.
A desculpa mais esfarrapada que um homem poderia dar para seu paradeiro, mas o suficiente para agradá-los.
O jantar de noivado. Me esqueci completamente dessa merda. Quando se está com alguém interessante o mundo parece não existir, e esse jantar é a última coisa que eu queria na vida.
Termino meio diálogo com meu sogro, até minha mãe nos chamar.
Todos vamos para a mesa redonda no centro da sala de jantar que é usada somente para eventos especiais. Repleta de quadros e cristaleiras, com uma adega fluente na lateral da janela retangular.
É tão estranho a sensação de ter a família reunida, todos à sua volta, mas se sentir tão sozinho ao ponto de desejar sumir daquele espaço. Ter o sentimento que ninguém te entende, e pior, nunca tentarão te entender. É doloroso, porque é quase como se te silenciassem sem saber.
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Apenas Por Essa Noite (Hot Gay +18)
RomanceAndré é um garoto de programa que acaba de sair de um relacionamento com outro rapaz e está totalmente confuso. Geyong é um homem quase casado que esconde seu maior segredo da família conservadora, que contrata serviços sexuais de outros homens quas...