track 1: red

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Flávia via o amor com várias aspectos de cores. Uma delas era preto esquecido, outras um azul profundo; mas o seu preferido eram aquelas relações vermelhas ardentes. Daquelas tipo de filme; beijos no meio da chuva, brigas no estacionamento, esconde-esconde na fila do supermercado, xingamentos no meio da madrugada e sentimentos confusos e intensos. Seu tipo de amor era esse, afinal era tudo o que conhecia.

Quando Flávia Santana escreveu seu álbum de estreia, totalmente despedaçada e com coração partido, jurou por um tempo em ficar solteira, mas ela era uma romântica: sabia que o destino lhe guardava algo especial.

Foi, na verdade, o destino que a trouxe no sofá naquela hora da noite, na qual devia estar jantando com Paula, mas a amiga teve que cancelar o plano de última hora. Alguma coisa a ver com um jogador... E foi naquele momento que ela decidiu fazer uma pipoca e olhar o que tinha na televisão. Enquanto navegava pelos canais pegou-se no programa chamado "Embalos de Sábado com Jandira". Uma coisa havia chamado sua atenção. Mais especificamente, alguém.

"Bom, para finalizar a entrevista, que foi ótima por sinal. Você é uma companhia agradavél." Jandira falava pro homem a sua esquerda. "Conte-nos mais sobre sua percepção da música atual. O que acha nos novos talentos que estão em ascensão?"

Guilherme Monteiro Bragança riu sem graça. Um sorriso muito bonito, Flávia pensara.

"Posso parecer muito antiquado ou chato, Jandira, mas vamos lembrar que é a minha opinião."

"Nossa! Será que temos uma opinião impopular?"

"Acho que sim... Sabe, da maneira que vejo o mundo atual, e o da música em si, é uma grande lástima. Cantar pop e rock ao mesmo tempo? Acho uma poluição sonora, me desculpe!" todas da plateia riram, até mesmo Jandira. Flávia olhava atenta. "Quer dizer, quem quer ouvir as tristezas de uma garota de vinte e tantos anos? As pessoas querem ouvir música de verdade. Essa é minha opinião: a música atual está perdida!"

"Uau, uma opinião bastante polêmica." Guilherme sorriu de lado. Flávia achou uma pena ele ser tão bonito, mas tão chato. "Mas me fala, isso foi uma indireta?"

"Qual parte?"

"A parte de uma tal menina de vinte e poucos anos de idade..."

"Se você levar pra esse lado..." ele deu de ombros.

"Será que está falando de uma pessoa que está fazendo muito sucesso ultimamente? Uma garota que veste roxo e canta pop com rock?" Jandira falou e Flávia estava boquiaberta.

Não.

"Bem, não é apenas o que eu acho, algumas pessoas devem concordar comigo. Agora a parte da indireta... Acho que podemos dizer que sim." Guilherme riu com desdém, enquanto Jandira parecia meio apreensiva, mas a plateia ria livremente.

Flávia desligou a televisão na hora que focaram no rosto de Guilherme. Ela estava enfurecida. Completamente enfurecida. Quem ele pensava que era pra falar aquelas coisas daquela maneira? Claro que ela conhecia Guilherme. O mito. A lenda do piano do país. Ele já ganhara vários prêmios pelo seu enorme talento como pianista e como produtor musical. Como produtor musical, ele só trabalhava com nomes grandes e do cenário erudita e internacional. O seu trabalho pela música é conhecido por muitas pessoas importantes e ele falar aquelas banalidades sobre ela em plena TV aberta a deixava irritada em níveis gigantescos. A verdade é que Flávia já estava cansada das pessoas duvidando da capacidade dela por sempre escrever músicas sobre seus sentimentos e seus relacionamentos. Principalmente, aquelas pessoas que se achavam serem intelectualmente superiores a outras por gostarem dos gêneros diferentes do que ela cantava. 

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