Meu apartamento era pequeno mas extremamente confortável. As paredes de cores frias, minha cozinha pequena e a sala decorada de uma forma simples dizia muito sobre a dedicação que eu tinha com aquele espaço. Naquela noite, analisei cada pedacinho e espaço em branco e pensei que talvez precisasse cuidar mais daquele lugar. Era o meu lar, afinal de contas.
O apartamento do Milles tinha mais traços meus por lá do que a minha própria casa, isso tudo porque passava muito mais tempo com ele e com Charles do que no meu apartamento. Milles sempre foi muito importante durante todo o processo que foi eu entender o quão infeliz eu estava no meu trabalho. Mesmo me dizendo o que fazer, ele era compreensível a ponto de passar madrugadas acordado comigo, me distraindo e me lembrando que eu ainda sabia quem eu era.
Sentada naquele sofá imaginei alguns quadros, talvez fotos e até um mural com notícias boas de jornal impresso para eu nunca esquecer que o mundo sabia sim ser um bom lugar. Comecei naquele momento, às 23h da noite desta quarta-feira, a mexer como eu podia. Peguei alguns jornais na recepção, algumas fotos no meu baú e decidi quais cores seriam pintadas nas paredes.
O meu álbum favorito da Taylor Swift tocava na televisão e eu me sentia viva como nunca. Dançava pela sala e sentia a energia daquele ambiente sendo completamente renovada. As páginas tinham notícias bonitas. Bebês nascendo no natal, gatinhos sendo salvos, famílias se reencontrando, crianças voltando a andar e bailarinos viajando o mundo levando sua arte. A minha favorita era a do cachorrinho motoqueiro que amava andar de moto com o dono, um velhinho aposentado cheio de tatuagens. A foto dos dois na moto era a coisa mais fofa do mundo.
Depois de horas, sites de compras abertos e objetos de decoração com códigos de rastreio no meu e-mail, me sentei no tapete macio e encarei o teto satisfeita. Eu amava minha vida e era sortuda demais pelo tanto de coisas boas que me aconteciam, até nos momentos confusos e pesados.
Sei que não conseguiria isso sem o Milles e a Lizzie.
Um jornal ao meu lado tinha uma crônica que me chamou atenção pelo título. Era o Error. O texto falava sobre decisões, futuros e coberturas de bolo especiais que só funcionam nas mãos de quem a gente ama. Todas as palavras ornavam de um jeito que me deixou fascinada. Organizei minha sala e respirei fundo antes de apagar as luzes, eu estava genuinamente satisfeita com o resultado. Enquanto tomava banho pensei no quanto a analogia do bolo funcionava pra minha vida atualmente. Eu realmente sentia que ninguém sabia fazer os bolos de cenoura como a minha mãe e o Milles dizia a mesma coisa sobre os meus bolos. Toda essa perspectiva e coragem para optar por fazer mesmo ciente de que não seria igual ao que eu idealizava me fez sorrir.
Eu seria uma boa comunicadora, eu saberia escrever e transcrever a essência do homem sensacional que o Sebas era. Sei que isso me levaria para um passo ainda maior da minha carreira e seria uma oportunidade única, perfeitamente escrito e no tempo que eu precisava. Pensei no quanto Milles foi sábio nas suas decisões e sempre teve cuidado com o tempo. Ele sabia mais do que eu mesma quando eu estava pronta. Lembrei de uma foto especial que estava guardada na minha gaveta ao lado da cama.
Enrolada em um roupão fofinho e com meus cabelos dentro de um turbante secando, sentei na cama e observei a foto com carinho, sorrindo. Era um natal aqui em casa, Milles me abraçava de lado, Lizzie estava rindo de olhos fechados encostada com a cabeça no meu ombro. Eu segurava Charles, o gato do Milles, no colo e o apertava contra o meu rosto. Esse foi um dia feliz, conseguia sentir o gosto daquele jantar delicioso que a mãe da Lizzie mandou pra gente e o cheiro do doce que eu fiz com muito amor para aqueles que eu amo. Levei a foto até a sala e encarei a parede. Colei ela no centro e encarei mais uns segundos.
Olhando as páginas dos jornais espalhadas e enquadradas na parede que antes era lisa, lembrei do escritor misterioso que conheci mais cedo no hospital. Já deitada na minha cama, abri o blog daquele que chamavam de Error. Como era possível alguém que sentia e expressava as coisas daquela forma ser chamado de Error? O que inspirou esse cara? Quantos anos ele tinha? Como era o seu rosto? A cada texto escrito com afeto uma pergunta surgia na minha cabeça. Enquanto lia, preenchia post-its na parede ao lado da cama, e foi apenas depois de 106 textos e muitas anotações que dormi.
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Mistake | writervich
RomanceHá histórias que não tem finais. Milles e Hannah confiam mais no outro do que em si mesmos. São leais, acreditam em seus objetivos e sempre estiveram ali pra lembrar de onde vieram e onde querem chegar. Mas as vezes o destino quer que as coisas aco...